Falar de criptomoeda deveria ser falar sobre moeda, afinal, é a parte mais importante do assunto. No entanto, o que vemos são fãs de tecnologia discutindo qual a melhor moeda em termos tecnológicos e não em termos econômicos. Discutimos detalhes e deixamos de lado o principal.
Assim, a questão mais importante (e não discutida) é:
O que é o dinheiro e como ele deveria ser?
Como funciona o dinheiro atual? Quanto dinheiro já foi emitido? Quem emite? Como começou isso? Quais as qualidades e defeitos do sistema atual?
Sabemos mais ou menos o que é um dinheiro ruim, com inflação descontrolada, mas o que seria um bom dinheiro? É possível criar um dinheiro perfeito?
Antes mesmo de começar o Niobio Cash, essas questões já povoavam minha cabeça.
O economista austríaco Fernando Ulrich, talvez a principal referência em Bitcoin no Brasil, disse numa palestra que se tornou economista austríaco após ler um livro chamado “O que o governo fez com nosso dinheiro?” de Murray Rothbard.
E no livro se lê:
[…]O que nos leva, então, à verdade mais importante de toda essa nossa argumentação a respeito do dinheiro: o dinheiro é uma mercadoria. Aprender essa simples lição é uma das tarefas mais importantes do mundo. Com enorme frequência, as pessoas falam de dinheiro como se fosse algo muito acima ou muito abaixo dessa realidade. O dinheiro não é um objeto inútil que só se presta para trocas[…]
“O dinheiro não é um objeto inútil que só se presta para trocas” – Murray Rothbard
Concordo com Rothbard de que “Aprender essa simples lição [o que é o dinheiro] é uma das tarefas mais importantes do mundo”, mas discordo totalmente de que “O dinheiro não é um objeto inútil que só presta para trocas”.
A concordância é porque acredito que o mal entendimento do que é o dinheiro está na origem de toda má análise econômica, penso que o dinheiro é a chave para se entender de economia, é realmente a lição mais importante.
E a discordância é porque.. não é óbvio que o dinheiro é sim apenas um objeto inútil que só se presta para trocas?
Comecei a me interessar por economia tentando entender o mercado financeiro. Análise técnica, fundamentalista, etc. Como não estava entendendo bulufas, resolvi procurar um livro “zero” de economia e li o “Inquerito sobre a natureza e as causas da riqueza das nações” do Adam Smith, o que abriu minha mente, me tornando imediatamente um “liberal clássico”.
No livro é dito:
“Bens podem servir a muitos propósitos além de comprar dinheiro, mas o dinheiro não tem outro propósito além de comprar bens” – Adam Smith
Corretíssimo na minha opinião. Obviamente que aqui não estou tratando de “funções do dinheiro”, a saber: meio de troca, unidade de conta e reserva de valor. Mas sim da essência do que ele é e das implicações disso, conectada a uma valoração de ordem moral.
Para ser mais claro o que quero dizer, imagine por um instante que seja dado a você a impressora de dólar. Não uma falsificação, mas a impressora “real”, que emite notas “reais” (se é que existe isso). Para comprar uma coxinha, celular ou um transatlântico, basta você.. imprimir. Não é óbvio que você virou o “dono do mundo”? O senhor dos escravos? Que, enquanto as outras pessoas tem que trabalhar, produzir, você não precisa fazer nada para obter tudo que de melhor que esteja disponível no mercado? Bom, esse é exatamente o mundo em que vivemos, com a única diferença de que não é você o dono da impressora.
Portanto, ao contrário do que disse Rothbard, o dinheiro é sim inferior a mercadoria. Os austríacos estão errados.
Dinheiro não é riqueza, os bens são. Temos que entender como o dinheiro funciona, debater esse assunto, pra, quem sabe, criarmos um dinheiro melhor, justo.
“O preço a pagar pela tua não participação na política é seres governado por quem lhe é inferior” – Platão
Essa famosa frase sobre política também se aplica ao dinheiro. Se você não entende e, portanto, não escolhe o dinheiro que quer, será escravo daquele que comanda o dinheiro que você usa.
O Bitcoin, com seu estoque finito em 21 milhões de unidades, oito casas decimais, torrando energia (PoW) é o melhor dinheiro possível?
É pelo menos melhor que o dólar?
O único [que eu saiba] que se debruçou sobre esse assunto – do que é o dinheiro e como ele deveria ser – foi um sujeito chamado Silvio Gesell.
Gesell entendeu que a maior parte dos juros advém da injusta vantagem que o dinheiro tem sobre os bens, ou seja, enquanto os bens se deterioram com o tempo, o dinheiro é indestrutível. Assim, advogou pra que o dinheiro “se deteriorasse” também, para garantir que o dinheiro fosse usado inteiramente como um meio de troca e não como um meio de se obter mais dinheiro (usura).
Num próximo artigo escrevo um pouco mais sobre a ideia dele e do que eu consideraria um dinheiro perfeito. A ideia principal aqui é provocar o debate:
O que é o dinheiro e como ele deveria ser na sua opinião?
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