A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da íris na Câmara Municipal de São Paulo voltou a se reunir no dia 12 de agosto para ouvir uma jornalista da revista Exame que foi convidada pela Tools For Humanity (TFH) a cobrir um evento nos Estados Unidos com todas as suas despesas pagas.
Sob a presidência da Vereadora Janaína Paschoal (PP-SP), a sétima reunião sobre o assunto conversou com a jornalista Mariana Martucci. A CPI tem duração prevista de 120 dias, com 99 dias já corridos desde sua instalação, apurou a reportagem.
Antes de conversar com a profissional, a CPI oficiou as subprefeituras de São Paulo a declarar se algumas empresas ligadas a TFH funcionam em suas regiões. Além disso, convidaram a participar membros de entidades de proteção de dados e de proteção ao consumidor.
Representantes da empresa “Festejola do Brasil” também serão convocados para esclarecer como se deu o contrato com a Tools For Humanity no projeto World ID. A empresa é citada por escanear a íris na região da subprefeitura Freguesia Brasilândia sem autorização prévia de funcionamento.
Participaram da reunião Janaina Paschoal (PP) – presidente, Gilberto Nascimento (PL) – vice-presidente, Ely Teruel (MDB) – relatora, João Ananias (PT) e Silvão Leite (UNIÃO).
Moradores de São Paulo que desejarem contribuir com o trabalho parlamentar podem enviar suas contribuições no canal criado pela Câmara Municipal em seu site oficial.
Jornalista disse que viagem a convite da empresa para os Estados Unidos veio de assessoria de imprensa própria e terceirizada: “sempre cobrimos eventos de tecnologia e fez sentido editorial”
Convidada a apresentar tudo que conhece sobre a Tools For Humanity, Mariana Martucci declarou que o veículo no qual trabalha sempre cobriu eventos de tecnologia.
Ela mesma já realizou várias viagens a trabalho em outras ocasiões e para cobrir outros eventos, declarou.
“Quando recebi o convite, em meados de maio e abril, resolvi ir cobrir o evento de lançamento da plataforma nos EUA. Eu atuava como editora e frequentemente recebemos convites, inclusive não foi a única viagem que fiz. Eles trabalham com agência e uma assessoria da própria empresa, então fomos convidados de duas formas e como nós sempre cobrimos criptomoedas e somos conhecidos por materiais sobre tecnologia, fomos“, disse ela.
Ela confirmou que passagens, hospedagem e alimentação contaram com pagamentos pela empresa. Entretanto, ela declarou que não recebeu nenhum outro valor financeiro como compensação, como cachês e nem similares.

“Não recebi pagamentos da empresa para publicação de minha matéria”
Além disso, ela declarou que o convite não condicionava a escrita de nenhuma matéria sobre o assunto, muito menos o endosso ao negócio.
A jornalista lembrou que sempre teve liberdade em sua escrita e que não teve aprovação prévia de seus textos publicados sobre a viagem a São Francisco (EUA).
Após a publicação, ela só avisou a empresa que havia publicado uma matéria, mas não teve que editar seu texto.
“Não houve pagamento para publicação, foi um convite e uma escolha da revista, conforme nossa linha editorial. Pessoalmente, eu queria entender ainda como funcionava a tecnologia e o ecossistema dentro do aplicativo, sou uma entusiasta, inclusive participei do escaneamento por lá. Não me arrependo, mas entendo que a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) não atinge toda a parcela da população, há uma lacuna principalmente entre os mais vulneráveis“, declarou Martucci.
Ela ainda destacou que o evento contaria com a presença de Sam Altman, fundador também da OpenAi do ChatGPT, e cofundador da TFH. Ou seja, fazia sentido participar da cobertura como um veículo de tecnologia.
Presidente da CPI da Íris ainda vê contradições na privacidade
Depois de ouvir o depoimento, o parlamentar Gilberto Nascimento destacou à Rede Câmara SP que as falas foram importantes para ampliar o entendimento da CPI.
“A profissional foi convidada para cobrir um evento de apresentação, inclusive, de parcerias comerciais, com a presença do Match Group, dono do Tinder, e a Visa. Quando falamos da bandeira de cartões, claro que existe uma expectativa de operacionalização, eles queriam ser o meio de pagamento para pessoas que venderam a íris. Por isso, é fundamental entender o modelo, pois pode ser o próximo passo deles por aqui“, disse Nascimento.
Presidente da CPI da Íris, a vereadora Janaina Paschoal (PP) resumiu os documentos comentando que pretende saber se houve fiscalização e autuação em unidades da Tools for Humanity a fim de identificar quais são as empresas e as pessoas responsáveis.
“Quanto ao depoimento da Mariana Martucci são apontamentos interessantes, como o posicionamento da empresa que opera com tranquilidade. Existe ainda uma contradição, pois ninguém explicou o porquê da identidade. Se o escaneamento é feito sem nenhuma utilidade, como afirmam, porque existe uma divisão dos dados para não haver armazenamento“, questionou e concluiu que a empresa precisa trazer detalhes.
Procurada pelo Livecoins, a Tools of Humanity não quis comentar sobre os trabalhos da CPI da Íris.
Entenda mais sobre os trabalhos da CPI em São Paulo
Instalada em maio de 2025, a CPI busca apurar a atuação da empresa Tools for Humanity que, por meio do projeto World ID, supostamente oferecera recompensas financeiras para realizar o escaneamento da íris de cidadãos paulistanos.
As recompensas em forma de criptomoeda Worldcoin (WLD) ganhou destaque com várias famílias buscando o serviço em forma de renda extra. Algumas pessoas que conseguiram acessar valores trocaram suas criptomoedas por Real brasileiro, lucrando até R$ 600,00.
A Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), entretanto, mandou suspender o serviço de fornecer criptomoedas no Brasil e, em agosto de 2025, negou um novo recurso da empresa que buscava voltar com suas operações totais no país.