Um caso digno de roteiro de cinema agitou a polícia paulista no último final de semana. Um empresário espanhol de 25 anos, identificado como Rodrigo Pérez Aristi Sá, foi sequestrado na última segunda-feira (24), no bairro do Ipiranga, zona sul de São Paulo, por dois homens armados vestindo uniformes falsos da Polícia Civil.
Alegando que ele era procurado pela Interpol, os criminosos o algemaram e o colocaram à força dentro de uma caminhonete com insígnias oficiais, o levando até um sítio usado como cativeiro no distrito de Biritiba Ussu, em Mogi das Cruzes, região metropolitana da capital.
Durante cinco dias, o empresário ficou preso em um quarto simples, algemado a uma cama de solteiro, onde foi mantido dopado com remédios para dormir, agredido e ameaçado.
250 milhões em criptomoedas
Segundo ele, os sequestradores realizaram transferências bancárias e movimentações em criptomoedas a partir de suas contas, totalizando, de acordo com o relato da vítima, um prejuízo estimado em cerca de US$ 50 milhões — o equivalente a mais de R$ 250 milhões.
A informação ainda está sendo verificada pelas autoridades, mas a suspeita é de que o montante envolva tanto moedas fiduciárias quanto ativos digitais.
O empresário afirma ter conseguido fugir ao conquistar a confiança de um dos sequestradores, que o mantinha sob vigilância. Ele usou o mesmo medicamento com o qual era sedado para dopar o criminoso.
Com o sequestrador adormecido, Rodrigo se soltou das algemas e conseguiu chegar até um bar nas redondezas, onde pediu ajuda a populares e acionou a Polícia Rodoviária Federal.
Ele permaneceu no local até a chegada das viaturas e indicou com precisão onde estava o cativeiro.
Policiais militares e rodoviários realizaram uma incursão a pé até o imóvel indicado e flagraram um dos envolvidos tentando fugir.
O homem foi detido e identificado como Ronaldo Batista, policial militar reformado. Ele confessou participação no sequestro e foi preso em flagrante, sendo encaminhado ao presídio militar Romão Gomes. Em sua posse, foram encontradas uma espingarda calibre 12, munições, algemas e celulares. A prisão foi convertida em preventiva após audiência de custódia.
Empresário é procurado pela Interpol
O caso está sendo conduzido pela Divisão Antissequestro do Departamento de Operações Policiais Estratégicas (Dope), com apoio da Polícia Federal.
Isso porque o nome de Rodrigo consta como investigado por crimes financeiros em países da América do Sul, como Paraguai e Equador.
Ele teria envolvimento com fintechs que supostamente aplicaram golpes financeiros.
Ainda segundo a investigação preliminar, Rodrigo estaria foragido e poderia ser alvo de um mandado de prisão da Interpol, o que levanta dúvidas sobre se o crime se tratou de um sequestro ou de um acerto entre quadrilhas.
A Polícia Federal vai apurar a identidade e situação legal de Rodrigo no Brasil. Ele foi levado à Superintendência da PF em São Paulo para prestar esclarecimentos, mas se manteve em silêncio diante da imprensa.
Até o momento, a Secretaria de Segurança Pública trata o espanhol como vítima de sequestro e extorsão, mas a complexidade do caso e os antecedentes do empresário mantêm as autoridades em alerta.
O paradeiro do segundo sequestrador segue desconhecido. As investigações continuam para descobrir se há mais envolvidos e para tentar recuperar os valores desviados — caso realmente tenham sido transferidos.