Uma onda de crimes violentos contra empresários do setor de criptomoedas está causando pânico entre investidores, desenvolvedores e empresários do setor.
Conhecidos como “wrench attacks” – ataques de chave inglesa, na tradução – os ataques físicos brutais vêm substituindo os métodos cibernéticos tradicionais.
O objetivo dos criminosos é simples e direto: extorquir investidores sob ameaça, tortura e até mutilação para obter criptomoedas.
Os casos registrados vão de sequestros com armas a dedos decepados, e a escalada da violência revela um novo tipo de risco para os detentores de grandes fortunas em bitcoin e outros ativos digitais.
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Casos de sequestro em 2025
O ataque mais recente foi em Paris. Três homens mascarados tentaram sequestrar a filha do CEO da exchange Paymium, junto com seu filho pequeno, em plena luz do dia.
A tentativa falhou graças à intervenção do marido da vítima e de vizinhos. Ainda assim, o caso foi apenas mais um em uma série de incidentes similares.
Em outro episódio, o cofundador da Ledger, David Balland, foi sequestrado com sua esposa, torturado e teve um dedo amputado enquanto seus colegas negociavam um resgate de 10 milhões de euros.
A mulher só foi encontrada no dia seguinte, em uma van abandonada. Os criminosos, porém, exigiram pagamento em Tether (USDT), uma stablecoin que pode ser congelada — e parte do resgate foi recuperado após a libertação dos reféns.
A ameaça física agora suplanta o risco digital. Com carteiras frias (cold wallets) tornando mais difícil o roubo online, os criminosos decidiram ir direto ao corpo — literalmente.
Investidores em risco
Dados mostram que criminosos estão utilizando informações vazadas de ataques cibernéticos, como os hacks sofridos pelas empresas Ledger e Kroll, para identificar e rastrear vítimas.
Endereços pessoais, hábitos, redes sociais e até perfis de familiares estão sendo analisados por grupos organizados que operam através de aplicativos como Telegram e Signal.
Esses grupos muitas vezes recrutam jovens que não conhecem pessoalmente, orientando cada um remotamente para executarem os crimes.
A França, em especial, virou um campo fértil para esses ataques. Só nos últimos meses, pelo menos cinco sequestros com motivação ligada a criptomoedas foram registrados no país.
Autoridades suspeitam que as ações são coordenadas por redes de crime organizado, que estão testando o “retorno sobre investimento” dessas operações.
Em um dos casos mais falados nas redes sociais, o influencer Killian Desnos teve o pai sequestrado em troca de resgate, após ostentar sua riqueza nas redes sociais.
O próprio Desnos reconheceu: “Me exibir na internet não foi uma boa ideia”.
Como resposta, membros da comunidade cripto estão apagando informações pessoais da internet, tornando perfis privados e evitando qualquer menção à localização de suas famílias.
Ainda assim, dados públicos, como registros de empresas e documentos judiciais, continuam expondo muitos empresários ao perigo.
A empresa Ledger, por exemplo, enfrenta um processo coletivo na Califórnia, movido por clientes que alegam ter sido vítimas de ameaças e extorsões após seus dados terem vazado em 2020.
Em uma escalada preocupante, o sequestro e tortura de familiares de empreendedores de Malta, como o pai de um empresário cripto que teve um dedo cortado em Paris, mostram que o problema está longe de ser contido.
A maioria das vítimas tem entre 30 e 40 anos e é conhecida publicamente por seu envolvimento com criptomoedas ou por exibir riqueza online.
França em alerta
O governo francês convocou reuniões emergenciais com líderes do setor cripto. O Ministro do Interior, Bruno Retailleau, afirmou que os ataques seguem um padrão e prometeu medidas de segurança.
No entanto, figuras do mercado, como o cofundador da Ledger Éric Larchevêque, acusam o país de se aproximar da realidade de nações marcadas pela impunidade, afirmando que a França passa por uma “mexicanização” da violência.
A alta do bitcoin e de outros ativos digitais — que cresceram mais de 50% no último ano — trouxe riqueza para muitos, mas também vulnerabilidades.
Investidores que antes se preocupavam com senhas e fraudes online agora precisam considerar alarmes, escoltas e esconderijos. A nova era do ouro digital está longe de ser virtual: o perigo é físico, brutal e real.
“Vivemos uma violência inimaginável”, declarou David Balland em suas redes após sobreviver ao sequestro. Seu perfil, agora com humor sombrio, exibia uma nova descrição:
“Dedos: 9/10”. Uma marca literal do custo de possuir bitcoin em tempos onde o crime não conhece limites.