A especialista em contabilidade de bitcoin e criptomoedas Ana Paula Rabello, considerada a maior autoridade brasileira no assunto, lançou um alerta para investidores sobre o uso de transações peer-to-peer (P2P) sem procedimentos de verificação de identidade (KYC).
Em postagem no X, Rabello afirmou que esse tipo de operação é um dos maiores erros que um investidor pode cometer no mercado cripto.
Seu alerta, baseado em um vídeo de Renato 38, já acumula mais de 130 mil visualizações, 720 curtidas e centenas de comentários.
No vídeo, Renato Amoedo classifica o ambiente informal de P2P nacional como um “glory hole do Bitcoin” e afirma que jamais aceitaria um PIX vindo de um desconhecido, mesmo em nome da privacidade ou da descentralização.
“No Brasil, existe um monte de P2P, dinheiro anônimo… Eu considero isso o glory hole do Bitcoin. Eu nunca receberia PIX de uma pessoa aleatória. Isso é pior que declarar. Você gostaria de receber dinheiro de um ped*****?”, disse Renato.
“Fugindo de corretoras e caindo no colo de criminosos”
Rabello alerta que o simples recebimento de um PIX de origem desconhecida pode arruinar a vida financeira de um investidor, mesmo que ele esteja agindo de boa fé.
O alerta vem num momento em que muitos investidores buscam fugir de corretoras reguladas e da Receita Federal, acreditando que operar no P2P é uma forma de evitar impostos.
No entanto, de acordo com Rabello, o caminho é justamente o oposto: “O cara faz tudo isso achando que tá fugindo do Estado e evitando imposto, mas na prática tá correndo direto pro abate.”
“Você pode acabar recebendo dinheiro de criminosos e ser envolvido numa investigação por lavagem de dinheiro, associação criminosa ou receptação, mesmo sendo inocente”, alertou Ana Paula.
“Mais caro e mais taxas”
Além do risco jurídico, ela também alerta para o impacto financeiro dessas operações.
“Você paga um spread absurdo — até 5% acima do preço negociado nas principais corretoras — e ainda taxa por fora. Soma fácil mais 5%. Imagina isso na compra e na venda. No fim, o prejuízo supera qualquer imposto que ele supostamente estaria economizando.”
Segundo Rabello, existem formas legais de operar no mercado e até de isenção de tributos, como:
- Isenção de imposto para vendas mensais até R$ 35 mil em corretoras nacionais;
- Compensação de prejuízos com criptoativos no exterior;
- Operações via empréstimos colateralizados com criptomoedas;
- Mudança de residência fiscal antes de realizar lucro.
“O pior é que, em muitos casos, esse investidor nem precisaria pagar imposto algum. Só falta orientação”, conclui Rabello, desafiando os críticos: “Se você acha que tô falando isso só pra vender serviço, tente rebater os argumentos.”
A postagem gerou debate entre defensores da descentralização total e especialistas que reforçam a importância da legalidade e da segurança jurídica nas transações.
Nos comentários, muitos usuários relataram casos pessoais de problemas com operações P2P, enquanto outros disseram que nunca tiveram problemas.
Com o crescimento da fiscalização e da regulação no Brasil, a tendência é que operações cripto fora do radar governamental fiquem cada vez mais arriscadas.
Para Rabello, a liberdade que o Bitcoin proporciona não deve ser confundida com imprudência financeira ou ignorância tributária.
P2P sem KYC é uma das maiores cagadas que você pode fazer com o seu dinheiro. Vamos aos fatos:
– Você paga um spread absurdo (até 5% acima do preço negociado nas principais corretoras).
– Ainda paga taxa por fora. Soma +5% fácil. Imagina isso na compra e na venda.
– Recebe PIX… pic.twitter.com/5ERFIcjcVT
— Declarando Bitcoin (@declarandobtc) July 20, 2025
P2P é furada?
O modelo P2P, que consiste em comprar e vender ativos digitais diretamente entre pessoas, sem a intermediação de uma exchange tradicional, ganhou popularidade no mundo todo por permitir maior flexibilidade, menores exigências regulatórias e, muitas vezes, maior privacidade.
No entanto, essas mesmas características podem se tornar uma armadilha caso o operador não adote medidas mínimas de segurança e rastreabilidade.
Entre os principais riscos apontados estão o recebimento de transferências oriundas de contas laranja, dinheiro proveniente de golpes e fraudes, além do uso de criptomoedas envolvidas em atividades ilícitas.
Mesmo que o comprador ou vendedor seja inocente, ele pode acabar figurando em uma investigação por lavagem de dinheiro, associação criminosa ou receptação, apenas por ter sido um elo na cadeia de movimentação de recursos.
Apesar dos riscos, especialistas apontam que é possível utilizar o mercado P2P com mais segurança — desde que o investidor adote práticas que o protejam juridicamente.
“Você não precisa abrir mão da liberdade para operar de forma segura. Mas precisa entender que, em um ambiente sem intermediação formal, você se torna responsável por toda a diligência da operação. E isso inclui saber de quem está comprando, como está pagando, e se o dinheiro que está recebendo é limpo”, explica o advogado Raphael Souza.
Isso significa, em tese, saber com quem está negociando, postura adotada por diversos P2Ps no Brasil que não operam com pessoas aleatórias na internet.
Ainda assim, os riscos não são eliminados. Um caso recente em São Paulo envolveu um comprador de Bitcoin que recebeu um PIX de R$ 12 mil de uma conta posteriormente ligada a um golpe de engenharia social.
Embora tenha feito a transação via plataforma conhecida, a polícia o intimou a prestar esclarecimentos por envolvimento indireto. A situação foi resolvida, mas serviu de alerta.
“A pessoa que opera P2P sem documentação nenhuma, direto pelo WhatsApp ou Telegram, está se colocando em uma posição extremamente vulnerável. Não adianta dizer depois que não sabia. O Ministério Público não vai perguntar se você é bem-intencionado — vai querer saber de onde veio o dinheiro”, disse um P2P que preferiu não se identificar.
Na prática, o investidor que deseja continuar utilizando o P2P no Brasil hoje precisa encontrar um equilíbrio entre autonomia e responsabilidade. Isso envolve selecionar bem os interlocutores, manter provas das negociações, e, quando possível, utilizar canais que promovem reputação e verificação.
O risco de operar com um criminoso — mesmo sem saber — é real. O Brasil registra milhares de casos de estelionato digital todos os meses, com quadrilhas especializadas em movimentar recursos via PIX usando laranjas.
Quando esse dinheiro passa pela conta de um investidor cripto desavisado, ele se torna peça da engrenagem — e pode acabar bloqueado, investigado ou até processado.
O alerta da contadora virou tema de discussões em grupos de Telegram e fóruns especializados, onde muitos passaram a compartilhar experiências negativas com transações mal documentadas.