O que explica o fim da Nucoin, a criptomoeda do Nubank

Recentemente a empresa encerrou a compra e venda da sua criptomoeda própria, a Nucoin.

Nota inicial: Não tenho nenhum acesso a dados sobre a Nucoin ou qualquer informação privilegiada sobre o projeto. Minhas opiniões e conclusões abaixo são baseadas na minha experiência no mercado cripto.

Nos últimos anos, a criação de moedas digitais para projetos de tecnologia, principalmente de fintechs e empresas de vídeo games, se tornou uma realidade.

O caso mais emblemático é o token BNB, criado pela exchange Binance. Nesse caminho o token deve 4 funções principais:

  1. Primeiramente, a empresa usou o token para captar 15 milhões de dólares com investidores para desenvolver a primeira versão de seus produtos.
  2. Depois a mesma moeda passou a funcionar como programa de incentivos para a entrada de novos clientes na plataforma.
  3. Em seguida, passou a ser utilizado para distribuir parte dos ganhos da empresa entre todos os investidores do token de forma global.
  4. Por fim, o token passou a ser a moeda do blockchain criado pela propria Binance.

E nesse caminho o token saiu de um valor de mercado de USD 30 milhões para algo como USD 80 bilhões. Uma valorização de aproximadamente 470 mil porcento (472.866,73% enquanto escrevo)

Com base na minha experiência ao criar o token da Digitra.com, o DGTA, lançar uma nova moeda digital que seja consistente e pensando no longo prazo é uma das coisas mais difíceis que já fiz.

Em termos de software, está cada vez mais fácil e já existem muitos sites em que é possível fazer tokens sem saber programar. A parte complicada é criar os incentivos econômicos em volta deles, chamada de tokenomics. A genialidade de Satoshi ao criar o Bitcoin está justamente em resolver esse aspecto.

Quando se cria um token para atrair e engajar clientes, como a Nucoin ou o DGTA, a tendência é ter um sucesso inicial e depois o token morrer.

Essa dinâmica acontece porque quanto mais sucesso tem o token, mais clientes o querem e mais pessoas têm acesso a ele. Como esses tokens passam a ter um valor de mercado, eles são “dinheiro de graça” e muitos clientes entram apenas para conseguir vendê-los imediatamente.

As vendas destes novos clientes criam uma pressão vendedora que só aumenta conforme mais clientes entram na plataforma.

O criador de um token normalmente garante um determinado nível de preço, comprando os tokens que foram distribuídos aos clientes para que os tokens se mantenham atrativos. Só que a pressão vendedora normalmente torna-se incontrolável e o dinheiro da empresa disponível para a compra de tokens acaba.

Para não cair na armadilha de ter que garantir preço e acabar o dinheiro, o emissor dos tokens pode optar por não interferir no mercado. Neste caso o emissor deixa o preço do token flutuar livremente, as vendas de novos tokens emitidos para novos clientes aumentam progressivamente e preço fatalmente tende a zero.

Essa dinâmica já é bem forte somente com a pressão vendedora de novos clientes legítimos.

Só que para complicar, existe uma outra figura no ecossistema, que conhecemos como Looters aqui na Digitra.com, que são pessoas (e até empresas) que possuem como modo de operar maximizar os ganhos com tokens lançados no mundo inteiro, seja desenvolvendo técnicas para ganhar mais tokens explorando falhas no tokenomics, seja via algum tipo de fraude, como usar contas falsas ou de laranjas.

Os looters agem em uma escala muito maior e tem um impacto muito destrutivo porque assim que recebem os tokens eles vendem e fazem isso com centenas ou milhares de contas.

O Nubank está entre as empresas que criaram um token para incentivar os clientes a ter determinados comportamentos dentro do seu app. Isso parece ter funcionado inicialmente, mas rapidamente as pessoas começaram criar vídeos de “como criar dinheiro de graça com a Nucoin” e se criou uma indústria looter, que se valia da possibilidade de trocar as Nucoins novas por reais.

Isso possivelmente acabou com o caixa da empresa para a compra de Nucoins e ela se viu entre duas possíveis soluções: parar de comprar as moedas ou mudar a essência do programa e transformá-lo em um programa de pontos tradicional. O Nubank optou por parar tudo e estancar a sangria de caixa.

Assim, para amenizar o impacto de imagem, transformaram ele em um programa de pontos onde a equivalência de pontos por produtos é controlável pelo emissor, possivelmente travaram o preço de conversão das moedas para quem quiser sair do programa e criaram sorteios de títulos de capitalização.

Criação, morte e ressureição do DGTA, o token da Digitra.com

Quando lançamos o token DGTA, originalmente faríamos uma captação global, estimada em 10 milhões de dólares, para financiar a construção dos projetos, como fez a Binance. Contudo, por conta da incerteza regulatória de uma captação deste tipo a partir do Brasil, optamos por não captar com o token e o lançamos como um programa de incentivos para clientes entrarem na Digitra.com e futuramente outras empresas parceiras.

Na Digitra.com não conhecíamos bem essa dinâmica de força vendedora, mas optamos por deixar o token flutuar desde o primeiro dia ao invés de fazer compras. O resultado foi que isso o matou com o preço indo de USD 0,10 para zero, mais precisamente USD 0,001, menor preço possível na plataforma.

Para ressuscitá-lo, fizemos diversas tentativas de melhoria que geraram uma mudança grande em todo o tokenomics, que é o que existe hoje.

Em resumo, as soluções que encontramos basicamente são: torná-lo um programa de pontos com quantidade de tokens DGTA emitidos fixa por dia e fazer recompras usando parte da receita.

Em resumo os programas ficaram assim:

  1. Programa de cadastro e KYC, que distribui DGTA para todos os novos clientes. A quantidade é fixa em 100 clientes por hora.
  2. Programa de Indicação de novos clientes. Por dia são distribuídos 5 mil tokens entre todos que indicam e 1000 tokens distribuídos entre quem entrou indicado.
  3. Trade to Earn — são distribuídos 200 tokens, em cada par de negociação, entre todos que negociam em cada livro de ofertas no dia.
  4. Dividendos Cripto, em que distribuímos 20% das receita que a empresa recebe em DGTA, a todos os detentores de DGTAs na plataforma (detentores de Bitcoin recebem Bitcoin, e assim por diante)
  5. Provedor de Liquidez, em que distribuímos 10% das receitas diárias que temos com DGTA a todos que tem ordens no book de DGTA abertas.

Fixando a quantidade de tokens emitida pelos programas de token, como estamos fazendo com o DGTA, tem um efeito de estabilidade muito bom. Tomando como exemplo o caso de criptos para novos cadastros: hoje são emitidos 100 DGTAs por hora.

Se chegamos ao nível de entrar apenas um cliente por hora, eles ganham os 100 DGTAs cada um, o que possivelmente incentiva novos clientes a entrarem para dividir o bolo.

Se por qualquer motivo entrarem 1000 clientes em uma hora, cada um ganha 0,1 token, possivelmente esse incentivo será pequeno e nas próximas horas o número de novos clientes diminui.

Novos clientes entraram ou deixaram de entrar dependendo da quantidade de tokens novos que cada um recebe, e do preço deste token no mercado.

Por fim, recomprar tokens do mercado, sem dar uma garantia de recompra, e destruir estes tokens, outro programa da Digitra.com que é uma ótima ideia. Estamos testando na Digitra.com e o futuro parece promissor.

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Rodrigo Batista
Rodrigo Batistahttps://digitra.com
Rodrigo Batista é fundador e CEO da exchange Digitra.com e do token DGTA. Comprou seu primeiro Bitcoin por 4 dólares em 2012. Em 2013 fundou o Mercado Bitcoin o vendeu em 2019 para os atuais sócios. Atualmente, ele possui múltiplos negócios no mercado de ativos digitais. É cofundador e conselheiro da seguradora 88i, investidor da tokenizadora nTokens e do Mercado de Balcão Organizado Estar, o que o torna o único brasileiro com projetos aprovados em todos os sandboxes regulatórios do Brasil. Batista é graduado em Tecnologia pela Federal, administração de empresas pela USP e frequenta o curso para donos e presidentes de empresas, OPM, na Universidade de Harvard.

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