Um assunto pouco abordado veio à tona durante a conferência Bitcoin 2025: quanto ganha um desenvolvedor do Bitcoin. Afinal, a criptomoeda não gera caixa como empresas e, portanto, não pode pagar um salário aos seus funcionários.
O pagamento é feito majoritariamente através de ‘grants’ (uma espécie de bolsa/financiamento) dadas por empresas dentro e fora do setor. A preocupação, no entanto, é que esses desenvolvedores possuem uma alta experiência, mas recebem salários menores que outros profissionais da área.
Outro ponto mencionado é que hoje o Bitcoin é um ativo de US$ 2 trilhões, maior do que Google e Meta, mas sem grande remuneração.
Desenvolvedores do Bitcoin salários de recém-formados, alerta executivo
Em painel intitulado “o papel crítico do financiamento de código aberto do Bitcoin”, Dan O’Prey (14tz), Mike Schmidt (Brink), Alex Li (Fundação dos Direitos Humanos) e Hong Kim (Bitwise) debateram um tema pouco abordado no mercado: o salário dos desenvolvedores do Bitcoin.
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“Nós publicamos um relatório sobre isso recentemente, em outubro passado, cobrindo todas essas organizações”, comentou Schmidt. “Estimamos que, em 2023, o valor total de dinheiro destinado ao desenvolvimento do Bitcoin Core foi de cerca de 8,3 milhões de dólares.”
“Ou seja, basicamente o orçamento tecnológico de uma empresa de software pequena. Para um ativo de 2,2 trilhões de dólares, isso é uma quantia muito, muito pequena de dinheiro destinada a cerca de 40 a 45 desenvolvedores ativos atualmente.”
Segundo o estudo, US$ 5,2 milhões seriam por doações abertas (US$ 3,6 milhões via grants e US$ 1,6 milhão por emprego) e outros US$ 3,2 milhões por financiamento privado (US$ 1,5 milhão por grants e US$ 1,7 milhão por emprego).
Dividido entre 41 desenvolvedores, o valor resultaria num salário anual próximo a US$ 202.000 (R$ 1,1 milhão), ou R$ 95.600 por mês.
Embora pareça um salário alto para nós brasileiros, Kim comenta que esse é o salário de um desenvolvedor recém-formado nos EUA.
Um dos nomes citados é o de Michael Ford, mantenedor mais antigo do Bitcoin Core em atividade atualmente.
“Ele [Michael Ford] trabalha no [Bitcoin] Core há mais de uma década, e tudo o que ele faz, todos os dias, é garantir que o código funcione em todos os sistemas operacionais e com todos os compiladores”, comentou Kim.
“O Michael é simplesmente a pessoa que garante que tudo funcione. E temos um substituto para o Michael? Ele tem um aprendiz? Ele está fazendo isso há 13 anos. Ele está sendo pago? E esse pagamento é suficiente para ele continuar por mais 10 anos? Não estamos falando de salários de engenheiro do Google aqui. Estamos falando de 100 mil, 200 mil dólares — salários de recém-formado — sendo pagos para pessoas de nível mundial que fazem o trabalho mais difícil, que lidam com todo tipo de crítica e ódio.”
Em maio, Gloria Zhao chegou a desativar seu X, antigo Twitter, após receber uma enxurrada de críticas da comunidade.
Como pode ser visto na imagem acima, diversos nomes importantes para o Bitcoin abandonaram o projeto entre 2022 e 2023, incluindo Wladimir van der Laan, lembrado como o sucessor de Satoshi Nakamoto, bem como Marco Falke, dentre outros.
Embora esses desenvolvedores não tenham citados questões salariais como motivações de suas saídas, isso pode ter contribuído para a decisão.
Ainda como comparação, nesta semana Ross Ulbricht, fundador da Silk Road, recebeu uma doação anônima de 300 bitcoins (R$ 177 milhões). A cifra seria equivalente a quase 4 anos de financiamento de todos os desenvolvedores do Bitcoin juntos.
Fundador do Twitter é o principal nome por trás de financiamento de desenvolvedores do Bitcoin
Outra questão que os palestrantes chamaram atenção é que grande parte desses financiamentos está partindo de um único nome: Jack Dorsey, fundador do Twitter.
“Trazer mais uns 10 desenvolvedores por ano para o espaço, com financiamento completo, seria uma meta viável e valiosa — algo que ajudaria a escalar e permitir que mais desenvolvedores trabalhem no Bitcoin”, comentou Mike Schmidt.
“No geral, esse valor de 8,3 milhões de dólares não é alto, e a concentração das fontes desse financiamento também é um ponto de preocupação — um sinal de centralização. O Jack Dorsey, por exemplo, financia bastante o desenvolvimento do Bitcoin, doa para muitas dessas organizações, e isso é fenomenal. Mas, pelo menos três dessas organizações são financiadas em 100% ou mais de 90% apenas por Jack ou por Jack e Jay-Z. Isso representa um grande risco de concentração nas mãos de um único indivíduo.”
Há duas semanas, Dorsey se mostrou favorável ao BIP-177, uma proposta polêmica que mudaria como vemos o Bitcoin. Dado todo esse seu apoio pelos desenvolvedores, ele poderia influenciar discussões sobre o tema.
Schmidt então sugere que grandes gestoras e outros bilionários como Dorsey comecem a financiar o desenvolvimento do Bitcoin.
Além disso, outro medo da comunidade é que o Bitcoin contenha um grande bug. Ainda em 2023, Cobra, dono do site Bitcoin.org, afirmou que investidores “perderão tudo” devido à exploração de uma pequena falha.
Desde 2024, os desenvolvedores passaram a publicar uma lista de correção de bugs.
A conversa completa sobre o tema durante a conferência Bitcoin 2024 pode ser assistida no vídeo abaixo, já no tempo correto.
