Paolo Ardoino, CEO da Tether, comentou neste sábado (8) sobre os possíveis impactos da computação quântica no Bitcoin. Segundo ele, apesar do avanço da tecnologia, ela ainda levará muito tempo para que represente uma ameaça real à criptografia que protege a moeda digital
Ardoino afirmou que antes que qualquer ameaça ocorra, o Bitcoin adotará endereços resistentes a ataques quânticos, permitindo que os usuários migrem seus fundos para novas carteiras seguras.
“Previsão. A computação quântica ainda está muito longe de qualquer risco de quebrar a criptografia do Bitcoin. Endereços resistentes serão eventualmente adicionados ao Bitcoin antes que haja qualquer ameaça séria.”, disse o empresário.
Um dos pontos mais controversos levantados pelo executivo foi a possibilidade de que, caso a computação quântica avance a ponto de comprometer a segurança das carteiras antigas, bitcoins perdidos ao longo dos anos — incluindo os pertencentes a Satoshi Nakamoto — poderiam ser hackeados e recolocados em circulação.
“Todas as pessoas vivas (e que têm acesso às suas carteiras) moverão Bitcoin para novos endereços resistentes à criptografia quântica. Qualquer Bitcoin em carteiras perdidas, incluindo Satoshi (se não estiver vivo), será hackeado e colocado novamente em circulação.”
Como o Bitcoin tem um suprimento máximo fixo de 21 milhões de unidades, esse cenário reacenderia debates sobre oferta e demanda, possivelmente impactando o preço.
Atualmente, a criptografia que protege as carteiras de Bitcoin, baseada em algoritmos como ECDSA (Elliptic Curve Digital Signature Algorithm), é considerada segura contra ataques convencionais.
No entanto, o avanço da computação quântica tem sido motivo de debate entre desenvolvedores do Bitcoin, levando à criação da proposta “QuBit — P2QRH spending rules”, que sugere um novo tipo de endereço resistente a ataques quânticos.
Segundo estudos mais recentes, estima-se que entre 1 a 2 milhões de bitcoins (o equivalente a até R$ 735 bilhões) estejam vulneráveis — minerados na primeira era do Bitcoin e armazenados em endereços P2PK, considerados os menos seguros.
Endereços P2PK e P2TR, de prefixos 04 e bc1p, portanto, seriam os mais vulneráveis.
Cenário | Tipo de Ataque |
---|---|
Endereços antigos (moedas de Satoshi, mineradores de CPU, começam com 04) | Longo alcance |
Endereços reutilizados (qualquer tipo, exceto bc1r) | Longo alcance |
Endereços Taproot (começam com bc1p) | Longo alcance |
Qualquer transação na mempool (exceto bc1r) | Curto alcance |
Chaves de carteira HD BIP-32 não protegidas | Tanto Longo alcance quanto Curto alcance |
Em relação aos tipos de ataque, isso se refere a transações que ainda não foram confirmadas (que estão na mempool) e a outras antigas as quais a chave pública já foi revelada, respectivamente.
Ou seja, no curto alcance, o atacante teria apenas ~10 minutos para realizar o ataque, já no longo alcance, teria todo tempo necessário.
Como esses endereços incluem as carteiras ligadas a Satoshi Nakamoto, a comunidade os apelidou de “endereços canários”, já que poderiam ser os primeiros alvos de um ataque quântico, funcionando como um alerta para toda a rede.
A proposta dos desenvolvedores busca implementar um novo formato de endereço chamado Pay to Quantum Resistant Hash (P2QRH), que utiliza algoritmos de assinatura criptográfica pós-quântica (PQC).
O modelo sugerido é o FALCON, uma assinatura digital mais robusta, mas que ocupa um espaço até 20 vezes maior que os algoritmos atuais, como ECDSA e Schnorr.
Sendo assim, a solução cria um novo desafio para a escalabilidade do Bitcoin, pois poderia reduzir a quantidade de transações por bloco, reacendendo debates sobre o tamanho da blockchain.
No entanto, especialistas alertam que o usuário comum não precisa tomar nenhuma ação no momento, e que qualquer tentativa de golpe relacionada a essa mudança deve ser evitada.
O desenvolvimento da proposta segue em discussão no GitHub e em canais da comunidade técnica do Bitcoin.
Atualmente, os computadores quânticos ainda estão longe de representar uma ameaça prática à criptografia usada na rede do Bitcoin, mas pesquisadores alertam que isso pode mudar dentro das próximas décadas.
Estimativas apontam que, em um cenário mais otimista para essa tecnologia, um ataque poderia se tornar viável em até 10 anos, caso haja avanços inesperados na construção de máquinas com milhões de qubits e baixas taxas de erro. Entretanto, especialistas consideram essa hipótese improvável no curto prazo.
Projeções mais realistas indicam que entre 2035 e 2050 a computação quântica pode atingir um nível crítico para desafiar sistemas criptográficos amplamente usados hoje, incluindo o ECDSA do Bitcoin.
O Google, a IBM e startups do setor estimam que dentro desse período os computadores quânticos poderão processar cálculos complexos com eficiência suficiente para comprometer assinaturas digitais.
Caso isso aconteça, será necessário um plano de transição para proteger a rede.
Se a evolução da computação quântica ocorrer de forma mais gradual, essa ameaça pode levar 50 anos ou mais para se concretizar. Nesse intervalo, o Bitcoin poderia adotar novas soluções criptográficas antes que a segurança das carteiras fosse comprometida.
O pesquisador Scott Aaronson, que estuda o tema há 25 anos, afirmou recentemente que a preocupação com ataques quânticos deve ser levada a sério desde já, para evitar decisões tardias.
Jameson Lopp, um dos desenvolvedores mais respeitados do ecossistema, também reforçou que é importante ter um plano para o momento em que os computadores quânticos atingirem sua maturidade.
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