As transações de R$ 47 bilhões em Bitcoin, parados há 14 anos, realizadas nesta sexta-feira (4) continuam intrigando a comunidade. Isso porque dados on-chain mostram que os endereços receberam mensagens suspeitas dias antes da movimentação.
Ao que tudo indica, trata-se de uma tentativa de phishing. Um golpe no qual criminosos se passam por outras pessoas/empresas para obter dados confidenciais, como chaves-privadas e senhas.
Embora o Bitcoin tenha apresentado uma leve queda ontem após as transações, a criptomoeda já se recuperou e opera acima dos US$ 108.000 neste sábado (5).
Endereços receberam mensagens misteriosas dias antes de moverem 80.000 bitcoins para novas carteiras
Nas redes sociais é possível encontrar diversas teorias sobre quem seria o dono desses 80.000 bitcoins avaliados em R$ 47 bilhões. Alguns apontam para Roger Ver, outros para o hacker Gummo, mas a verdade é que ninguém sabe.
Outra informação que chamou a atenção da comunidade foram mensagens enviadas para esses endereços dias antes dessas transações, entre a segunda-feira (30) e a última quarta-feira (2).
Os textos se parecem com uma ordem judicial, algo que já aconteceu em outros casos.
“AVISO LEGAL: Tomamos posse desta carteira e de seu conteúdo”, aponta uma mensagem.
“Não está abandonada? Prove isso com uma transação on-chain usando a chave privada até 30 de setembro”, diz a segunda.
“AVISO AO PROPRIETÁRIO: veja www[.]salomonbros[.]com/owner_notice”, revela uma terceira, encaminhando para um site externo.
As mensagens são reais ou um golpe?
Uma primeira pesquisa mostra que o site acima leva o nome de ‘Salomon Brothers’, um banco fundado em 1910, mas que acabou sendo adquirido pelo Travelers Group e mais tarde se fundiu com o Citicorp para formar o Citigroup no fim da década de 90.
Já o link em questão leva para uma página de contato, novamente falando sobre as carteiras.
“Esta carteira digital parece estar perdida ou abandonada. Nosso cliente tomou posse construtiva dela e busca determinar se há um proprietário legítimo.”
Seguindo, o texto solicita que a pessoa prove a posse dessa carteira fazendo uma transação ou então enviando uma mensagem via formulário encontrado na mesma página.
Ao que tudo indica, trata-se de um golpe de phishing, já que o site pede por informações sensíveis, desde nome, e-mail e endereços até chaves-privadas.
Somado a isso, a única pessoa que pode fazer transações dessas carteiras são aqueles que possuem suas chaves-privadas. Ou seja, não teria como alguém congelar fundos, como pode acontecer com stablecoins, tampouco tomar posse dessas moedas.
O próprio site também não está ligado ao antigo banco Salomon Brothers. Fontes como Bloomberg apontam para uma retomada feita por terceiros em 2022. Seu registro WHOIS foi atualizado na última terça-feira (1), o que também indica mudanças no domínio.
No LinkedIn dessa suposta falsa empresa que se passa pelo banco Salomon Brothers é possível encontrar apenas 4 publicações, todas muito recentes. Uma dela questiona se seus seguidores possuem ativos digitais, oferecendo uma “oportunidade de US$ 200 bilhões”.
A publicação parece um golpe de engenharia social, levando o usuário novamente ao site com outro formulário de contato.
Por que os endereços moveram 80.000 bitcoins após receberem essas mensagens?
Caso essas mensagens tivessem sido enviadas somente para esses 8 endereços, seria possível acreditar que o aviso legal tivesse algum fundo de verdade.
No entanto, dados on-chain mostram que a mesma mensagem foi pulverizada entre quase 2.000 endereços com grandes saldos de Bitcoin.
Esse número de mensagens é mais um indício de que se trata de um golpe de phishing ou então coleta de dados, como IP, ao acessar o site mencionado nas mensagens.
Conforme as taxas de transação de Bitcoin estão baratas, o ataque possui um custo relativamente baixo.
Já o dono dessas carteiras com 80.000 bitcoins (R$ 47 bilhões) pode ter se assustado ao ler as mensagens e então movido sua fortuna para novos endereços sem pensar duas vezes.
Outra hipótese é que o próprio dono desses bitcoins enviou as mensagens para si como um chamariz, desviando a atenção da comunidade para algo mais importante, como sua identidade.
Por fim, as datas dessas mensagens e das transações também pode ser uma extrema coincidência. De qualquer forma, a movimentação de R$ 47 bilhões, parados há 14 anos, é algo único na história do Bitcoin.