A proibição de Bitcoin pela China nos últimos dias abalou o mercado, com muitas pessoas ficando preocupadas com isso, menos dois mineradores brasileiros que conversaram com o Livecoins e explicaram melhor toda essa situação.
De acordo com eles, essa proibição feita pela China é só mais uma dentre as várias já feitas nos últimos anos, em um país conhecido por impedir o funcionamento de muitos sites de tecnologia e cercar liberdades individuais.
Conversou sobre o assunto Rudá Pellini (Autor do best-seller O Futuro do Dinheiro e Presidente da ArthurMining) e Raymond Nasser (CEO da ArthurMining).
1- O que vocês acreditam que a nova proibição da China significa ao mercado de Bitcoin?
Rudá Pellini: “A China vem intensificando as proibições a todas as atividades relacionadas às criptomoedas neste ano, mas este não é um fato novo, já que desde pelo menos 2013 temos relatos do governo chinês anunciando proibições neste sentido. Na minha visão, na prática, essa proibição é apenas mais uma tentativa de manter um grande nível de controle sobre o fluxo de capital, que significa muito aos chineses que têm suas liberdades cerceadas, mas representa pouco sob o ponto de vista global.”
Ray Nasser: “a China nunca foi um país de muitas liberdades individuais e liberdades financeiras. Não me surpreende a China cada vez mais fechar o cerco sobre o Bitcoin, um ativo completamente livre de qualquer interferência do Estado. Esta é a décima primeira vez desde 2013 que a China “proíbe” criptomoedas”.
2- Há uma oportunidade para que os Estados Unidos, principal rival político, absorva esse setor e obtenha lucros com o setor de criptomoedas?
Rudá Pellini: “Após os banimentos da mineração de criptomoedas na China no segundo trimestre deste ano, percebemos um aumento da atividade nos Estados Unidos e migração de parte dos mineradores chineses pra lá. Sob o aspecto da teoria dos jogos e usando o provérbio “o inimigo do meu inimigo é meu amigo” como exemplo, acredito que existe sim uma possibilidade de os EUA avançarem ainda mais na criação de um ambiente regulatório extremamente favorável para o setor no país”.
Ray Nasser: “Muitos mineradores tiveram que encerrar suas operações completamente já que não estavam conseguindo exportar suas máquinas para fora da China. O êxodo de mineração da China não foi apenas para os Estados Unidos, qualquer país com uma rede energética disponível e barata recebeu novos mineradores, como a Rússia, Cazaquistão, Canadá e Noruega, por exemplo”.
3- Como foi a mudança para o mercado de mineração de Bitcoin nos últimos meses após a proibição da China sobre essa atividade, principalmente nos Estados Unidos? Vocês julgam que isso pode se repetir?
Rudá Pellini: “Preparar infraestrutura de energia elétrica equivalente à metade do Estado de São Paulo e mover milhões de computadores do país sem planejamento logístico prévio não é uma tarefa trivial, e a saída dos mineradores da China ainda levará meses até que seja concluída. Os Estados Unidos receberam parte dessas operações, mas boa parte também migrou para países ainda mais complexos sob o aspecto regulatório, como o Cazaquistão e países do Leste Europeu. Na Arthur Mining, temos aproveitado este momento para incorporar parte desses equipamentos vindos da China e investir em infraestrutura, de modo que possamos aproveitar o ambiente favorável de negócios nos EUA para avançar ainda mais no crescimento do nosso negócio.”
4- O que os novos investidores têm que entender sobre a relação da China com o Bitcoin?
Ray Nasser: “Bitcoin sempre foi uma solução para o povo chinês, que só pode comprar $200 por família por mês, já que a China está em guerra comercial com os Estados Unidos, o que está desvalorizando a sua moeda e acaba deixando os chineses sem defesa. É compreensível que um país queira ter controle total sobre sua moeda fiduciária, só que quando este controle funciona em detrimento da população, o povo procura alternativas.”
Rudá Pellini: “Apesar das recentes notícias poderem ser apontadas como causa do aumento da volatilidade de preços no Bitcoin, temos que lembrar que esse é um ativo ainda muito volátil e que desde 2017, em mais de 40% dos dias o Bitcoin apresentou variação superior a 5% diariamente. Isso significa que, na minha opinião, é mais importante entender esse ativo do ponto de vista tecnológico e estar ciente de que a volatilidade irá acontecer independente da China ou de qualquer outro país, ainda mais se considerarmos que o banimento na China não é novo e já ocorreu diversas vezes desde 2013.
Especificamente sobre este caso, pessoalmente me parece que o governo chinês está em vias de implementar sua CBDC (moeda digital emitida pelo Banco Central) e a partir daí aumentar ainda mais o controle e restrições sobre movimentações no país. Nesse sentido, um meio de transações independente e que não depende de aprovação de nenhuma autoridade central para funcionar pode ser um grande inimigo ao controle monopolista.”
5- Qual país ou região poderia aproveitar desse banimento para se posicionar no mercado de criptomoedas e se tornar uma grande potência no futuro?
Rudá Pellini: “Acredito que países que apostarem no maior nível de liberdade monetária sairão na frente nesta corrida, o que acaba sendo uma grande oportunidade para países menores e com moedas mais fracas para entrarem no cenário global e atraírem investidores e o desenvolvimento de tecnologia.
Um exemplo foi a Estônia, considerado hoje o país mais digital do mundo e que vem apostando alto para trazer empreendedores e startups ao país. Outro exemplo pode ser El Salvador, o primeiro país do mundo a adotar o Bitcoin como moeda oficial do país. Nesse sentido, acredito que em breve veremos vários países seguindo no mesmo caminho, o que abre uma grande oportunidade para desenvolvimento e aumento da competição e liberdade.”
Ray Nasser: “Países com excesso de energia poderiam se aproveitar disso. A mineração de Bitcoin faz com que não exista mais desperdício energético, não importa o lugar do mundo.”
6- O Bitcoin, enquanto tecnologia, corre algum risco com um estado banindo?
Rudá Pellini: Acredito que é uma tecnologia imparável e tentar impedir seu funcionamento é somente ignorar o ignorável. Hoje, já temos exemplos de satélites hospedando a blockchain do Bitcoin, e até transações sendo validadas por ondas de rádio, por iniciativa inclusive de alguns brasileiros. Nesse sentido, o fato é que, como tecnologia, já temos uma massa crítica grande o suficiente para tornar qualquer banimento uma tentativa que terá poucos resultados práticos, além de eventualmente atrasar sua adoção.
Ray Nasser: O que a maioria das pessoas não sabe é que este foi o ataque mais grave na história do Bitcoin. Mais de 50% de seu poder de processamento caiu da noite para o dia. Para mim, este foi o teste mais importante que a moeda teve até hoje. Não ouve mudança no preço nem nos mercados, ou seja, Bitcoin é muito forte e não precisa da China para continuar existindo.