Para nós que vivemos na era das ‘fake news’, em que discursos são distorcidos e fotografias facilmente editadas, os vídeos sempre se mostraram como uma fonte incontestável da verdade. Afinal, a gravação de alguém não pode ser manipulada bem diante dos nossos olhos, certo? Errado!
Com o avanço tecnológico e a disseminação mundial das notícias, recursos como a deep fake podem causar sérios estragos — que vão desde difamar a imagem de celebridades, até confundir e influenciar os rumos de uma investigação. Um novo projeto, no entanto, sugere que a resposta para este problema está na tecnologia blockchain.
Mas antes de explicar como a tecnologia por trás do bitcoin pretende desmascarar a manipulação em vídeos, vamos entender o que são as tais das deep fakes.
Quando as imagens mentem
A deep fake é uma técnica que utiliza a inteligência artificial (IA) para produzir ou alterar o conteúdo de um vídeo de modo que apresente algo que, de fato, não ocorreu. Dessa forma é possível trocar o rosto de pessoas, alterar expressões e até mesmo simular movimentos labiais.
Como os programas de deep fakes são criadas por meio da IA, não é exigido que seus usuários tenham grandes habilidades em efeitos especiais para criar vídeos realistas.
Isso significa que qualquer pessoa com acesso a algoritmos e conhecimento em aprendizagem de máquinas pode manipular uma gravação de forma muito convincente.
Só para se ter uma ideia, imagens falsas de caráter sexual envolvendo celebridades, e até mesmo um discurso do ex-presidente Obama, já foram editados via deep fake.
A manipulação de imagens também dificulta o uso judicial de vídeos proveniente de câmeras de segurança ou do smartphone de uma vítima, por exemplo, justamente porque tais registros agora estão sob a incerteza da integridade. É nesse contexto que a blockchain emerge como o antídoto e solução.
Autenticidade via blockchain
De acordo com o portal Wired, startups como a Amber e a Factom, ambas sediadas nos Estados Unidos, estão desenvolvendo sistemas de autenticação de vídeo por meio da tecnologia descentralizada.
Apoiada pela blockchain do Ethereum, a ferramenta criada pela Amber atua em segundo plano no dispositivo enquanto o vídeo é capturado. Em intervalos regulares e estipulados pelo usuário, a plataforma gera “hashes” — que podemos traduzir como a impressão digital de um arquivo — que em seguida são gravadas de forma segura e imutável em uma blockchain pública, onde tudo é verificável.
De acordo com os criadores, na plataforma online Amber Authenticate é possível identificar se uma gravação foi adulterada ou não.
Se no vídeo aparecer uma moldura verde em torno da imagem, significa que ele é confiável, mas caso fique evidente um contorno vermelho, isso indica incompatibilidade dos hashes, o que comprova a manipulação.
O vídeo ainda apresenta um cronograma que aponta a data de criação do arquivo, quando ele foi colocado no ar e o momento de inclusão na blockchain pública.
Segundo o consultor de segurança da Amber, Josh Mitchell, a falta de um mecanismo de autenticação nos equipamentos digitais que usamos e, principalmente, nos dispositivos utilizados por órgãos de segurança, tem que servir de alerta.
“O fato de não haver nada que proteja essas evidências de uma parte maliciosa é preocupante, e os fabricantes não parecem muito motivados para fazer qualquer coisa”, pondera. Ressaltando sua crença na tecnologia blockchain para solucionar o problema:
“Podemos mostrar que existem maneiras de garantir que todas as partes tenham fé no vídeo e em como ele foi capturado”.