O que poderia ser considerado uma paranoia de usuários mais hardcores está se tornando uma realidade. Desenvolvedores estão começando a implementar soluções de KYC (Know Your Customer) em suas carteiras de bitcoin.
Embora já seja possível assinar uma mensagem usando um endereço, para provar sua identidade, por exemplo, algumas carteiras estão facilitando este processo através de um protocolo chamado AOPP (Address Ownership Proof Protocol).
No total, oito carteiras são mostradas no site da AOPP, incluindo a famosa fabricante de carteiras de hardware Trezor. Por fim, embora o pseudo-anonimato do Bitcoin já permita análises, tais implementações facilitam muito este processo.
Com isso, talvez você comece a receber propagandas personalizadas após gastar seus bitcoins. Afinal, nunca se sabe quem e como estas informações serão utilizadas.
Governo quer controlar as massas
Conforme governos já perceberam que é impossível parar o Bitcoin, nada mais natural que eles inventem novas desculpas para continuar tendo controle sobre as massas.
Atualmente o principal método tem foco nos VASPs (Virtual Asset Service Providers), ou seja, em provedores de serviços que trabalham com ativos virtuais. Após classificar tais serviços, governos podem forcá-los a exigir KYC de seus clientes caso queiram continuar funcionando.
Como exemplo, hoje quase todas corretoras centralizadas já implementaram tal método. Indo além, alguns acreditam que o mesmo acontecerá no setor de DeFi.
Carteiras começam a trabalhar com KYC
Com isso, chegamos as carteiras de Bitcoin e outras criptomoedas. Através de um protocolo para comprovar a propriedade de um endereço, o AOPP (Address Ownership Proof Protocol), carteiras estão facilitando esta invasão a privacidade.
A desculpa usada pela gigante Trezor, fabricante de carteiras de hardware, é que esta integração “ajudará o usuário a ter mais controle sobre seus bitcoins”.
“Sem isso, os usuários comuns não podem obter seus bitcoins. Os governos preferem que as pessoas permaneçam nas plataformas com KYC, e não usem soluções de auto-custódia.”
Como resposta, a vasta maioria de seus seguidores e usuários criticou a postura da empresa. Um deles afirmou que queimará sua carteira, já outros chegaram a questionar se a postagem era uma piada de mal gosto.
Além da Trezor, o site do AOPP apresenta uma lista com todas as carteiras que já estão dando ou darão suporte a esta funcionalidade. São elas:
- BitBox
- Trezor
- BlueWallet
- Sparrow
- Edge
- Mt Pelegrin
- Relai
- Aktionariat
O valor da privacidade
Devido ao pseudo-anonimato do Bitcoin, hoje serviços como Chainalysis já conseguem ter um bom mapa da rede. Embora isso seja bom para combater crimes, também fere a privacidade do usuário comum.
Caso uma abundância de endereços comece a ser etiquetada, tornando-se uma regra para utilizar a rede, essa intromissão será ainda maior.
Em resposta a Trezor, mencionada acima, um usuário postou duas imagens mostrando como estes dados seriam apresentados e conferidos.
Em resposta, a Trezor usou a desculpa de que os usuários que compartilham suas informações com exchanges e, por conta disso, seus endereços já estão etiquetados conforme usados em saques. Prontamente mais um usuário irritado questionou a empresa.
“Por que você está deixando que burocratas controlem seu roteiro [de desenvolvimento]??? Onde você desenha a linha?”
Por fim, vale lembrar que obviamente estas implementações não vão barrar criminosos. Elas apenas servem para que governos não percam o controle sobre seus cidadãos, como se estes fossem uma propriedade sua.
Além disso, é impossível saber como estas informações serão usadas, bem como quais empresas as usarão. Portanto, o que menos queremos é que o Bitcoin vire um Facebook e que nossos dados sejam vendidos por centavos para verdadeiros criminosos, que usarão tais informações.
Seu dinheiro é seu, foi você quem trabalhou para recebê-lo e tem todo direito de gastá-lo onde deseja sem precisar avisar a ninguém sobre isso. Portanto, com ou sem AOPP, procure boas práticas de privacidade, como não reutilizar endereços.