Algumas semanas atrás fui contatado por uma conhecida pedindo de poderia passar meu contato para uma amiga dela que gostaria de conversar comigo sobre criptomoedas.
Respondi que sim e que seria um prazer ajudar. Alguns dias depois, recebi uma ligação da Alemanha, onde reside a amiga que queria conversar, e fiquei cerca de duas horas conversando por telefone com essa pessoa.
Ao longo da conversa fui percebendo que essa amiga queria falar não sobre criptomoedas de forma geral, mas mantinha seu foco em apenas uma: Onecoin.
Nosso bate-papo começou estranho, visto que essa pessoa misturou em uma mesma frase vários assuntos como educação, valor, pagamento, compra, etc… Inicialmente pensei em se tratar de uma criptomoeda cujo foco era educação, tendo em vista a variedade de projetos e ICOs nesse meio.
Só depois de alguns minutos fui entender que o que ela queria dizer é que “é importante estudar o assunto”. Concordei com com essa afirmativa, mesmo tendo a fala me parecido um script memorizado que era sempre repetido para possíveis interessados.
Após cerca de meia hora de conversa, ficou claro seu propósito: ela queria me vender o “projeto” da Onecoin e queria que eu integrasse o time de vendas que ela pretendia montar no Brasil.
Tendo em vista a quantidade de criptoativos existentes, não é incomum não conhecer uma determinada moeda, sendo assim, enquanto estava no telefone, acessei a internet e fui pesquisar sobre a referida moeda.
Inicialmente, pesquisei no site coinmarketcap.com e observei que a moeda não era listada, o que não necessariamente invalida a moeda, já que o site cobra uma pequena fortuna para listá-las, mas era a primeira bandeira vermelha.
Em seguida, fiz uma simples pesquisa no Google e os primeiros links de resultado falavam justamente que a Onecoin era uma fraude.
Não só isso, um dos primeiros links dizia que na Alemanha (de onde essa pessoa estava me ligando) mais de 50.000 pessoas haviam sido vítimas dessa fraude e citavam medidas que o governo alemão havia tomado para evitar maiores prejuízos.
Foi aí que começou a difícil tarefa de convencê-la de que a Onecoin não era uma boa opção é que na verdade eu nem estava certo de que era uma criptomoeda de verdade.
Os argumentos dela eram tão fracos que dava pena de escutar. Seu maior argumento era que ela já havia ganhado dinheiro com isso e já havia inclusive recuperado seu investimento inicial.
Eram tantas coisas para serem ditas que acabei esquecendo de perguntar se ela havia de fato retirado seu dinheiro recuperado da plataforma Onecoin ou se ela estava apenas contando suas Onecoins como lucro, sem ter transformado em dinheiro local.
Comecei minha jornada de evangelização contando a história do Bitconnect e expliquei que toda fraude é lucrativa: é por isso mesmo que elas existem.
No entanto, são lucrativas apenas por um tempo e posteriormente todo o esquema desaba como um castelo de cartas. Falei que caso ela já tenha tido lucro, ela não seria tão afetada quando o castelo de cartas caísse, mas ela certamente ficaria com o nome sujo como vendedora de fraudes.
Mesmo sabendo a resposta fiz questão de confirmar e perguntei se ela já havia vendido esse “projeto” para outras pessoas e a resposta foi positiva. Posteriormente descobri que ela havia convencido sua própria irmã a colocar R$8.000,00 na plataforma Onecoin.
De acordo com ela, uma cidade na Itália já estaria usando Onecoin em praticamente todos os estabelecimentos comerciais.
Pensei comigo mesmo que isso era algo muito estranho tendo em vista que criptomoedas tem a finalidade de serem ferramentas de troca de nível mundial e não apenas municipal. Além disso, porque eles escolheriam a Onecoin ao invés de Bitcoin, Bitcoin Cash, Litecoin, Ethereum ou qualquer outra moeda reconhecida como séria (Non-shitcoin)?
As bandeiras vermelhas de alerta iam se multiplicando a cada frase proferida e logo ficou claro que a grande maioria daquelas informações deveria vir de um script que alguém ensinou para ela como ferramenta de convencimento alheio.
Perguntei em qual corretora/bolsa/exchange essa moeda estava listada. De acordo com ela, a moeda ainda não estava listada em nenhuma corretora, porque essa era uma estratégia de marketing que seus criadores desenvolveram.
Na mesma hora me lembrei de um episódio de South Park em que o personagem Cartman compra um parque de diversões com o dinheiro de uma herança que havia recebido, mas não permite visitantes pagantes em seu novo estabelecimento.
Essa atitude acaba por fazer com que filas comecem a se formar na porta do parque quando o personagem é obrigado a aceitar clientes para pagar seus custos. No desenho, esta estratégia se mostra tão eficaz que restaurantes e outros comércios começam a negar clientes apenas para criar a mística de exclusividade.
Finalmente perguntei o seguinte: Você detém o controle das suas chaves privadas? É claro que eu já suspeitava da resposta, já que foi por isso mesmo que fiz a pergunta, mas nesse momento fiquei com pena não apenas dela, mas da irmã dela que também foi envolvida nessa história: “O que é uma chave privada?”
É irônico que uma pessoa tentando me vender uma coisa, use como seu primeiro argumento a importância de se educar no assunto, na verdade não sabe nada sobre o assunto cuja bandeira está carregando.
Depois de quase duas horas, encerrei a conversa tendo em vista a relutância dela de entender que eu estava me esforçando para educá-la sobre o assunto é também a sua relutância em acreditar no que eu estava falando pelo simples fato de que ela já estava tendo lucro com aquilo.
Até hoje não sei se ela se deu ao trabalho de ler todas as fontes de informações que mandei para ela e também não sei se ela continua fazendo parte desse “projeto” ou se ela finalmente se educou (conforme ela havia me dito que era importante fazer) sobre o assunto de criptoativos e entendeu a furada que havia entrado.
Até então eu não havia considerado escrever sobre o assunto, mas há alguns dias atrás fui convidada participar de uma palestra sobre a Nasdacoin.
Novamente, realizei uma simples busca no Google e mais uma vez, uma dos primeiros resultados era um link cujo título era algo como “Nasdacoin: fraude ou legítimo?”
Acessei o link e li todo o artigo.
A conclusão do autor é que nem mesmo o modelo de negócio da Nasdacoin seria legal, ou seja, seria mais uma fraude, já que afirmava um retorno de investimento de 300% em alguns meses.
Sendo assim, respondi ao convite agradecendo, mas eu não tinha interesse em me envolver com algo tão duvidoso, visto que seria outro esquema de empréstimo ou bot de arbitragem ou qualquer coisa do tipo que promete grandes retornos certeiros.
Em função destes ocorridos, achei que seria útil se eu escrevesse essas histórias e alertasse possíveis vítimas sobre esse tipo de prática que não é incomum no mundo das criptomoedas.
Lembre-se, educar-se é fundamental caso contrário você pode ser uma vítima de aproveitadores que espreitam a ganância alheia.
Fiquem atentos às bandeiras de alerta! E o mais importante: Se você não tem o controle de suas chaves privadas, você não é o dono do criptoativo.
Eduque-se!