Na última sexta-feira, 10, a TBD, sendo uma das subsidiárias da empresa Block, de Jack Dorsey, ex-CEO do Twitter, anunciou que está trabalhando na criação da Web5.
Desde que saiu do Twitter, Jack Dorsey vem focando em desenvolver soluções envolvendo Bitcoin. Com isso, sua subsidiária TBD, da Block Inc., está agora trabalhando na criação de uma nova web descentralizada, a Web5.
Jack iniciou este projeto, pois acredita que a Web3 tem as motivações corretas, mas utiliza os instrumentos errados. Dessa forma, a Web5 usará somente o Bitcoin e mais uma infinidade de recursos de ciência da computação para criar uma rede descentralizada.
Como funciona a internet hoje?
A web que utilizamos hoje, a Web2, funciona de um modo em que há um “cliente” (usuário) e um servidor (rede). Sendo assim, nós constantemente pedimos e enviamos dados para estes servidores, que nos trazem respostas ao que queremos.
Por exemplo, ao utilizar o buscador Google, você solicita uma informação, e o Google busca no banco de dados dele as respostas para o que você pediu. Não somente o Google, mas diversos outros sites que usamos diariamente funcionam dessa forma.
No entanto, para usar a maioria desses serviços você, geralmente, cria uma conta nestas plataformas, onde todas suas informações e dados ficam registrados nos servidores dessa empresa. Suas fotos salvas na “nuvem” do Google Drive, por exemplo, nada mais são do que seus arquivos pessoais salvos em servidores do Google.
Em resumo, seus dados estão nos computadores de terceiros. Isso levanta um questionamento quanto a segurança das nossas informações pessoais. Pois, senhas, registros de banco, id facial, digital e etc, estão registrados em servidores espalhados pelo mundo inteiro.
Além disso, outro inconveniente é que não há interoperabilidade entre esses servidores, então sempre que você usar um site ou aplicativo que oferece serviços parecidos, mas são de empresas diferentes, você terá que realizar as mesmas operações e não poderá aproveitar os dados já existentes da outra plataforma.
Para os desenvolvedores desses serviços eles precisam focar tanto na experiência do usuário ao utilizar sua plataforma ou aplicativo, quanto na segurança dos dados desse usuário. Isso é uma das coisas que a Web5 quer mudar.
Por que não a Web3?
A Web3 conseguiu identificar os problemas que existem na Web2, no entanto, as soluções para eles levam tudo, no fim das contas, à estaca zero do problema.
No entanto, utilizando a blockchain como um servidor na Web3, o usuário possui um único cadastro onde pode usar em vários serviços, existe interoperabilidade e, nesse caso, os desenvolvedores focam apenas na experiência e não no armazenamento seguro de dados também.
Uma blockchain precisa de vários nós (nodes) ativos rodando e mantendo uma cópia dela para que a rede seja a mais descentralizada possível. Portanto, para manter a descentralização dessa rede, ela teria de ser viável para que qualquer pessoa que quisesse, pudesse rodar um node daquele serviço. No entanto, sabemos que blockchains são imutáveis e os dados uma vez adicionados lá, não poderiam ser retirados, fazendo com que a rede sempre fosse cada vez maior, comportando um número muito grande de dados.
Logo, ficaria difícil para que qualquer pessoa pudesse rodar um node dessa rede, mantendo a descentralização. Isso concentraria o poder de armazenamento dos dados somente a quem tivesse capacidade o suficiente para manter uma cópia do serviço, em síntese, pouquíssimas pessoas.
Além disso, na blockchain item é registrado por meio do pagamento de uma taxa pelo serviço, e em momentos de alta demanda, essa taxa poderia ficar maior, como acontece na rede Ethereum. Por último, mas não menos crucial, a blockchain é um banco de dados público, logo, todas as informações registradas lá seriam públicas, não havendo privacidade desses dados.
Portanto, fica claro que a Web3 soube identificar o problema da Web2 e tentou encontrar uma forma de resolvê-lo, mas que trazem outros problemas a tona.
Qual o objetivo da Web5?
O objetivo desta nova plataforma é ser extremamente descentralizada, colocando o usuário no controle total de seus dados e identidade. A grande crítica da Web2, que utilizamos hoje, é que ela faz com que nossos dados sejam “protegidos” por terceiros, tornando-os propriedade deles.
Sendo assim, a Web5 traz identidade descentralizada e armazenamento de dados para seus aplicativos, enquanto possibilita que os desenvolvedores criem experiências agradáveis para os usuários, devolvendo a propriedade de dados e identidade dos indivíduos.
Em síntese, os usuários têm total controle das suas próprias informações, enquanto os desenvolvedores na web focam apenas em entregar a melhor experiência para esses usuários quando eles estão usando um aplicativo.
Para isso, a Web5 aproveitará o Bitcoin como rede monetária descentralizada e mais um aparato de componentes de software, como:
- Identificadores descentralizados (DIDs);
- Webnode descentralizado (DWNs);
- Serviço de identidade auto-soberana (SSIS);
- Kit de desenvolvimento de software (SDK) de identidade auto-soberana (ssi-sdk).
Identificadores descentralizados (DIDs)
Os DIDs são identificadores que permitem uma identidade digital verificável e descentralizada. Ao contrário dos identificadores típicos, esses DIDs foram projetados para poderem ser desacoplados de registros centralizados, provedores de identidade e autoridades de certificação.
Enquanto outras partes podem ser usadas para ajudar a permitir a descoberta de informações relacionadas a um identificador, o projeto permite que o controlador de um DID prove controle sobre ele sem exigir permissão de qualquer outra parte. Para isso, os DIDs usam registros criptografados.
A Web5 aproveita a rede ION, sendo uma rede de identificadores descentralizados, de segunda camada, pública e sem permissão, que roda sobre a rede Bitcoin. Ou seja, essa identidade digital é um número registrado na rede Bitcoin.
Webnode descentralizado (DWNs)
O node descentralizado na Web5 funciona como os servidores da Web2, porém, ao invés de uma empresa fornecer o serviço de armazenamento e proteção de dados, o webnode descentralizado usa um mecanismo de armazenamento e retransmissão de dados.
Nesse caso, os participantes podem aproveitar para encontrar os dados públicos ou privados vinculados a uma determinada identidade digital descentralizada (DID). Isso permite a interação entre diferentes entidades que precisam verificar a identidade uma das outras.
Os usuários podem ter vários nós, que replicam seus dados entre eles e isso permite que esses proprietários possam proteger, gerenciar e transacionar seus dados com outras pessoas, sem depender de um provedor específico.
Serviço de identidade auto-soberana (SSIS)
O SSIS interage com credenciais verificáveis e com os identificadores descentralizados (DIDs). A funcionalidade principal desse serviço inclui interagir com os padrões em torno das credenciais verificáveis. Além de realizar revogação, solicitação, troca, esquema de dados e outros dado verificáveis para credenciais.
SDK de identidade auto-soberana (ssi-sdk)
Já o SDK junta os padrões relacionados a identidade auto-soberana. O ssi-sdk fornece funcionalidades flexíveis para construir aplicativos de identidade descentralizada de forma modular, ou seja, com dependências limitadas entre os componentes. Os padrões podem ser adicionados ou removidos.
Conclusão
Todas as aplicações propostas para a Web5 tem o principal objetivo de fazer com que o usuário seja o único detentor dos dados e arquivos de identidade, deixando os desenvolvedores de aplicativos concentrados apenas em fornecer a melhor experiência de uso, e não proteção de dados. Logo, as informações na Web5 não ficam no computador de terceiros e são seguras por meio de criptografia.
Além disso, diferente da Web3, que utiliza diversos mecanismos de tokenização para que os projetos nas plataformas possam ser acessados pelos usuários, a Web5 usará a blockchain do Bitcoin apenas como uma base para redes de segundas camadas que fazem registro descentralizados de identidades digitais. Afinal, a blockchain possui a única funcionalidade de evitar os gastos duplos.