Um estudo da Solidus Labs, publicado nesta terça-feira (12), revelou que provedores de liquidez manipularam preços de 20.000 criptomoedas em corretoras descentralizadas. O volume dessas negociações ultrapassa os R$ 10 bilhões (US$ 2 bilhões).
Os números podem ser ainda maiores. Afinal, a Solidus Labs analisou apenas 1% de todas as pools de liquidez, que representam 0,3% do volume total negociado em corretoras descentralizadas. Além disso, os dados mais antigos são de setembro de 2020.
Embora negociações on-chain sejam caras, o estudo cita um caso onde os golpistas lucraram cerca de US$ 2 milhões em apenas duas horas. Portanto, isso demonstra que os ganhos podem ultrapassar os gastos.
Wash trading domina corretoras descentralizadas de criptomoedas
Explicando como o estudo foi realizado, a Solidus Labs aponta que existem diferentes tipos de wash trading, uma técnica usada para inflar tanto o volume de negociações quanto o preço de uma criptomoeda.
No primeiro exemplo, o estudo aponta que o próprio provedor de liquidez é o trader que manipula o mercado.
“Sempre que estas negociações ocorrem, não ocorre nenhuma alteração na propriedade beneficiária — e ainda assim cada troca manipula o preço e o volume do token, criando um sinal de mercado artificial.”
Mais elaborado, o segundo esquema conta com diversas carteiras. Desta forma, terceiros tem mais dificuldade em identificar que as negociações estão sendo feitas por uma única pessoa. No entanto, o resultado é o mesmo.
“Este método é provavelmente preferido por entidades que procuram evitar a detecção e aumentar o número de investidores que parecem estar comprando ou vendendo o token.”
Segundo o estudo, 67% das negociações em quase 30.000 corretoras descentralizadas são manipuladas por wash trading. O volume ultrapassa os US$ 2 bilhões (R$ 10 bilhões) e afeta mais de 20.000 criptomoedas.
O caso da SHIBAFARM
Durante o estudo, a Solidus Labs encontrou o caso da SHIBAFARM e decidiu usá-lo como uma amostra sobre as consequências dessas práticas. Além do wash trading, outro agravante é que os traders não conseguiam vender essa criptomoeda após comprá-la, acabando com qualquer pressão vendedora.
“O implementador do SHIBAFARM usou dois truques técnicos para criar a impressão de que o SHIBAFARM era a próxima [Shiba Inu] SHIB.”
“O primeiro foi um honeypot: um tipo de rug pull em que o contrato inteligente de um token é programado para impedir que os compradores do token vendam posteriormente”, destaca o estudo. “O segundo foi uma estratégia de negociação multipartidária.”
Após cerca de 50 vítimas comprarem SHIBAFARM, os desenvolvedores deram a cartada final, removendo a liquidez da criptomoeda enquanto seu preço atingia novos patamares. O golpe resultou em um lucro de US$ ~2 milhões aos golpistas, tudo isso em menos de 2 horas.
Finalizando, os analistas também apontam que o mesmo golpista criou outros 50 golpes após a SHIBAFARM.
Estudo pede por regulação do setor DeFi
Segundo a Solidus Labs, seu estudo é uma prova de que a prática de wash trading é facilmente detectável. Portanto, não seria difícil prevenir que isso aconteça em corretoras descentralizadas, como já acontece em corretoras centralizadas.
“Ao rastrear os fluxos de tokens entre carteiras que fornecem liquidez e negociam na mesmo pool, as exchanges e os reguladores podem identificar grupos suspeitos de carteiras para uma investigação mais aprofundada.”
Enquanto essa regulação não chega, cabe ao próprio usuário desconfiar de criptomoedas que estejam apresentando fortes ganhos. Afinal, o preço delas pode estar sendo manipulado por terceiros, justamente para atrair novas vítimas para o esquema.