O preço do Bitcoin sofreu uma nova queda nesta segunda-feira (7), chegando a ser negociado abaixo de US$ 75.000, em meio a uma onda de instabilidade nos mercados financeiros globais.
A queda ocorre após o governo dos Estados Unidos, sob a liderança de Donald Trump, anunciar a implementação de novas tarifas comerciais que atingem diversas nações, gerando receios sobre uma possível recessão mundial.
O Bitcoin chegou a ser negociado a US$ 74.511 na madrugada desta segunda (7), com uma queda de aproximadamente 4% nas últimas 24 horas.

Apesar de ter registrado valores acima dos US$ 80.000 durante grande parte do ano, a moeda digital vem perdendo força e acumula uma desvalorização de cerca de 30% em relação à sua máxima histórica registrada em janeiro.
No final da semana passada, o Bitcoin conseguiu se manter estável na faixa entre US$ 82.000 e US$ 83.000, mesmo enquanto os mercados acionários globais despencavam e ativos tradicionalmente vistos como reserva de valor, como o ouro, também enfrentavam pressão vendedora.
No entanto, esse fôlego não se sustentou com a intensificação do temor em torno das tarifas comerciais dos EUA.
Liquidações e efeito dominó
A queda no preço do Bitcoin desencadeou uma onda de liquidações longas — operações de traders que apostavam na valorização do ativo.
Conforme dados da plataforma CoinGlass, o mercado viu mais de US$ 247 milhões em liquidações longas de Bitcoin nas últimas 24 horas.
O Ethereum, segunda maior criptomoeda, também foi afetado, registrando cerca de US$ 217 milhões em liquidações. Outros ativos, como Solana, sofreram perdas superiores a 6% no mesmo período.
As liquidações ocorrem quando o preço do ativo se move contra a posição dos traders alavancados, forçando a venda automática dos ativos para cobrir as perdas, o que amplia ainda mais a pressão vendedora no mercado.

Crise global, ‘Black Monday’ e panic sell
O ambiente macroeconômico se deteriorou rapidamente após o anúncio das tarifas norte-americanas.
Estimativas do S&P Dow Jones Indices indicam que as duas sessões seguintes ao anúncio das tarifas eliminaram US$ 7,46 trilhões em valor de mercado global, sendo US$ 5,87 trilhões nos EUA e mais US$ 1,59 trilhão em outros mercados internacionais.
A situação tem levado muitos analistas a comparar o momento atual a eventos históricos como o Black Monday de 1987 e o crash do mercado financeiro causado pela pandemia em 2020.
As novas tarifas, somadas à expectativa de mais medidas protecionistas, geraram pânico nos mercados e contribuíram para a rápida deterioração do sentimento dos investidores.
Indicadores técnicos e sentimento do mercado
No mercado de criptomoedas, o Bitcoin perdeu importantes níveis de suporte, como a média móvel exponencial de 50 semanas, atualmente em torno de US$ 77.000.
A formação de um “cruz da morte” (death cross) no gráfico diário — quando a média móvel de 50 dias cruza abaixo da de 200 dias — sinalizou uma possível continuação da tendência de baixa.
Dados on-chain da CryptoQuant revelam que os investidores de curto prazo (Short-Term Holders), responsáveis por movimentações mais especulativas, estão vendendo com prejuízo.
O indicador SOPR (Spent Output Profit Ratio), que mede se as moedas gastas estão sendo vendidas com lucro ou prejuízo, caiu abaixo de 1, indicando que esses investidores estão capitulando.
Além disso, a média do custo de aquisição desses investidores ficou acima do preço atual do Bitcoin, aumentando a pressão de venda em meio ao sentimento de medo generalizado.
Mercado projeta novos cortes de juros
O contexto de instabilidade levou a uma mudança nas expectativas de política monetária dos EUA. Segundo a ferramenta FedWatch do CME Group, o mercado passou a apostar majoritariamente em um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros já na próxima reunião do Federal Reserve, em maio.
Antes da recente turbulência, a expectativa era de que tal movimento ocorresse apenas em junho.
A possibilidade de um corte emergencial nos juros, semelhante ao adotado durante a pandemia, também ganhou força. Em plataformas como o Polymarket, aumentam as apostas de que o Fed terá de agir rapidamente para conter a sangria nos mercados de risco.
Bear Market?
O secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, confirmou à imprensa que as tarifas anunciadas entrarão em vigor sem adiamentos, aumentando a tensão entre os investidores.
Já Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, declarou que será necessário aguardar para entender os efeitos reais das medidas protecionistas na inflação e na política monetária.
Analistas como Ki Young Ju, CEO da CryptoQuant, alertam que o atual ciclo de baixa pode se estender por pelo menos seis meses.
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— Ki Young Ju (@ki_young_ju) April 7, 2025
Ele destacou a divergência entre o valor de mercado do Bitcoin e seu valor realizado — que leva em conta apenas as moedas realmente movimentadas — como um indicativo de que o mercado segue em tendência de baixa.
Enquanto isso, o índice Fear & Greed, utilizado para medir o sentimento dos investidores tradicionais, atingiu o menor nível já registrado, com uma pontuação de apenas 4 em 100.
Mesmo durante momentos críticos como o colapso da FTX ou a crise da COVID-19, esse índice não havia atingido patamares tão extremos.
No setor de criptomoedas, o índice equivalente operava em 23/100 na manhã de hoje, ainda em zona de “medo extremo”.

Próximos eventos que podem influenciar o mercado
Além das tarifas comerciais, os próximos dias serão marcados pela divulgação de dados de inflação nos EUA. O índice de preços ao consumidor (CPI) será divulgado no dia 10 de abril, seguido pelo índice de preços ao produtor (PPI) no dia 11.
Os números devem influenciar diretamente a política monetária do Fed e podem servir como catalisadores para novos movimentos nos mercados financeiros.
Com os mercados globais ainda tentando encontrar um piso após as quedas recentes, analistas recomendam cautela.
O popular trader Michaël van de Poppe alertou que o Bitcoin pode cair até US$ 70.000 antes de encontrar um suporte mais firme. Ele também sugeriu que um corte emergencial na taxa de juros pode ser a única saída para conter o colapso das classes de ativos de risco.
Por fim, o Bitcoin enfrenta um cenário preocupante, pressionado tanto por fatores técnicos quanto macroeconômicos.
A queda abaixo de US$ 75.000 marca uma virada importante no mercado, que vinha sustentando uma tendência de alta desde o início do ano.
A combinação entre a política tarifária dos EUA, a deterioração do sentimento global e os sinais técnicos de enfraquecimento do preço contribuem para um ambiente de alta volatilidade e incerteza.