Somente no primeiro semestre de 2025, o ecossistema de ativos digitais na América Latina evoluiu em um ritmo que superou até mesmo as projeções mais otimistas, segundo analistas da corretora de criptomoedas Bitfinex.
A região registrou avanços institucionais significativos, marcos regulatórios inéditos e uma ampla adoção corporativa de criptoativos. Para alguns, essas mudanças podem ter sido surpreendentes; para outros, esses movimentos já estavam no radar e vêm sendo impulsionados há anos por meio de um trabalho colaborativo com reguladores e instituições locais.
Analistas da Bitfinex, uma das mais antigas exchanges de ativos digitais do mundo, listaram os cinco marcos que estão impulsionando a transformação do mercado cripto na América Latina em 2025.
1. Fim da rivalidade entre finanças tradicionais e cripto
A América Latina deixou para trás a antiga narrativa que colocava bancos e plataformas de criptomoedas em lados opostos. Agora surge uma nova infraestrutura, totalmente compartilhada. Bancos, fundos, governos e fintechs já operam com ativos digitais dentro dos mesmos fluxos transacionais.
Um exemplo marcante é o caso do Panamá, que passou a permitir o pagamento de serviços municipais com criptomoedas. Por meio de um sistema de conversão automática, os pagamentos em cripto são convertidos instantaneamente em dólares. É a primeira vez que ativos digitais são integrados ao sistema fiscal do país, e o movimento representa uma tendência mais ampla de integração institucional na região.
2. Avanço regulatório e estruturação do uso de stablecoins
A região está se adaptando rapidamente para substituir a incerteza regulatória por normas claras para o setor de criptoativos. No Chile, a Lei das Fintechs de 2023 passou a exigir o registro de exchanges junto à Comissão do Mercado Financeiro (CMF) e a adoção de padrões de combate à lavagem de dinheiro (AML), e identificação de clientes (KYC). Com isso, o Banco Central chileno trabalha em uma regulação específica para stablecoins e avalia o lançamento de uma moeda digital do banco central (CBDC) como forma de promover uma inovação segura.
O Brasil segue um caminho semelhante. O Banco Central confirmou que as regras para stablecoins e tokenização de ativos devem ser publicadas ainda em 2025. O Drex, moeda digital brasileira, está sendo projetada para transformar o sistema de pagamentos, com foco na digitalização de processos como concessão de crédito, transações imobiliárias e registros.
Essas medidas buscam reduzir riscos de atividades ilícitas e oferecer mais segurança e transparência tanto para consumidores quanto para empresas.
3. Infraestrutura e adoção institucional ganham força
A infraestrutura cripto na América Latina cresce rapidamente. Em 2024, 55 milhões de latino-americanos utilizaram criptomoedas. Esse número se reflete na ampliação dos pontos de acesso: o México ocupa a 14ª posição global em número de caixas eletrônicos de cripto, com mais de 90 máquinas instaladas. O Brasil vem em seguida, com mais de 70 máquinas, seguido por Argentina e Colômbia. Esse tipo de expansão facilita transações sem a necessidade de conta bancária, fortalecendo o uso de cripto em remessas internacionais, que cresceram 40% em 2024.
No campo institucional, o Bitcoin também ganha espaço. A Méliuz, empresa brasileira listada na bolsa, passou a adotar o BTC como parte da sua estratégia de tesouraria, o que resultou em uma valorização de 111% em suas ações ao longo de três meses. Em junho, a empresa investiu mais de R$ 50 milhões em Bitcoin.O movimento sinaliza para outras empresas da região que o Bitcoin pode ser mais do que um ativo especulativo e pode atuar como reserva de valor de longo prazo.
4. Tokenização ganha regras e sai do papel
A tokenização deixou de ser um conceito teórico e começa a ser regulamentada. Em junho de 2025, a Argentina aprovou um marco regulatório pioneiro para a tokenização de ativos do mundo real, como fundos fiduciários e de investimento. As novas regras reconhecem tokens como equivalentes legais a títulos financeiros tradicionais. Além disso, os usuários poderão reconverter os tokens para suas formas convencionais a qualquer momento. A regulamentação prevê, ainda, um período de testes (sandbox) de um ano, em que emissores poderão testar ofertas digitais com supervisão direta.
5. Propostas de leis reforçam ambiente regulatório
A criação de marcos legais claros se tornou uma prioridade regional, mesmo em países que demonstravam mais cautela. Na Colômbia, parlamentares reapresentaram recentemente um projeto de lei que propõe critérios de licenciamento para prestadores de serviços cripto e garantias formais para os usuários. Este avanço reflete uma tendência mais ampla em busca de normas equilibradas que favoreçam a inovação.
E falando em tendências, a edição de 2025 do Cripto Latin Fest será realizada em Medellín, na Colômbia. A Bitfinex terá participação ativa na agenda temática do evento, contribuindo para o debate sobre as prioridades do setor em nível local e regional, ajudando a contribuir na construção de decisões estratégicas que moldarão o futuro da criptoeconomia latino-americana.