Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central do Brasil, participou da Digital Assets Conference Brazil 2025 nesta terça-feira (23) e falou sobre o mercado de criptomoedas.
Iniciando suas falas, o economista repetiu que os governos não estão tratando bem suas moedas, algo que ele já havia pontuado em julho, novamente dando ênfase para os níveis críticos de dívidas em diversos países.
Além de criptomoedas, o ex-BCB também falou sobre a evolução do Pix, chegada do Drex, dentre outros assuntos.
Criptomoedas estão tomando o lugar do dinheiro, diz Campos Neto
Comentando que passou recentemente por Washingthon, D.C., capital americana, Roberto Campos Neto apontou que os EUA sempre foram uma liderança em termos de regulamentação. No entanto, destaca que no governo anterior, essa regulação afastava o setor bancário das criptomoedas.
“Isso foi revertido em parte”, continuou. “A gente ainda precisa ver porque depois do Genius [Act] a gente ainda precisa ter uma lei de infraestrutura, que deve sair em breve.”
“Tem uma percepção que tem melhoria na parte de infraestrutura de mercado, ou seja, a gente tem mais clareza de como negocia, tem uma melhora na velocidade, na percepção de segurança da negociação e acho que tem um fator que tem crescido mais nos últimos meses que é o uso de ativos digitais para fazer funções que o dinheiro fazia antes.”
Dentre pontos destacados pelo ex-presidente do BCB estão remessas internacionais e garantias.
“Tem várias funções onde as pessoas só utilizavam o dinheiro e agora a gente começa a ter uma substituição por ativos digitais”, pontuou.
RCN acredita que melhor caminho para bancos é adotar stablecoins
Em relação às stablecoins, ou seja, criptomoedas atreladas principalmente do dólar americano, Roberto Campos Neto disse que ainda falta transparência no setor, principalmente sobre os ativos que dão lastro a essas moedas.
Sua visão é que uma maior transparência pode fazer a adoção das stablecoins disparar.
No entanto, destaca que o crescimento desses ativos hoje ocorre principalmente em países emergentes, não fazendo papel de dinheiro, mas sim de uma proteção/investimento.
“A melhor coisa para você combater esse processo [de diminuição de crédito em bancos] é fazer exatamente o contrário do que os bancos centrais tem feito nos últimos anos, que é tentar expelir o mundo de ativos digitais do sistema tradicional”, disse Campos Neto.
“Acho que tem que fazer o contrário, tem que trazer o DeFi space pro mundo de banco tradicional.”
Ex-presidente do BCB reconhece erros em suas previsões
Embora tenha se mostrado orgulhoso de suas previsões sobre as stablecoins, Roberto Campos Neto também reconheceu seus erros em outras análises.
“Aqui é um lugar onde eu tenho errado bastante”, iniciou RCN. “Em 2020 eu achava que hoje, 2025, a gente ia ter um nível de tokenização de ativos muito mais alto do que a gente tem.”
“A parte de pagamentos instantâneos foi mais rápido, a parte de ativos digitais foi até mais rápido, de certa forma, mas a tokenização não foi tão rápido quanto eu imaginava.”
Também chamado de RWA, sigla inglesa para Ativos do Mundo Real, este setor envolve basicamente qualquer ativo, transformando, por exemplo, ações em criptomoedas.
“Acho que a gente agora vai entrar num período onde a tokenização vai acelerar […] acho que dependia muito da regulamentação”, comentou Campos Neto, também citando melhorias na infraestrutura e custo de processamento.
Campos Neto fala sobre o futuro das criptomoedas
Questionado sobre o futuro das criptomoedas, RCN acredita que a adoção das stablecoins será maior que de outras criptos, a ponto de vermos uma substituição grande da base monetária por stablecoins.
“Eu entendo que esses stablecoins vai entrar em um ambiente de competição e a próxima disrupção vai ser como fazer um ‘second layer solution’ onde você consiga navegar com todos os stablecoins de tal forma que de fato eles possam ter a função transacionalidade e não a função reserva de valor.”
A conversa completa pode ser assistida no vídeo abaixo.
Além de RCN, o evento Digital Assets Conference também conta com a presença de Jay Jacobs, head de equities da BlackRock, Stephen Richardson, CSO da Fireblocks, Giovanni Vicioso, diretor executivo do CME Group, dentre outros.