Como a tecnologia blockchain vai mudar a sua relação com a comida

Com grandes empresas aderindo à blockchain, entenda como a tecnologia por trás do bitcoin trará mais segurança e qualidade ao seu alimento.

Em novembro de 2018 a alface romana foi recolhida de 11 estados canadenses, após mais de 30 pessoas relatarem doenças por contaminação. Mas não precisamos ir tão longe. Basta recorrer à memória para lembrar de uma série de desastres de distribuição de alimentos ocorridos no Brasil. Como o episódio que detectou vestígios de soda cáustica em um lote da bebida AdeS, em 2013; ou a operação que revelou a venda de carne vencida produzida pela JBS e BRF, em 2017. A boa notícia é que a tecnologia blockchain pode evitar que casos como os descritos acima se repitam.

Como a tecnologia blockchain vai mudar a sua relação com a comida
(Foto: Pixabay)

Cada vez mais, a tecnologia que possibilitou o desenvolvimento do Bitcoin está se expandindo para além do ecossistema cripto e atingindo áreas do entretenimento, da saúde e da cadeia de suprimento de alimentos — só pra citar algumas. Neste último setor, a proposta é que a blockchain torne a comida do seu prato mais segura, ao permitir a rastreabilidade e transparências das informações.

Funciona assim: o produto começa a ser rastreado no momento do plantio, e a partir de então são registrados os dados sobre o dia da colheita, transporte e centros de distribuição por onde o alimento passou. Com as informações armazenadas em um livro-razão à prova de fraudes, é possível garantir a veracidade dos dados e agilizar o processo de carregamento, o que, por sua vez, alivia o trabalho manual, minimizando os riscos de exposição da comida em condições inadequadas.

Investimento de gigantes

Diante dos altos custos mensais envolvendo problemas recorrentes que afetam a qualidade dos alimentos, a gigante varejista Walmart decidiu investir na blockchain e, em colaboração com a IBM, vem testando a tecnologia que será plenamente adotada por seus fornecedores até setembro de 2019.

Em outubro do ano passado, foi a vez do Carrefour anunciar a parceria com o projeto de blockchain da IBM. Operando 12 mil lojas em 33 países, a multinacional europeia vai rastrear seus produtos na França, Espanha e Brasil. Segundo o CoinDesk, a previsão é que o programa seja expandido para outros países até 2022.

O projeto, desenvolvido com a IBM Food Trust, coloca o Carrefour no rol de empresas influentes que já perceberem o poder da blockchain, que também conta com a participação da Nestlé e da Unilever.

Com a tecnologia distribuída, casos como o escândalo brasileiro envolvendo a JBS teria sido mitigado mais rapidamente. Isso porque com o rastreamento da cadeia de produção, seria possível identificar a safra especifica da carne contaminada e retirá-la do mercado, evitando, assim, o desperdício de comida e risco de doença ao comprador.

O poder do consumidor

Além de beneficiar empresas e varejistas, a blockchain permite que os consumidores tenham acesso aos dados e contexto de determinado produto; garantindo que o milho comprado esteja livre de agrotóxicos ou que o meio de produção do café não contou com trabalho infantil. O que dá ao consumidor o poder de tomar decisões conscientes sobre o que ele adquire.

Em 2017, por exemplo, o conglomerado de alimentos Cargrill conduziu um projeto de blockchain que permitiu aos clientes rastrearem o peru da Festa de Ação de Graças, evento muito popular no Canadá e EUA. Ao acessar o código de identificação do alimento em um portal online, era possível identificar o local de procedência do animal, o caminho que ele levou da fazenda ao mercado e até mesmo encontrar uma mensagem do pecuarista.

Mesmo com esses exemplos efetivos de como a blockchain já está impactando o dia-a-dia das pessoas, especialistas, pesquisadores e entusiastas são unânimes em afirmar que a tecnologia enfrentará um longo caminho pela frente — principalmente no que se refere a adesão de produtores, fornecedores e pequenas empresas.

Sem contar que, por estar em seu estágio inicial, a blockchain  ainda não consegue solucionar todos os problemas da cadeia de suprimentos de alimentos, uma das mais complexas da indústria. Mas o interesse demonstrado por algumas das maiores companhias do mundo indica o potencial da tecnologia para melhorar a transparência, a segurança e a qualidade da comida que chega à sua mesa. Dando a você, consumidor, a capacidade de refletir e escolher o que nutri o seu corpo. Poder antes inimaginável.

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Camila Marinho
Camila Marinho
Camila Marinho é jornalista, com passagem por jornais impressos e outros portais com foco em criptomoedas. Acredita que a tecnologia blockchain é como o fogo dado por Prometeu à humanidade. Cresceu sob o sol da Bahia e hoje vive no frenesi do centro de São Paulo.

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