No cenário global, a transformação do Bitcoin em um ativo de reserva estratégica vem ganhando tração, impulsionada por mudanças no panorama econômico e geopolítico. Nos Estados Unidos, a administração Trump apresentou propostas para incorporar o Bitcoin às reservas nacionais, com o objetivo de proteger a economia contra a inflação e diversificar os ativos do país. Na Suíça, conhecida por sua neutralidade e expertise financeira, o Banco Nacional Suíço estuda a possibilidade de adicionar o Bitcoin às suas reservas ao lado do ouro, reforçando seu compromisso com a inovação e a independência financeira. Já na Rússia, o ativo digital é visto como uma ferramenta para contornar sanções e reduzir a dependência de sistemas financeiros ocidentais.
Nesse contexto em que o Bitcoin emerge como uma alternativa estratégica aos ativos tradicionais para os Estados-nação, o Brasil se posiciona como uma peça potencialmente influente no tabuleiro global. Movendo-se com cautela, mas atento às tendências, o país deu um passo significativo com a apresentação do Projeto de Lei n.º 4501/2024[1] no Congresso Nacional, que, dentre outros pontos, propõe a criação da Reserva Estratégica Soberana de Bitcoins (RESBit), que propõe a alocação de até 5% das reservas internacionais em Bitcoin, sob a administração conjunta do Banco Central e do Ministério da Fazenda.
Segundo o PL, a criação da RESBit permitirá:
“- Diversificação das reservas internacionais: Incorporar bitcoins como parte das reservas do Tesouro Nacional reduzirá a exposição do Brasil a flutuações cambiais e riscos geopolíticos, ampliando a resiliência econômica;
– Posicionamento global: A medida destacará o Brasil como líder regional em inovação tecnológica e financeira, atraindo investimentos externos; e
– Fomento à tecnologia nacional: Programas de educação e parcerias público-privadas promoverão a inovação no uso de blockchain, beneficiando setores público e privado.”
A proposta brasileira para a criação da RESBit apresenta características que a distinguem de outras iniciativas globais. Enquanto El Salvador adotou uma posição maximalista, tornando o Bitcoin uma moeda de curso legal, e enquanto os Estados Unidos priorizam sua utilização como hedge contra a inflação, o Brasil propõe uma abordagem mais abrangente. Nesse sentido, a RESBit não apenas visa diversificar as reservas nacionais, mas também “promover a educação, a inovação tecnológica e o desenvolvimento de uma infraestrutura de blockchain nacional”, além de realizar política monetária, vinculando-a como garantia de lastro para emissão do Drex.
A variedade de abordagens adotadas pelos Estados-nação evidencia a versatilidade do Bitcoin como ativo estratégico. Para alguns países, ele representa uma ferramenta de inovação e desenvolvimento tecnológico; para outros, surge como uma solução a desafios econômicos e geopolíticos. Seja como for, essa diversidade de estratégias reafirma que o Bitcoin, há muito, transcendeu o universo criptográfico e os fóruns especializados, consolidando-se como um dos ativos mais relevantes e transformadores do cenário econômico global. Independentemente dos desdobramentos futuros, seu impacto na redefinição das dinâmicas financeiras e na ruptura de paradigmas tradicionais já é incontestável.
[1]https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=2840230&filename=Avulso%20PL%204501/2024#:~:text=O%20presente%20projeto%20visa%20modernizar,na%20vanguarda%20da%20economia%20digital.&text=legal%20em%202021.