Enquanto grandes países não lançam suas moedas digitais, as chamadas CBDCs, o setor privado continua aproveitando a demanda do mercado por tais ativos. Recentemente, até o gigante PayPal lançou sua criptomoeda lastreada em dólar, mas o Banco Central Europeu (BCE) está preocupado com isso.
Em texto publicado no site do BCE nesta segunda-feira (4), Fabio Panetta urge para a necessidade da criação do euro digital. Seguindo, aponta para os riscos de uma dominância de empresas como o PayPal em um campo onde o Estado sempre teve total controle.
Embora o nome PayPal seja citado por conta de sua fama, outras empresas estão bem na frente. A Tether (USDT) é o maior exemplo, lançada em 2014, a stablecoin já possui um valor de mercado de US$ 82,3 bilhões.
Grande parte desse valor está investido em títulos do Tesouro americano, considerado o investimento mais seguro do mundo, deixando a Tether como um dos maiores compradores de tais ativos, na frente de países como México, Austrália, Espanha e Itália.
Sua dominância também é perceptível na indústria de criptomoedas, tendo quase o dobro de volume de negociações que o Bitcoin em corretoras. Suas concorrentes estão longe desse volume, mas também aparecem no topo.
Banco Central da Europa mostra preocupação com stablecoins
Enquanto diversos Bancos Centrais não enxergam risco no Bitcoin se transformar em uma moeda de uso diário, principalmente por conta de sua alta volatilidade, as stablecoins desafiam a dominância de moedas locais.
Com transações disponíveis 24/7, internacionalmente e sem nenhuma burocracia, as stablecoins lastreadas em dólar podem ter um grande apelo em países afetados pela inflação, como Argentina e Turquia.
No entanto, até mesmo os dirigentes do Banco Central Europeu estão preocupados de que esse “dólar privado” ameace não apenas a dominância local do Euro, mas também o controle do mercado.
“A nossa resposta à revolução tecnológica nos pagamentos não pode ficar parada”, escreve Fabio Panetta. “Na ausência de um euro digital, a emergência de intervenientes privados potencialmente dominantes no mercado de pagamentos digitais poderá ter um forte impacto no setor financeiro.”
“Esta é uma possibilidade real, como demonstrado pela recente decisão do PayPal de lançar a sua própria moeda estável denominada em dólares americanos para utilização em pagamentos digitais.”
Seguindo, Panetta destaca que o “objetivo [do PayPal] é expandir a sua base de clientes e ganhar quota de mercado” e que isso poderia resultar em um monopólio.
“Além disso, ao contrário das stablecoins emitidas pelas big techs, o euro digital seria distribuído por bancos e outros prestadores de serviços de pagamento, que manteriam o seu relacionamento com os seus clientes”, finaliza Panetta.
Em outras palavras, as moedas digitais continuariam concentradas nas mãos de grandes players, agora bancos, mas o BCE teria algum controle sobre eles. Portanto, é difícil acreditar que Panetta esteja preocupado com monopólios e carteis, mas sim com manter o controle do sistema financeiro.
Por fim, enquanto o euro não é digitalizado, países como Brasil, China e Rússia lideram essa corrida. Alguns deles já estão em fases de testes de suas moedas digitais.