O economista Fabio Araujo, responsável pelo projeto de Real digital no Brasil, participou de um evento do iG, onde afirmou que a nova moeda fiduciária nacional não deverá ajudar muito na inclusão dos desbancarizados no sistema financeiro.
De fato, o estágio atual da CBDC brasileira ainda é de debates com a sociedade e dentro do grupo de trabalho do Banco Central do Brasil, criado no ano de 2020. Assim, a expectativa é que o Real digital demore ainda alguns meses ou anos em discussões públicas que deverão avaliar melhor as vantagens e desvantagens desse projeto.
Até o final de 2021, sete eventos públicos discutirão mais os detalhes que o BCB tem avaliado de tecnologia e o que é esperado para esse lançamento. Já foram falados que a tecnologia blockchain, contratos inteligentes, DeFi, entre outros estão no radar da autarquia.
Entre os objetivos de um Real em formato digital está o controle da emissão de moeda, facilidade das transações e diminuição de custos com emissão de cédulas, que não deverão ser descartadas no curto prazo.
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Real digital não deverá incluir desbancarizados do sistema financeiro
No evento do iG transmitido pelo YouTube na última quinta-feira (12), o economista do portal de notícias Luís Felipe Granado questionou Fabio Araujo (BCB) sobre a questão dos desbancarizados brasileiros.
Segundo o economista do iG, 36 milhões de pessoas no Brasil hoje não tem contas em bancos, mesmo com a aceleração do último ano neste setor. Em sua pergunta, ele questionou Fabio se o Banco Central do Brasil tem alguma proposta de incluir essas pessoas com o Real digital, ou em paralelo a ele.
“A gente considera que o PIX ele oferece já os instrumentos para esse mecanismo de bancarização”.
O economista do BCB afirmou que as instituições de pagamento tem acessos a processos simples de pagamento e contas são criadas rapidamente. Além disso, as taxas de serviço são baratas em bancos e fintechs brasileiras, o que atrai brasileiros.
“A gente vê que tem ganhos ainda a serem feitos, mas no trabalho do Banco Central a principal ferramenta na inclusão da bancarização é por meio de ferramentas que já estão disponíveis. Percebemos haver um problema de inclusão digital no país que tem que ser avançado, as pessoas precisam ter um acesso à banda larga para ter confiabilidade nesses serviços de pagamentos digitais que estão hoje disponíveis. A CBDC [Real digital] vai ser mais uma opção, mas não vai ser esse o diferencial da CBDC.”
Se CBDC for lançada em momento correto, ela terá adoção da população mesmo com maior desafio sendo a privacidade
Fabio ainda disse que se o projeto fosse lançado como o Banco Central do Brasil quer nos estudos atuais, fomentando inovações no mercado financeiro e novos produtos ao mercado, a realidade ainda está muito distante do ideal.
O economista do BCB afirma que o mercado brasileiro não aceitaria o Real digital agora, mas que com o Open Banking e inovações que deverão chegar no mercado em breve, a população deverá compreender mais sobre ferramentas digitais.
Assim, caso seja lançado em um momento correto para a população, Fabio acredita que o CBDC brasileiro terá uma boa adoção. Em relação à privacidade, ele não acredita que esse atributo traga um empecilho para a moeda digital nacional seja amplamente utilizada.
“A questão específica que traz mais resistência para a CBDC é a questão do sigilo. As pessoas hoje que estão acostumadas a usar ferramentas do ambiente cripto, a maioria delas, a maioria delas não, mas uma boa parte delas, acha que a privacidade é uma coisa muito importante e que a informação estar apartada de qualquer sistema centralizado é uma coisa muito importante.
Mas isso não é a visão da maioria das pessoas, a maioria das pessoas não tem problema de ter seus dados em um banco de dados centralizado desde que elas tenham confiança na instituição que tá fazendo a guarda daqueles dados, como hoje nossos dados estão nos bancos, nos bancos centrais e governos e a gente espera manter esse mesmo nível de privacidade que está disponível para o cidadão com a nova moeda digital.”
Moeda do PSG aceitada pelo Messi é um grande exemplo de aceitação do mercado
O economista do Banco Central do Brasil ainda disse que a recente aceitação do jogador Leo Messi pelo token do PSG foi um importante exemplo de aceitação da tecnologia pelo mercado.
Dessa forma, o BCB trabalha com a hipótese que os bancos também já entendem que a tecnologia do CBDC do banco central é importante para o futuro do mercado financeiro brasileiro.
Contudo, diferente do Bitcoin, considerado uma moeda especulativa pela autarquia, e até do token do PSG, Fabio declarou que o Real digital não deverá ter um valor volátil no mercado, que tem como lastro a política monetária e fiscal do BCB na moeda.
No futuro, a intenção é que a moeda em espécie fique cada vez mais rara no mercado, com a maior parte das transações fiduciárias sendo registradas no sistema do Banco Central do Brasil, realidade que poderá alterar até o futuro da Casa da Moeda.
Com Real digital, Banco Central do Brasil não tem intenção de regulamentar o Bitcoin como fez El Salvador, país que também tem muitos desbancarizados
Em uma das últimas perguntas feitas para Fabio Araujo, o economista do BCB foi questionado sobre a regulamentação do Bitcoin no Brasil, se poderia ser feita nos moldes de El Salvador.
No entanto, Fabio reforçou que a visão da autarquia hoje é que o Bitcoin é um ativo especulativo e não uma moeda para se fazer contratos de transações. Dessa forma, a regulamentação do Bitcoin no Brasil não seguirá El Salvador, apesar de que o banco central não quer proibir ninguém de utilizar essa tecnologia.
“Pra gente é mais ou menos como se você tivesse perguntando assim: o Banco Central poderia usar ação da Apple, Google ou Petrobras para fazer transações aqui dentro do país? É um ativo, as pessoas têm interesse em ter em suas carteiras, mas não é um ativo bom para fazer compra e venda.”
O economista ainda disse que para denominar tudo em Bitcoin é muito complicado para um país.
Vale notar que os desbancarizados de El Salvador utilizam a criptomoeda ao invés de bancos naquele país, o que talvez pode se tornar uma realidade também no Brasil, mesmo com o Real digital.