Blockchain na Amazônia: Como os Paiter-Suruí da aldeia Gamir usam Web3 para proteger a floresta e conquistar autonomia

O uso da Web3 pelos Paiter-Suruí transcende a mera especulação financeira. Trata-se de uma ferramenta poderosa para a soberania, sustentabilidade e inclusão social, que integra sabedoria ancestral e tecnologias descentralizadas para enfrentar os desafios da floresta e fortalecer a comunidade.

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No dia 9 de agosto, foi celebrado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, data estabelecida pela ONU para reconhecer as contribuições, lutas e direitos dessas comunidades em todo o mundo.

É nesse contexto que apresentamos este artigo, trazendo uma perspectiva única sobre como criptomoedas e blockchain podem ser ferramentas para promover autonomia, sustentabilidade e preservação cultural no coração da Amazônia.

Nossa intenção é mostrar, por meio da experiência do povo Paiter-Suruí da Aldeia Gamir, que a tecnologia pode ser aliada na proteção territorial e na valorização dos saberes ancestrais, fortalecendo o protagonismo indígena na era digital.

A coautoria é de Uraan Anderson Suruí, vice-cacique geral do povo Paiter-Suruí e cacique da Aldeia Gamir. Graduado em Educação Básica Intercultural pela Universidade Federal de Rondônia, Uraan é idealizador da Amazon Tech House, um projeto pioneiro que capacita 40 jovens indígenas da Aldeia Gamir em tecnologias como blockchain e criptomoedas.

Seu trabalho reflete o esforço do povo Paiter-Suruí, que reúne cerca de 1.800 pessoas no território, para unir saberes tradicionais e tecnologias digitais em prol da autonomia, gestão e proteção territorial e preservação da cultura.

Historicamente, os Paiter-Suruí passaram por grandes desafios, enfrentando uma drástica redução populacional após o contato com não indígenas na década de 1960, devido a doenças e conflitos.

Desde então, a recuperação demográfica e a proteção do território contra invasores ilegais tornaram-se prioridades para a comunidade. Nesse contexto, o uso de tecnologias tem evoluído significativamente: o acesso a smartphones e ferramentas de geoprocessamento deu lugar a soluções mais avançadas, como o uso de blockchain e criptomoedas, que fortalecem tanto a proteção territorial quanto a governança comunitária e a inserção em mercados globais.

Um dos marcos mais significativos dessa transformação é a própria Amazon Tech House, localizada a 480 km de Porto Velho. O centro, que conta com internet via satélite — recurso essencial em um país onde 36 milhões de pessoas ainda não têm acesso à rede — é gerido pelo Instituto Wãwã Ixotih em parceria com o Centro Palagah Global e a Play4Change.

Na Tech House, jovens indígenas recebem formação em linguagens de programação como Python e Solidity, robótica e desenvolvimento de smart contracts para blockchain. A proposta vai além do aprendizado técnico: busca capacitar a comunidade a criar soluções digitais inovadoras para desafios locais e globais.

Entre os projetos já em andamento, destacam-se sistemas de monitoramento do desmatamento por meio de APIs conectadas a redes descentralizadas e a criação de NFTs que tokenizam artesanatos e narrativas ancestrais, assegurando a propriedade intelectual e gerando uma fonte direta e justa de renda para os criadores.

Esse processo é apoiado pela organização Play4Change (https://www.play4change.io/), que fornece infraestrutura essencial — computadores, softwares e conectividade via Starlink pelo projeto Conexão Povos da Floresta — com os equipamentos de informática do espaço viabilizados com apoio da Polygon e da Coursed Stone, e programas educacionais desenvolvidos em parceria com a CoinTimes.

Além disso, a Play4Change promove eventos como hackathons e workshops, empoderando os jovens indígenas para que eles próprios liderem os projetos Web3 (internet descentralizada baseada em blockchain) da comunidade. O envolvimento em eventos como o ReFi Summit permite que os Paiter-Suruí apresentem soluções de financiamento regenerativo baseadas em tokens, atraindo parcerias globais e ampliando o impacto local. Entre as contribuições da Play4Change, destaca-se a criação do primeiro pool de liquidez em finanças descentralizadas (DeFi) voltado a uma comunidade indígena, em colaboração com parceiros do setor.

Na prática, na Amazon Tech House, os jovens desenvolvem smart contracts que automatizam transações sem intermediários, como pagamentos por entregas de café, aumentando a autonomia econômica da comunidade.

Além disso, eles criam NFTs na blockchain Ethereum para tokenizar bordados e histórias dos anciãos, com metadados que asseguram autenticidade e rastreabilidade — eliminando intermediários e garantindo renda direta. Os cursos de robótica e design digital complementam essa formação, preparando-os para atuar na bioeconomia, por exemplo, por meio do desenvolvimento de QR codes dinâmicos para rastrear produtos sustentáveis, o que valoriza os itens no mercado internacional.

Outro avanço importante é o uso da blockchain para criar registros imutáveis de mapas e atividades florestais em redes descentralizadas como Ethereum. Esses registros funcionam como provas robustas em disputas territoriais, superando limitações dos sistemas centralizados tradicionais, como cartórios. A integração com sensores IoT permite ainda o monitoramento do desmatamento em tempo real, enviando alertas imediatos para a comunidade e autoridades responsáveis, o que reforça a proteção dos 248 mil hectares do território.

No âmbito da governança, as Organizações Autônomas Descentralizadas (DAOs) têm como proposta modernizar a gestão comunitária. Nesse modelo, a comunidade pode votar em propostas — como investimentos em reflorestamento ou infraestrutura — com total transparência, reduzindo a dependência de instituições externas e aumentando o controle interno sobre recursos e decisões.

A inclusão financeira é outro aspecto fundamental dessa transformação. Com 30 milhões de brasileiros sem acesso a contas bancárias e mais de 242 milhões de smartphones em uso, criptomoedas, especialmente stablecoins como USDC, oferecem uma alternativa prática e segura. Carteiras digitais como MetaMask possibilitam transações rápidas e de baixo custo, facilitando pagamentos por produtos e doações, o que é fundamental para comunidades em regiões remotas.

Nesse sentido, a Cooperativa Agroflorestal Suruí (COOPSUR) e outras iniciativas de negócios do povo Paiter-Suruí utilizaram blockchain para rastrear produtos como café e castanha-do-pará. Cada lote recebe um hash único registrado em blockchain pública, acessível via QR code, permitindo que os compradores verifiquem a origem sustentável dos produtos. Os smart contracts automatizam os pagamentos, agilizando as vendas internacionais e agregando valor à produção local.

Estando na vanguarda da inovação tecnológica e cultural, o projeto AGABE, ainda em construção, terá um papel central na promoção da autonomia e soberania financeira da Aldeia Gamir. Por meio da implementação de tecnologias financeiras digitais e práticas inovadoras de gestão, isso fortalecerá a capacidade da comunidade de controlar seus recursos e negociar diretamente no mercado global. A ideia é expandir esse modelo além da aldeia, inspirando outras comunidades indígenas a adotarem soluções semelhantes para garantir independência econômica e sustentabilidade. O AGABE posiciona-se como um exemplo global de como unir sustentabilidade, inclusão e tecnologia para impulsionar o futuro das comunidades locais.

A segurança jurídica desse modelo é reforçada pela Lei 14.478/2022, o Marco Legal dos Criptoativos, que regula exchanges e custodiantes, oferecendo proteção contra fraudes e lavagem de dinheiro. Embora ainda não contemple diretamente DAOs ou NFTs, essa legislação vem atraindo parcerias importantes, como a do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que apoia a capacitação e o financiamento de projetos. Iniciativas como ForestiFi, que tokeniza a pesca sustentável, e Btracer, que rastreia árvores via NFTs, seguem na mesma direção e inspiram a comunidade a criar seus próprios tokens para financiar a conservação ambiental e preservar a cultura local.

O uso da Web3 pelos Paiter-Suruí transcende a mera especulação financeira. Trata-se de uma ferramenta poderosa para a soberania, sustentabilidade e inclusão social, que integra sabedoria ancestral e tecnologias descentralizadas para enfrentar os desafios da floresta e fortalecer a comunidade.

Obviamente, existem desafios a superar — desde a infraestrutura limitada até a necessidade de ampliar a participação e garantir a autonomia plena da comunidade na gestão dessas tecnologias.

Ainda assim, o exemplo dos Paiter-Suruí é uma prova concreta de como inovação tecnológica e tradição podem caminhar juntas para proteger a comunidade, sua cultura e autonomia, ao mesmo tempo em que ajudam a preservar um dos biomas mais importantes do planeta.

Esta é uma inspiração para toda a sociedade: quando comunidades indígenas lideram o próprio futuro digital, o impacto vai muito além da tecnologia — é uma revolução pela justiça social, ambiental e cultural que merece ser acompanhada, apoiada e celebrada.

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