Após um período de dois anos de rigorosas restrições às atividades relacionadas a criptomoedas, a China sinalizou uma mudança de postura com um recente anúncio do Ministério da Informação e Tecnologia.
A nota divulgada pelo ministério indica um renovado interesse nas tecnologias emergentes da Web3.0, incluindo Metaverso, tokens não fungíveis (NFTs) e blockchain.
A nova postura surge dois anos depois da proibição da mineração de bitcoin no país e cinco anos após o fechamento das exchanges de criptomoedas, marcando uma reviravolta na abordagem da China com os ativos digitais.
China flerta com criptomoedas, mas não menciona o Bitcoin
O comunicado do ministério enfatiza a importância atribuída ao desenvolvimento da indústria Web3.0, destacando a pesquisa e a implementação de conceitos como gerenciamento descentralizado de identidade e avatares digitais.
A menção de plataformas como Changan Chain, Ant Chain, Huawei Cloud Blockchain, Baidu Super Chain e Quchain demonstra o investimento em infraestruturas blockchain controláveis e independentes.
A Changan Chain, por exemplo, promoveu inovações tecnológicas com mais de 50.000 desenvolvedores, lançando 15 versões e estabelecendo mais de 120 parcerias no ecossistema industrial.
Curiosamente, a nota do ministério não menciona diretamente criptomoedas populares como bitcoin e ethereum, mas a citação aos NFTs, anteriormente restringidos nas principais plataformas, indica uma abertura para o setor de criptoativos.
Setor imobiliário em crise
A mudança de atitude pode ser uma resposta à deterioração da situação econômica na China, exemplificada pela crise da China South City, que recentemente alertou sobre sua incapacidade de pagar títulos com vencimento no próximo ano.
A reestruturação da dívida da China South City, estendendo o vencimento e reduzindo as taxas de juros, reflete as tensões na indústria imobiliária do país, com a crise imobiliária levantando preocupações não apenas sobre as finanças locais, mas também sobre as finanças federais a médio prazo.
O Banco Popular da China diz estar evitado uma abordagem de “impressão de dinheiro” ao estilo do Federal Reserve dos EUA em 2008, optando por deixar o governo lidar com a crise por meio de medidas fiscais.
Embora a crise econômica não tenha atingido um estado de emergência, as preocupações persistem de que possa afetar as finanças do país. Exemplos históricos, como a falência do Northern Rock no Reino Unido e a subsequente crise do Lehman Brothers nos EUA, sugerem que tais crises podem evoluir lentamente.
Diante dessa incerteza, investidores informados na China podem estar buscando diversificar seus ativos, com alguns voltando-se para criptomoedas em jurisdições como Hong Kong.
O Índice de Ações de Xangai, que caiu para perto de seu nível mais baixo em três anos, reflete essa instabilidade econômica. Desde a queda do índice em 2015, investidores chineses ricos vêm buscando alternativas de investimento, incluindo o mercado imobiliário e, potencialmente, o Bitcoin.
China e criptomoedas
A relação da China com as criptomoedas tem sido complexa e muitas vezes contraditória. As autoridades chinesas inicialmente se opuseram aos ativos digitais após debates em 2016-17, embora nunca tenha sido fornecida uma explicação oficial para a repressão.
As recentes ondas de repressão, culminando na proibição da mineração de criptomoedas, não impediram os cidadãos chineses de se envolverem com criptomoedas. Essa persistência demonstra a resiliência do interesse em criptomoedas na China, apesar das restrições governamentais.
O anúncio do Ministério da Informação e Tecnologia representa um momento potencialmente transformador para o setor de criptomoedas e tecnologias emergentes na China.
Enquanto o país enfrenta desafios econômicos e incertezas, a adoção e a integração de tecnologias como Web3.0 e blockchain podem abrir novos caminhos para a inovação e o crescimento econômico.
No entanto, resta ver como essa abordagem renovada se alinhará com as políticas anteriores e que impacto terá no cenário global de criptomoedas e tecnologia.