O Bitcoin Core será atualizado para a versão 30 no início de outubro. À medida que a data se aproxima, discussões sobre a “atualização que pode matar o Bitcoin” aumentam.
A polêmica gira em torno do abandono dos limites no OP_RETURN, campo usado para inserir dados arbitrários em uma transação.
Nas redes sociais, desenvolvedores e investidores dividem opiniões. Enquanto alguns argumentam que esses dados são spam, outros afirmam que este é um problema sem solução.
Outro sinal de desaprovação é o crescimento do uso do Bitcoin Knots, um full node alternativo ao Bitcoin Core.
Atualização polêmica está sendo desaprovada por parte da comunidade, mas empurrada pelos principais desenvolvedores
Dennis Porter, CEO do Satoshi Action Fund, aponta que 28 revisores aprovaram as mudanças no OP_RETURN enquanto 56 se mostraram contra. Ou seja, uma razão de 1 para 2 que mesmo assim será aprovada.
“Se eliminar o limite do OP_Return é uma ideia tão boa, com “tanto consenso geral”, por que apenas 28 revisores foram a favor (ACK) e 56 contra (NACK)?”, questionou Porter. “Essa é uma mudança muito controversa, com o dobro de revisores contra do que a favor. O Core ignorou os revisores. Por quê?”

Nos comentários, o desenvolvedor Mark Erhardt (@murchandamus) observa que o PR em questão não foi aprovado e, além disso, a maioria das pessoas da captura de tela faz um trabalho trivial e suas opiniões não deveriam ser consideradas.
Em destaque, ele afirma que somente Luke Dashjr (luke-jr) seria relevante entre os que votaram contra. Do outro lado estão 8 desenvolvedores, incluindo Gloria Zhao (glozow), Gregory Sanders (instagibbs), Sjors Provoost (Sjors), Pol Espinasa (polespinasa) e outros.
Luke Dashjr acredita que mudança terá implicações legais sobre mineradores
Luke Dashjr, um dos desenvolvedores mais polêmicos e vocais, já chegou a afirmar que “se não resolvermos isso, o Bitcoin não vai sobreviver”. Em tuíte publicado na semana passada, ele apontou possíveis consequências dessa mudança.
“Se o Bitcoin passasse a suportar armazenamento de dados, os mineradores seriam legalmente obrigados a começar a censurar de verdade.”

Na citação, outro usuário nota que os dados seriam armazenados em ‘texto simples’, ao contrário do que acontece com os Inscriptions.
“Quando um usuário de Bitcoin precisar recuperar seus dados, ou tiver seu sistema apreendido por um governo e fizer uma análise superficial de seu conteúdo, ambos terão que lidar com os dados arbitrários, agora completamente em texto simples, que qualquer pessoa anônima os forçou a armazenar e/ou processar em seu sistema para participar da rede do Bitcoin”, escreveu o usuário value_record.
“Use sua imaginação para ver o quão ruim isso pode acabar para as pessoas.”
Nos comentários, algumas pessoas argumentam que já é possível armazenar esses dados maliciosos. O usuário contra-argumenta afirmando que eliminar o limite no OP_RETURN fará com que a situação piore.
Adam Back afirma que rodará o Bitcoin Core v30
Outro nome de peso que entrou na discussão foi Adam Back, criador do Hashcash. Sua visão é que no futuro será impossível analisar o que são transações puras de Bitcoin das que contém dados irrelevantes.
“O risco de centralização dos mineradores é um risco maior do que o spam de JPEGs, que de qualquer forma não pode realmente ser interrompido”, comentou Back.
“Aqui está um argumento que considero mais convincente sobre os trade-offs do spam fora de controle: à medida que a tecnologia do Bitcoin melhora, deveríamos ter mais fungibilidade criptográfica, e a blockchain converge para um acumulador criptográfico. Você não consegue censurar nada, não consegue filtrar nada, pois tudo são apenas blocos de dados.”

Brasileiros também possuem pontos de vistas diferentes
No Brasil, o perfil da Praia Bitcoin Brazil, uma das maiores comunidades de Bitcoin do mundo, se mostrou contra a polêmica atualização.
“Estou pesquisando os desenvolvedores que removeram os limites do OP_RETURN. Eles são responsáveis por iniciar a destruição da única rede pública descentralizada que temos! Parece que eles estão comprometidos”, escreveu o perfil.
“Precisamos conduzir uma investigação profunda sobre todas as mudanças que permitem spam e a disseminação de conteúdo sensível ou ilegal no Bitcoin.”

Nos comentários, outros brasileiros discordaram da opinião do perfil. Dentre os destaques estão Felipe Demartini (Namcios), Associado da UTXO Management, e Narcélio, um dos maiores especialistas em Bitcoin do Brasil.
“Vc ainda não entendeu o bitcoin”, disse Namcios. “O bitcoin é um protocolo neutro, regido por código e matemática. Busque entender a história disso que vc está falando. Porque que não é novo, porque que não apresenta risco, etc.”
Já Narcélio aponta que “não há definição objetiva de “transação spam”.”
“Não é possível impedir o registro de dados arbitrários na blockchain. Filtros em fullnodes não são efetivos.”

Adoção do Bitcoin Knots em alta
Além de longos tuítes, aqueles que estão sendo contra a atualização do Bitcoin Core v30 estão migrando para o Bitcoin Knots.
Dado do site Coin Dance mostram que hoje os Knots representam 17,2% dos nodes públicos da rede. No início do ano somente existiam somente 400 desses nodes, mas agora são 4.000.


Por fim, a verdade é que independente do que aconteça, dificilmente veremos uma divisão da rede como aconteceu em 2017 com a criação do Bitcoin Cash ou qualquer problema maior.
Independente disso, as discussões mostram a complexidade de um sistema descentralizado.