Um token chamado MITO22 foi criado na rede Binance Smart Chain para supostamente apoiar a candidatura a reeleição de Jair Bolsonaro (PL-RJ), violando a legislação eleitoral brasileira.
O site “www.mito22.com” deixa claro que o propósito da criação, feita por dois brasileiros que se autointitulam soldados, é para apoiar a eleição de Bolsonaro em 2022. Vale lembrar que o atual presidente deixou marcado para o dia 26 de março o lançamento do seu plano de pré-candidatura a reeleição, que ainda não é oficial.
No site, os criadores alegam ser defensores da família, da moral e vida, sendo contra comunistas e com objetivo de “afastar esquerdistas”. Uma plataforma online será lançada para venda de bonés, camisas e outros itens comprados exclusivamente com o token, segundo o site.
Sobre o assunto de criptomoedas, Jair Bolsonaro já afirmou que não sabe nada sobre o assunto, assim como 99% da população brasileira.
Token ‘MITO22’ pode violar lei eleitoral, diz regras do TSE
O ano de 2021 viu florescer a criação de criptomoedas meme, ou meme tokens, sendo vários deles sem um caso concreto de aplicação. Ou seja, são projetos criados por anônimos que captam recursos e podem colocar em risco patrimônio dos investidores.
Não está claro se esse é o caso, contudo, o MITO22, criado com 22 milhões de unidades como um token pela rede BscScan. Com 232 carteiras detendo unidades do token, 87% da moeda está concentrada em apenas dois endereços, sendo um associado a PancakeSwap, uma corretora descentralizada dessa rede.
Segundo apuração do Estadão com o TSE, o Tribunal Superior Eleitoral desconhece o token e se manifestou dizendo que doações em criptomoedas são proibidas no Brasil. Além disso, qualquer valor a ser recebido por candidatos só podem começar a ser enviados a partir da segunda quinzena de maio.
Nem o Palácio do Planalto e nem o partido de Bolsonaro, o PL, comentaram o caso a reportagem que publicou sobre a criação.
Riscos de tecnologia deste token
A criação de um token pode ser feita em questão de minutos e o processo de listagem em uma corretora como a PancakeSwap é liberado para qualquer um com conhecimento técnico, visto que não depende da corretora sua listagem.
Ou seja, não é porque o token usa a imagem do presidente e está em uma corretora que ele detém garantias. O Estadão conversou com os responsáveis pelo projeto, que não quiseram se identificar e sustentaram que apenas isso não é garantia de confiança.
Já o Livecoins conversou com o especialista em contratos inteligentes Gustavo Toledo, que ao analisar a tecnologia do token disse que ele é comum, sem indícios da presença de riscos na programação, como rugpull ou honeypot.
Além disso, ele informou que este se configura claramente como um meme token, projetos que não procuram ter muitos fundamentos técnicos.
“A proposta está clara que o dinheiro arrecadado da venda será para vender coisas do Bolsonaro no site e não promete ganho nenhum”.
No entanto, o token permite aos seus criadores aumentarem as taxas de transações pela rede, o que é um problema que se for acionado pode punir detentores do ‘MITO22’. Outro perigo que poderia ser acionado caso os criadores quisessem é um mecanismo de bloquear endereços, ou seja, eles podem censurar usuários detentores caso queiram.
Os desenvolvedores também detêm um grupo no Telegram com mais de 30 mil inscritos usado para comunicações. O perfil do Twitter do projeto foi criado recentemente e não oferece muitas informações, além de seguir apenas os perfis de Jair, Carlos e Eduardo Bolsonaro, além de Elon Musk, CEO da Tesla.
https://twitter.com/mito22oficial/status/1496114949856411656
Em um mercado recheado de golpes contra investidores, cada vez mais sofisticados, o nascimento de mais um projeto ligado a uma figura pública e em ano eleitoral é algo totalmente passível de desconfiança, devendo interessados no assunto tomar cuidado com promessas.
