Símbolo do Bitcoin. Fonte: Midjourney.
O desenvolvedor Bryan Bishop publicou um longo texto falando em “privatizar o Bitcoin”. Na sua visão, comentários de pessoas comuns estão gerando desinformação, polêmicas artificiais e, por fim, perda de tempo.
A ideia de Bishop surge após uma mudança no código, programada para ser lançada na próxima versão do Bitcoin Core, ser rejeitada por parte da comunidade.
Na data, a desenvolvedora Gloria Zhao chegou a deletar seu Twitter devido à pressão externa. Em seu retorno, ela afirmou que redes sociais poderiam estar sendo usadas para ataques, impedindo que algo seja aprovado.
Para privatizar o Bitcoin, Bryan Bishop defende que a exposição a conteúdo técnico pode causar confusão em pessoas leigas. Na sua visão, isso já aconteceu antes e acontecerá novamente.
“Gostaria de defender a ideia de privatizar o desenvolvimento do Bitcoin Core em uma plataforma de colaboração como o GitLab, restrita a membros.”
Suas sugestões incluem:
Em suas palavras, essa política de porta aberta permite que alguém “defeque em sua mesa” enquanto você trabalha.
“Com planejamento, é possível estruturar maneiras melhores de captar opiniões do público sem misturar discussões fora de tópico com o conteúdo técnico”, opinou Bishop.
Explicando seu posicionamento, o desenvolvedor aponta que alguns de seus colegas já trabalham dessa forma em empresas privadas focadas no desenvolvimento do Bitcoin, como acontece com a Chaincode, Brink e outros.
“O problema é que muitas decisões acabam sendo discutidas nesses espaços privados, e quem não participa presencialmente fica de fora”, continuou Bishop, apontando que o desenvolvimento do Bitcoin já está se tornando menos público.
Outro termo que chama atenção é a palavra “brigading”, ou seja, um ataque coordenado em redes sociais para manipular discussões. Segundo o desenvolvedor, isso seria evitado com essa privatização.
“Não se trata de “governança do Bitcoin”, mas sim de ferramentas contra ameaças reais, incluindo Estados-nação e grupos com vastos recursos, que odeiam o que o Bitcoin representa. Isso nunca aconteceu com nenhum outro projeto open-source.”
O texto foi publicado tanto no Google Groups quanto no X, antigo Twitter. No primeiro caso, outros desenvolvedores como Michael Folkson, Antoine Poinsot e Antoine Riard publicaram longas respostas sobre a ideia, alguns simpatizando com ela, outros nem tanto.
Desenvolvedores já publicaram opiniões polêmicas sobre atualizações do Bitcoin. Além da recente remoção do limite do campo OP_RETURN, nos últimos anos também vimos uma longa discussão em torno do BIP 119 e até mesmo a ideia de emissão de cauda, o que faria o Bitcoin ultrapassar seu limite de 21 milhões de unidades.
Sem a opinião do público, algumas dessas melhorias poderiam ser aprovadas de imediato, podendo causar efeitos ainda piores que longas discussões, incluindo forks.
Nas redes sociais, muitos seguidores de Bishop criticaram o posicionamento do desenvolvedor.
“Esse é o tipo de besteira reacionária que torna você, do tipo desenvolvedor e engenheiro, completamente inútil nas dinâmicas políticas e sociais. Arrume um uso melhor para o seu tempo, sério. Esse é o post mais constrangedor que eu li sobre todo esse assunto”, comentou Alex B. da ArcadeOS.
“Então você quer formar uma empresa privada para desenvolver um projeto e uma blockchain FOSS (Free and Open Source Software)? Isso não é basicamente uma secessão, para que as bases assumam o controle? Ninguém no mundo quer uma moeda privatizada. FOSS é uma característica. Se você não aguenta a pressão, talvez isso não seja mais para você”, disse outro usuário.
“Esse problema de moderação é raro e ocorre principalmente com PRs controversos. No geral, a colaboração no GitHub funciona bem. Sua solução proposta parece exagerada, como usar um martelo para esmagar uma mosca que já foi embora”, comentou o desenvolvedor Nicolas Dorier.
“Muita conversa bonita, só para dizer que o Bitcoin Core deveria ser isolado das pessoas que ele afeta. Se você acha que os desenvolvedores devem operar em silos privados e sem responsabilidade, vá construir o Ethereum. O Bitcoin não precisa de uma panelinha. Precisa de uma limpeza”, disse um quarto usuário.
A postagem conta com mais de 70 comentários, sendo difícil encontrar um único a favor da ideia. Outro comentário em destaque questiona se isso foi inspirado pelo Google que, em março, anunciou que estará desenvolvendo o Android OS de forma privada.
Por fim, outro problema apontado é que essa política fecharia as portas do Bitcoin para novos desenvolvedores.
A discussão pode ser acompanhada tanto pelo Google Groups quanto pelo tuíte abaixo.
THE CASE FOR PRIVATIZING BITCOIN CORE:
I believe that reflection is critical for curiosity, understanding, improvement, and progress. And recent activity on the Bitcoin Core github account has given me an opportunity to re-evaluate my beliefs about open-source software…
— Bryan Bishop (@kanzure) June 10, 2025
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