A empresa Atlas Quantum tem atrasado saques de clientes desde 2019, e uma das empresas que afirmam na justiça que perdeu seu investimento é das Honduras. Com cerca de R$ 70 milhões, em Bitcoin, presos na Atlas, a Interforex S/A recorre na justiça brasileira para tentar reaver a quantia milionária.
A Atlas Quantum foi uma fintech que surgiu no Brasil oferecendo rendimentos com Bitcoin para seus clientes. Dessa forma, ao citar operações com robôs de arbitragem, oferecia rendimentos de 5% ao mês, conforme mostra um vídeo gravado com Marcelo Tás, famoso apresentador.
Tal remuneração atraiu investidores do mundo todo para o negócio, que depositavam Bitcoin e esperavam pelos rendimentos mensais. Quando tudo ia bem, a fintech processava os saques dos clientes em até um dia (D+1). Quando a CVM bateu na porta do negócio, entretanto, o prazo passou para D+5, D+30, e segue indefinido hoje.
Além disso, a Atlas converteu o saldo dos clientes em uma criptomoeda própria, chamada de Bitcoin Quantum. Com valor apenas dentro da plataforma da empresa, deveria teoricamente ter paridade com o Bitcoin, de 1 para 1. Nem assim a credibilidade da empresa ficou melhor, acumulando ainda mais processos na justiça brasileira.
Empresa de Honduras, Interforex tem dificuldade de reaver R$ 70 milhões presos na Atlas Quantum
Ao criar uma sensação para investidores, a Atlas pode ter captado mais que 7500 Bitcoins de clientes. Com o preço do Bitcoin hoje, com cada unidade cotada em R$ 50 mil, o valor supera os R$ 376 milhões de reais, que o grupo Atlas Quantum teria captado.
De fato, a Interforex é uma corretora de Forex, criptomoedas e soluções OTC, com sede em Honduras. Ao verificar os negócios da Atlas no Brasil, com bons rendimentos associados ao Bitcoin, a Interforex acreditou na solidez da fintech brasileira.
A solidez e competência da Atlas pareciam incontestáveis, Eis que divulgou possuir uma plataforma online acessível 24h [SIC] por dia, veiculou anúncios nos principais canais de mídia, foi referendada por diversos veículos de comunicação e, não suficiente, obtida rendimentos interessantíssimos.
Dessa forma, a Interforex investiu 1453 Bitcoins na Atlas, acreditando na rentabilidade automatizada prometida. Cabe o destaque que, deste alto valor aplicado, uma grande parte é dos sócios da Interforex, mas pode haver dinheiro de clientes da empresa hondurenha também.
Assim, a Interforex, ora Exequente, abriu uma conta junto à Atlas, por meio de sua plataforma online (https://atlasquantum.com/) e aplicou grande parte do patrimônio de seus sócios em sua carteira de bitcoins. Esse valor, por sua, então custodiado pela Atlas, deveria ser por ela investido na compra e venda automatizada de bitcoins pelas corretoras utilizadas pela empresa (exchanges), através, justamente, do processo de arbitragem já mencionado.
Problemas após atuação da CVM prejudicaram Interforex
De acordo com o Processo 1056034-71.2020.8.26.0100, que corre na Justiça Paulista e que o Livecoins teve acesso, os problemas maiores para a Interforex começaram após a atuação da CVM contra a Atlas. A empresa afirma que ainda consegue acesso à sua conta, mas seu saldo está todo em Bitcoin Quantum (BTCQ), shitcoin da Atlas.
Quando a Atlas teve problemas com um stop order da CVM, os atrasos em pagamentos começaram. Contudo, em outubro de 2019, Rodrigo Marques, CEO do Grupo Atlas, assinou um Instrumento de Confissão de Dívida, no valor de 1366 Bitcoins. O valor hoje é superior a R$ 68 milhões, com a cotação do Bitcoin hoje.
Mesmo confessando a dívida, a Atlas nunca liberou a quantia para a Interforex. A empresa das Honduras, que acreditou na solidez da Atlas Quantum, agora recorre na justiça para reaver o que perdeu.
Em resumo, vê-se que a Atlas não demonstrou a higidez ou a segurança de seu negócio, sempre gerido, como se vê documentos [SIC], exclusivamente por Rodrigo Marques dos Santos. Em meio às discussões junto à CVM, os clientes não conseguiam mais resgatar seus investimentos ou bitcoins. E para a Exequente [Interforex], como visto acima, não foi diferente. Investimentos feitos, nem os pedidos de resgate, nem a obrigação pactuada via confissão foram cumpridos.
“Grupo Atlas Quantum é destinado à conduta fraudulenta”
A defesa da Interforex ainda apontou que, além da atuação da CVM, o Ministério Público e a CPI das Pirâmides, que corre na Câmara dos Deputados em Brasília, já investigaram as ações da Atlas. A empresa de Honduras sustenta que o Grupo Atlas Quantum é destinado à conduta fraudulenta.
“A Atlas, assim se intitulado aqui o grupo como um todo, funciona como um conglomerado claramente destinado à conduta fraudulenta. Confundem-se em si mesmas, atuam em desprestígio da CVM, é devedora declarada, impossibilita um sem número de investidores de resgatarem seus investimentos, seja em numerário, seja em bitcoins, mas seguem operando como absolutamente nada abalasse suas condutas”
Além disso, a Interforex descobriu que as corretoras que a Atlas enviava Bitcoins eram: “Bitfinex, Binance, Coinbase, Kraken, Bittrex, Bitstamp, Mercado Bitcoin, Foxbit, Braziliex, Citar Tech, Coinbr, Intersowa, Bitcambio, Negociebitcoins [SIC]“. Todas as corretoras teriam sido notificadas pela Interforex sobre as suspeitas de atividades de fraude da Atlas, assim como lavagem de dinheiro, ainda em 2019.
Dessa forma, a Interforex solicita na justiça o bloqueio dos bens da Atlas, com urgência. A empresa de Honduras também espera que a Atlas Quantum identifique o paradeiro de seus Bitcoins. A Interforex espera que a Atlas os devolva conforme confissão de dívida, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. Por fim, a justiça ainda analisa o pedido.
Em casos como esse, de processos judiciais, a Atlas não costuma comentar, mas o espaço segue aberto para manifestação. Cabe o destaque que esse é o segundo processo de estrangeiros feito contra a empresa em menos de 30 dias. No mês de junho, o Livecoins citou o caso de um venezuelano que também busca reaver seus Bitcoins presos na Atlas Quantum.