Bidzina Ivanishvili, ex-Primeiro-ministro da Geórgia, alega que George Bachiashvili lhe deve bilhões em Bitcoin. Foto: Ernests Dinka, Saeimas Kanceleja/Flick.
Bidzina Ivanishvili, ex-Primeiro-ministro da Geórgia, está sendo acusado de sequestrar e torturar George Bachiashvili, um empresário georgiano com quem ele fez negócios há mais de uma década.
A disputa envolveria a soma de 12 mil bitcoins, hoje avaliados em US$ 1,5 bilhão (R$ 7,9 bilhões). A quantia foi minerada ainda em 2015, quando a criptomoeda operava abaixo dos US$ 1.000.
Além de ser considerado a pessoa mais rica da Geórgia, Bidzina Ivanishvili também é citado como alguém que trabalha nos bastidores para interferir nas eleições locais.
Isso é tão bem conhecido que até mesmo os EUA sancionaram o ex-Primeiro-ministro georgiano com a Lei Magnitsky em dezembro do ano passado.
Do outro lado da história aparece George Bachiashvili, um empresário nomeado em 2012 como vice-diretor executivo do Partnership Fund, um fundo de investimento estatal da Geórgia, pelo próprio Ivanishvili, bem como CEO do Georgian Co-Investment Fund (GCF) em 2013.
Embora o Bitcoin ainda fosse um investimento desconhecido para a maioria das pessoas, o país já abrigava uma das maiores empresas do setor na época, a Bitfury — focada na fabricação de ASICs, mas também em mineração direta.
Sob comando do GCF, Bachiashvili ajudou na expansão da Bitfury, mas foi além, decidiu arriscar a sua própria pele.
Além de investir US$ 1,3 milhão de seu próprio dinheiro em 2015, o executivo também tomou um empréstimo de US$ 5 milhões de um banco então pertencente a Ivanishvili para alugar poder computacional da própria Bitfury.
O negócio deu certo. No ano seguinte, Bachiashvili tinha 24 mil bitcoins em mãos, ficando com US$ 12 milhões em BTC após vender metade dessa soma para quitar seu empréstimo inicial.
Embora 12 milhões de dólares já sejam uma quantia considerável, os 12.000 bitcoins de Bachiashvili passaram por uma hipervalorização na última década e hoje estão avaliados em US$ 1,5 bilhão.
Já em 2023, o ex-Primeiro-ministro da Geórgia contestou o empréstimo de Bachiashvili.
A alegação é que o acordo do empréstimo lhe dava direito a uma parte dos lucros com a mineração.
Portanto, Ivanishvili passou a acusar o executivo de roubo sobre esses bitcoins.
O caso foi parar na justiça. Percebendo que seria condenado, talvez pela influência de Ivanishvili, Bachiashvili acabou fugindo do país, saindo pela fronteira com a Armênia.
Usando seu passaporte russo, o executivo então voou para os Emirados Árabes Unidos. Enquanto isso, foi condenado à revelia por roubo e lavagem de dinheiro na Geórgia, com uma pena de 11 anos de prisão.
Ainda que os EAU sejam vistos como um país amigável para investidores de criptomoedas, Bachiashvili planejava viajar para a França e então para o México. No entanto, o executivo foi barrado por autoridades locais no aeroporto, que impediram sua saída.
O motivo seria um processo aberto por um empreendedor de Dubai alegando que Bachiashvili tomou um empréstimo de US$ 500.000 que nunca foi pago, acusação suficiente para trancá-lo no país.
Embora o executivo tenha conseguido se livrar dessas acusações, Ivanishvili já estava prestes a executar seu plano final.
No dia 24 de maio, um grupo de 6 a 8 homens abordou Bachiashvili. Alguns pareciam locais, outros do leste europeu.
Dois dias após ser detido, o executivo foi algemado, acorrentado e conduzido para um aeroporto privado, onde encapuzado conseguiu ver as cores da bandeira do seu país em um avião que o transportaria para fora dos EAU.
Ainda no jato, agora sem vendas nos olhos, Bachiashvili afirma ter reconhecido o chefe da agência de segurança do Estado da Geórgia, bem como um segurança de Ivanishvili.
Ao chegar em Tbilisi, capital de Geórgia, o executivo foi enviado direto na prisão e começou a ouvir ameaças. Como exemplo, disseram para ele entregar suas carteiras de criptomoedas e contas bancárias, caso contrário ele encontraria personagens perigosos em sua estadia na cadeia.
Bachiashvili negou e dias após foi espancado.
“Havia uma poça de sangue na cela, as paredes também estavam cobertas de sangue”, escreveu o executivo em uma carta ao seu advogado.
A defesa de Ivanishvili nega as acusações feitas por Bachiashvili e afirma que o executivo foi capturado nas fronteiras entre Geórgia, Armênia e Azerbaijão.
Por fim, muitos questionam porque os Emirados Árabes teriam compactuado com esse sequestro. Dentre as possibilidades levantadas está o desejo de ocupar um cargo na agência de turismo das Nações Unidas, então ocupado por um georgiano.
Por coincidência, a Geórgia retirou seu apoio à candidatura do georgiano Zurab Pololikashvili para um terceiro mandato e Shaikha Al Nowais, dos EAU, foi eleita como nova Secretária-Geral da OMT.
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