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Golpe de bitcoins ‘minerados’ em 2009 atrai bilionários e gera prejuízo de milhões

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Uma pessoa aparece dizendo que possui milhares de bitcoins minerados ainda em 2009. O problema, porém, é que os bitcoins estão travados e dependem de força computacional para liberar cada moeda.

É com essa história que um homem de prenome “Henrique” atraiu bilionários na capital de São Paulo e causou milhões de reais em prejuízo.

A equipe do Livecoins conversou com algumas pessoas que tiveram conhecimento do projeto que prometia um retorno lucrativo de mais de 30 mil unidades de bitcoins. Grande parte não quis se identificar e algumas pediram que nada que as ligassem ao ocorrido fosse publicado. 

No entanto, Nik Oliveira, 32, engenheiro de software e especialista em Blockchain, aceitou falar com a reportagem. Ele havia sido procurado por diversas vítimas do golpe dos supostos bitcoins minerados.

Oliveira menciona que era sempre a mesma história de um homem que teve acesso ao início do projeto do Bitcoin e começou a minerar esses ativos em 2009, antes mesmo de Satoshi Nakamoro, e afirmava precisar de investimento para destravar as moedas.

Bitcoins supostamente minerados antes da publicação do Bitcoin Core

A conversa era: “tenho uma carteira fantástica de bitcoins e preciso de alguém técnico para colocar esses bitcoins na blockchain”.

O homem se apresentava como ex-engenheiro do Google, professor da USP e como umas das primeiras pessoas que mineraram Bitcoin, ao lado de Hal Finney e Satoshi Nakamoto.

Os bitcoins à primeira vista existiam, segundo explicam especialistas em Bitcoin, mas eram falsos. O golpista abria a tela do computador na carteira Bitcoin Core nas primeiras versões e lá estavam carteiras com valores absurdos de 5 mil unidades de bitcoins a 20 mil bitcoins:

“Tinha um pessoal que estava tentando desvendar uma transação em cripto que chegou para eles há mais ou menos 2 anos. Era uma carteira com valores absurdos de Bitcoin. Coisas de uma carteira com 5 mil bitcoins, outra com 8 mil bitcoins, outra com 20 mil bitcoins”.

Bitcoins falsos Bitcoin Core

Bitcoin do passado, prejuízo no presente

A busca pela tarefa de destravar os bitcoins supostamente minerados em 2009, envolveu pessoas que de fato acreditaram no projeto.

Oliveira conta que a história era bem elaborada, a qual dava nó até mesmo em gente especializada como ele:

“Fiz umas reuniões presenciais com Henrique e ele me contou essa história também. E nesse meio tempo o Henrique disse que precisava de grande poder de processamento de máquina para botar isso na rede.

Daí compraram computadores potentes padrão de mineração para poder colocar esses bitcoins no ar. Sempre que você abre o Bitcoin Core, consegue ver os bitcoins lá dentro”, afirma.

Uma dessas pessoas conversou com a equipe de reportagem, mas pediu para não ser identificada, a ela será atribuída um “prenome” fictício de Carlos.

Esse investidor ao tomar conhecimento de bitcoins minerados e travados, aplicou milhares de reais para desenvolver máquinas potentes a fim de solucionar o caso:

“Eu mesmo gastei dinheiro para montar um servidor, um computador potente. Gastei em torno de 90 a 100 mil reais para ajudar a criar o computador para desvendar o mistério do bitcoin,  mas não apliquei diretamente”.

bitcoins minerados em 2009

Amarga experiência

Carlos acabou experimentando uma amarga experiência. Ele desconfiou que aquilo poderia ser um golpe e nisso decidiu chamar outras pessoas no seu projeto para saber se realmente existia esses bitcoins e concluiram que de fato não existiam:

“Ele fica usando isso para ganhar dinheiro de outras pessoas na cara dura”, menciona Carlos.

Esse investidor conta que não foi quem mais amargou prejuízos e que soube casos de mais gente:

“Teve uma pessoa próxima ao Henrique que o ajudou bastante com dinheiro para tentar achar esses bitcoins que ele disse que achou em 2009. Muita gente foi passada para trás com isso já. Eu investi apenas em maquinário. Mas teve gente que investiu na esperança de ter esse bitcoins na realidade. Foi uma jogada para arrancar dinheiro das pessoas. Uma das vítimas aplicou cerca de 2 milhões de reais nisso”, relata.

Bitcoins falsos supostamente transferidos

Ilusionismo com Bitcoin

Nik Oliveira afirma que a receita era simples, apesar de requerer um planejamento rebuscado para sua execução. O primeiro passo era voltar no tempo em que a mineração de Bitcoin demandava menos poder computacional:

“Isso envolve alguns passos como ter o Bitcoin Core na máquina, voltar a blockchain até o período em que a força computacional era muito baixa para mineração e por isso o ano de 2009, travar o computador em 2009 e começar a minerar e começar a receber recompensa de 50 em 50 bitcoins”, explica Nik Oliveira.

Wallet dat 2009. Henrique fez dezenas de vítimas.

Deste modo, pela facilidade de minerar bitcoin naquele período, o suposto golpista escolheu o ano de 2009.

O segundo passo seria o de estar numa rede particular para que a data da máquina travada não se atualize. Em seguida, era só compartilhar essa rede blockchain privada com a provável vítima.

“Se minerar online a rede vai sincronizar e a pessoa vai perder. ao mesmo tempo offline ele não vai minerar. A forma mais simplória para travar o computador no tempo é mudando a data, mas além disso tem de fazer a edição do programa, travar para não baixar uma rede mais atualizada da blockchain. deixar ele lá e começar a minerar. Conforme vai baixando a linha do tempo da blockchain (atualizando a rede) os bitcoins vão desaparecendo”, elucida Oliveira.

Bitcoins do passado

Em outros termos, esses bitcoins supostamente minerados em 2009 seriam como um bilhete de loteria premiado no passado, mas que na realidade foram apostados hoje. É como se fosse possível mudar a data no canhoto.

Nik Oliveira explica que transacionar os bitcoins falsos envolve um show de ilusionismo em que o golpista usa um VPN, o qual desvia o olhar da vítima para uma rede fictícia que somente existe na VPN. 

Assim, mesmo que lá estejam os IPs envolvidos na operação e a transferência de bitcoins seja concluída, isso não passaria de um truque e quando a vítima volta para a rede principal da blockchain, se depara com a realidade de inexistência dos bitcoins, pois tal operação somente sucedeu na rede particular da pessoa que aplicou o golpe.

Carteira de bitcoin fora de sincronia

“Posso transferir 50 bitcoins falsos para a carteira de uma pessoa. Não vou fazer isso por uma rede padrão de computadores. Coloco meu IP e o da pessoa onde está o meu VPN, vou e transfiro o bitcoin para ela. Só que como ela tem esse desvio da VPN não está  olhando para a rede principal. O que ela vê é o meu VPN dentro da minha rede”, explica Oliveira.

Com isso, Nik Oliveira conta que pelo fato de tais bitcoins serem transacionáveis, o golpista teria o procurado por saber que o especialista havia criado em 2017 um Gateway de pagamentos com Bitcoin, a RedeCoin:

“O Henrique chegou com a história de que precisava de um Gateway de pagamentos para sincronizar essa blockchain para esses bitcoins ter valor.  Eu fui uma das primeiras pessoas que criou um gateway de pagamento de Bitcoin no Brasil. Em 2017 a Redecoin. Eu entendi que na verdade o Henrique queria que eu colocasse no meu gateway de pagamentos essa rede paralela da Blockchain”. 

ccxcxc

O golpista conseguia fazer com que essa transferência acontecesse e fosse para a carteira da vítima. Mas a partir do momento em que a pessoa desligasse a VPN e fosse para a rede principal, os bitcoins desapareceriam. 

Deste modo, o Gateway de pagamentos seria a cartada final para que o suposto golpe fosse perfeito, pois os bitcoins para todos os efeitos existiam e enquanto não fossem buscados na rede principal da Blockchain, estaria tudo da mesma forma.

Em outros termos, seria uma viagem no tempo passado em que os efeitos não sucedem no tempo presente ou como afirma Nik Oliveira “uma clonagem dos blocos que só funcionam no tempo passado e no futuro não existem mais”.

Minerando fora da rede Blockchain

Um outro especialista falou com a reportagem, mas preferiu não divulgar o nome. Ele explicou, de forma breve e sem querer adentrar no caso em si, que não se trataria de bitcoins “falsos” a primeira vista:

“Em alguns minutos é possível minerar alguns bitcoins ‘falsos’. Na verdade não seriam falsos, uma vez que seguiria a regra ainda em 2009. No entanto, Satoshi já tinha previsto a possibilidade de dois mineradores descobrirem o mesmo bloco ao mesmo tempo”.

Esse tipo de problema já havia sido previsto por Satoshi Nakamoto que, segundo especialistas, criou como solução um algoritmo para decidir qual minerador descobriu determinado bloco. 

Esse algoritmo de nome Reorg (reorganizador) pelo qual o sistema vai decidir como válida a cadeia maior com mais prova de trabalho. Esses blocos minerados fora da rede são sobrescritos.

Assim, se um computador perde a conexão com a internet enquanto minera por exemplo o bloco um milhão e um, a mineração dos blocos seguintes continuará normalmente na rede online.

Como esse computador caiu, os blocos minerados offline estarão perdidos. Isso sucede porque o sistema irá verificar e validar apenas os minerados na rede pública da Blockchain do Bitcoin.

“Esse fenômeno acontece quando um computador está minerando um bloco um milhão e um e de repente cai a conexão com a internet, enquanto está offline ele não publica na rede, mas continua minerando o bloco sob essa condição e ele passa também a minerar o bloco um milhão e dois ainda sem internet. Aí ele descobre que rede está no bloco um milhão e cinco. A rede toda já minerou o que ele estava minerando e no fim das contas ele perde esse blocos minerados, pois esse computador está fazendo uma cadeia paralela, um fork”, disseram especialistas ouvidos pelo Livecoins.

Fork na rede

A ideia do mecanismo reorg criado por Satoshi Nakamoto é justamente para evitar a bifurcação na rede. Segundo o especialista, esse tipo de situação pode ocorrer por falha do minerador. Francis explica que é possível rastrear todos os blocos que se perderam por falhas de mineração:

“A BitMEX Research consegue rastrear esses blocos perdidos por falhas extremas de mineração. Há apenas um gasto de energia daquele que ficou offline crendo estar minerando blocos os quais serão perdidos pois estariam fora da rede”.

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Autor:
Alexandre Antunes