Um investidor de um jogo NFT brasileiro processou a empresa que criou o game, após não conseguir vender um item digital. Segundo o autor do processo, seus investimentos no jogo visavam ganhar com um recurso prometido pelos desenvolvedores, sendo que isso não foi possível.
Os jogos NFTs atraíram muitas pessoas para o setor de criptomoedas nos últimos meses. Isso porque, a metologia dos games prometiam lucros ao se jogar, dando dinheiro para gamers que acreditaram em vários projetos.
Após um início aparentemente promissor, vários grandes jogos começaram a mostrar que seus mecanismos eram insustentáveis. O maior deles, o Axie Infinity, já não consegue mais manter a lucratividade dos jogadores como era em seu início, ainda que o jogo siga funcionando.
Já outros como o CryptoCars, além de não funcionarem mais, deixaram investidores com grande prejuízo. Mesmo assim, é incomum ver que investidores levam esses projetos na justiça, visto que é um setor novo e os desenvolvedores costumam ser desconhecidos.
Investidor de jogo NFT brasileiro processa empresa que fez o game ao afirmar que não consegue vender item raro
Um dos jogos que surgiu criado por brasileiros foi o Mafagafo, título inspirado no game Fall Guys. Com tecnologia desenvolvida pela Sciensa e com aporte financeiro da Bossa Nova Investimentos, o jogo criado pela MafaTech Corp. chegou em 2021 prometendo ser promissor no mercado de jogos NFTs.
A empresa MafaTech é constituída e sediada em British Virgin Islands, mas atraiu muita atenção com seu marketing em redes sociais.
Um dos influencers que divulgaram bastante o jogo foi Davi Braga, que é filho de João Kepler Braga, sócio da Bossa Nova, empresa essa que acabou citada em um processo na Justiça de Minas Gerais.
Um investidor alega que detém 94 Mafagafos Gold, que deveriam ser recomprados pelo jogo por 300 BUSD cada. Como cada 1 BUSD tem equivalência de 1 para 1 com o Dólar, esses itens raros do jogo seriam avaliados em US$ 28.200,00.
Assim, a soma que o brasileiro deteria como investimento no game supera os R$ 130 mil. Como ele alega não ter conseguido vender seus NFTs para a MafaTech, ele processou essa, a Bossa Nova e a Sciensa.
Empresas recorrem para desbloquear contas
Ao ingressar na justiça de Minas Gerais, o investidor conseguiu bloquear valores das empresas ligada ao game, que encontram-se bloqueados até a finalização dos recursos.
A Bossa Nova recorre contra o TJMG em busca de reverter a ação, mas o caso segue na justiça. Na justiça, essa investidora de startups que fez um aporte na MafaTech alega que o bloqueio foi arbitrário, sendo surpreendida pelo bloqueio de suas contas.
Já a Sciensa alega que não é parte legítima para ser citada na ação, visto que não trabalha com o marketing do Mafagafo, apenas no desenvolvimento da tecnologia do jogo. Essa empresa tem como clientes a XP Investimentos, Porto Seguro, Magazine Luiza, Gerdau, Submarino, CVC, entre outras mais.
Investimentos em jogos NFTs
Como os jogos NFTs são mais que apenas diversão, são também investimentos, é importante que os investidores desses projetos estejam atentos ao que é prometido, além é claro da própria tecnologia da qual são criados.
O Livecoins procurou a Bossa Nova Investimentos para comentar sobre o caso, assim como a Sciensa, que são as empresas acionadas pelo investidor do Mafagafo na justiça. Este espaço segue em aberto para manifestação. (Atualização: após a publicação, ambas as empresas se manifestaram e suas notas na íntegra seguem abaixo).
O que diz a Sciensa?
Na sexta-feira (20), após a publicação da matéria, a Sciensa enviou ao Livecoins o seu posicionamento sobre o caso.
“São Paulo, 20 de maio de 2022. Sobre a notícia veiculada no site Livecoins, que vinculou a Sciensa ao processo movido por um investidor do jogo MAFAGAFO NFT, reiteramos que o papel da empresa, pioneira em transformação digital no processo de criação do game, foi apenas no desenvolvimento tecnológico do CoreEngine – Backend do jogo.
Vale ressaltar que o trabalho executado pela Sciensa se resume a prestação de serviços técnicos sem se envolver no modelo de negócio de seus clientes.
A Sciensa possui vasta experiência em seu mercado de atuação e sempre fez de tudo para promover e estabelecer verdade e transparência com o público. Ficamos à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas. Atenciosamente, Sciensa.”
O que diz a Bossa Nova Investimentos sobre seu suposto investimento na MafaTech?
Nesta sexta-feira, a Bossa Nova Investimentos também procurou o Livecoins para enviar o seu posicionamento, por meio do seu advogado Vinicius Barros Rezende, que pode ser lido na íntegra abaixo.
Chama atenção que a Bossa Nova nega ser investidora da MafaTech, empresa que produz o Mafagafo, embora o Brazil Journal tenha repercutido o investimento em fevereiro de 2022 em fala com um dos responsáveis. Pelo Twitter do Mafagafo, a empresa fez uma AMA com Davi Braga, que reforçou o interesse da Bossa Nova na empresa do jogo NFT com potencial de multiplicar investimentos.
O Livecoins reforça seu compromisso com a verdade das suas divulgações e segue atento ao caso.
“Considerando a matéria veiculada no site livecoins.com.br e replicada no perfil de suas redes sociais, sirvo-me do presente, na qualidade de advogado da Bossa Nova Investimentos e Administração S/A, para esclarecer, de forma definitiva, os fatos que foram deturpados (ou não apurados corretamente) na referida matéria.
Primeiramente, cumpre destacar que a Bossa Nova não é investidora da empresa Mafatech (única responsável pelo game), fato este comprovado com inúmeros documentos nos autos do processo judicial. Houve, sim, interesse da Bossa Nova em realizar o investimento, já que se tratava de um game inédito e com grande possibilidade de escalabilidade mundial.
Assim como todas as mais de 1.000 startups investidas pela Bossa Nova, a Mafatech encontrava se no estágio de due diligence, que é o processo de levantamento de informações sobre a empresa (startup) a ser investida, que vai desde parte contábil, passando por patrimônio, questões jurídicas, processos, atividades, perspectivas futuras, dentre diversos outros critérios estabelecidos. O processo de due diligence foi paralisado e não houve, até o presente momento, qualquer decisão de investimento.
Fato é que a Bossa Nova não é investidora da empresa Mafatech e, portanto, a afirmação contida na matéria jornalística é inverídica e precisa ser retificada.
Ainda que a Bossa Nova fosse investidora da Mafatech, isso não lhe tornaria responsável por qualquer ato empresarial ou por quaisquer dívidas da startup, conforme estabelece, expressamente, o Marco Legal das Startups – Lei Complementar nº 182/2021.
Lado outro, especificamente quanto ao processo judicial, a Bossa Nova já apresentou sua defesa e os recursos cabíveis (ainda pendentes de julgamento). Não há qualquer decisão definitiva responsabilizando a Bossa Nova.
Registro, ainda, que a empresa Mafatech, que não foi incluída no processo pelo autor da ação, compareceu espontaneamente nos autos, em nítido ato de boa-fé, assumindo a titularidade do jogo e isentando a responsabilidade da Bossa Nova, até porque, repito, esta não é sócia, gestora, administradora e ou investidora da Mafatech.
Esclareço, por fim, que a referida ação judicial encontra-se em seu estágio inicial e a Bossa Nova, diante de todas as provas existentes, acredita na sua exclusão do processo e na improcedência dos pedidos do autor.”
O que diz a MafaTech?
Na segunda-feira (23), a empresa que desenvolve o jogo, MafaTech, enviou ao Livecoins o seu posicionamento sobre o caso.
“A MAFATECH, por meio de sua assessoria de imprensa, vem informar e esclarecer que em relação à notícia veiculada no Livecoins, estão sendo adotadas medidas jurídicas cabíveis para o restabelecimento da verdade dos fatos, diante das acusações contidas em demanda contra a companhia.
A MAFATECH esclarece ainda, que tem prestado constante atendimento à toda comunidade MAFAGAFO, bem como permanece atuando continuamente no sucesso do projeto mais inovador em sua área de atuação e entretenimento, com o lançamento da nova versão do Torneio Ignite, no dia 25 de maio.“