A Venezuela publicou um novo decreto mostrando que deve começar a minerar Bitcoin, mas alguns riscos podem envolver a prática. No país, há uma disputa política tensa e a inflação da moeda local pode ter ajudado o novo posicionamento.
A Venezuela é de fato uma economia que depende do Petróleo, mas sente os efeitos da crise. Em 2020, principalmente, o petróleo é um bem que perdeu muito valor com a pandemia do novo coronavírus.
Dessa forma, com uma disputa política e uma crise econômica, a Venezuela de Nicolás Maduro busca alternativas. De acordo com um novo decreto, a mineração de Bitcoin será totalmente regulamentada no país.
A Venezuela afirmou que deverá começar a “minerar” Bitcoin, mas alguns riscos devem ser considerados
De acordo com um documento publicado pela Sunacrip, um decreto nacional da Venezuela feito no dia 21 invoca poderes do país sobre os mineradores. O documento deixaria claro que a partir da data, toda a atividade de minerar Bitcoin na Venezuela está regulamentada.
Vale o destaque que a mineração de Bitcoin é uma atividade essencial da rede. No entanto, é a primeira vez que um governo tenta dominar o setor com mãos de ferro.
Dessa forma, há riscos da atividade ser regulamentada pela Venezuela e para a comunidade Bitcoin. Confira abaixo alguns dos principais.
Risco de sanções ao Bitcoin advindo da Venezuela pelos EUA
Os EUA impuseram nos últimos anos várias sanções a Venezuela, em uma disputa contra o governo de Nicolás Maduro. Quando Maduro lançou a criptomoeda Petro, por exemplo, os EUA impediram sua população de negociar o novo ativo digital.
Além disso, há uma série de recompensas para os principais responsáveis pela política de criptomoedas da Venezuela. Dessa forma, mineradores que se filiarem ao novo pool de mineração da Venezuela poderão ter dificuldades em negociar seus Bitcoins.
Em outro ponto, uma pessoa comum que compre um Bitcoin vindo da pool de mineração venezuelana também poderá ter problemas com os EUA. Com a pool sendo pública, não seria impossível verificar essa procedência.
Recentemente, empresas petrolíferas foram impedidas de negociar Petro com a Venezuela, pelo temor dos EUA. Contudo, a Venezuela afirmou que negociaria apenas com sua criptomoeda estatal. A polêmica poderia se arrastar em breve até para o Bitcoin.
Risco de censura para mineradores de Bitcoin
A Venezuela já afirmou que estará de olho nas novas instalações, que devem ter aprovação. Dessa forma, os mineradores venezuelanos ficam expostos a qualquer eventual censura do governo a moeda digital.
Na última quarta-feira (23), o governo de Maduro na Venezuela enfrentava uma série de protestos pela internet. Contudo, a conexão foi encerrada em vários locais, causando problemas até de telecomunicação.
De acordo com o NetBlocks, que acompanha bloqueios da internet pelo mundo, o caso foi estranho. Com a internet possivelmente sendo censurada na Venezuela, não seria impossível o mesmo acontecer com os mineradores de Bitcoin.
Confirmed: Power outage registered across much of #Venezuela from ~2:00 pm local time; network data show high impact to telecoms infrastructure, with national internet connectivity recovering after drop to 62% of ordinary levels; incident ongoing #SinLuz #Apagon #23Sep 📉🔌 pic.twitter.com/oKLndyOkfQ
— NetBlocks (@netblocks) September 23, 2020
Descentralização da moeda digital é um fundamento importante
De fato, a moeda Bitcoin se tornou famosa até hoje por um princípio fundamental: sua descentralização. Esse, inclusive, é um dos fatores que a diferenciam de moedas fiduciárias, ou seja, o Bitcoin não tem um controle central.
Com a tomada da mineração pelo governo venezuelano, a rede Bitcoin passa por uma situação inusitada. Como esse é o primeiro país a tentar controlar a rede, o Bitcoin enfrenta uma nova realidade.
Vale destacar que passa a ser proibido a mineração sem aprovação do governo. Ao mesmo tempo, a Venezuela afirmou que sua pool dará até brindes aos mineradores que utilizarem o serviço obrigatório.
De qualquer forma, quando o Bitcoin nasceu a narrativa libertária empregada na moeda foi o contrário do que a Venezuela tenta hoje fazer.