Os crimes cometidos dentro do setor dos criptoativos passou a ser um dos focos das autoridades em todo o mundo. Para trazer uma imagem do cenário atual do combate ao criptocrime, a Coinfirm realizou um Webinar sobre o assunto, com uma discussão sobre como reprimir a lavagem de dinheiro e as pirâmides financeiras.
O webinar foi apresentado por Zuzanna Kołucka Maeji, da Coinfirm e teve como palestrante o convidado Vytautas Zumas, Coordenador do Núcleo de Operações com Criptoativos da Coordenação geral de Combate ao Crime do Ministério Público.
De acordo com o que foi discutido durante o evento, os últimos anos se tornaram epidêmicos em relação ao número de crimes associados ao uso de criptoativos, principalmente o Bitcoin. Apenas em 2019 o prejuízo causado por crimes chegou na casa dos bilhões, com boa parte desse dinheiro sendo lavado e até outra parte impossível de ser localizada.
Com a recente popularização pós-crise do Bitcoin e de outros criptoativos, esses crimes têm tendência de aumentar, fazendo com que surja uma maior necessidade de adotar novas ferramentas e capacitar profissionais para a análise de dados e investigação na blockchain.
2019 foi o pior ano da história com golpes no criptomercado
Durante a sua apresentação, Zuzanna destacou a situação do criptomercado com base no que aconteceu durante 2019. Com base em informações analisadas pelo serviço de Reclaim Crypto da Coinfirm, 2019 foi o pior ano na história do criptomercado, com o maior número de golpes e o maior valor já roubado ou lavado desde o começo dessa tecnologia.
“De acordo com as estatísticas, em 2019 $ 3 bilhões de dólares foram lavados em exchanges e $ 4,3 bilhões foram roubados em golpes.
Até mesmo esquemas Ponzi e Pirâmides cresceram rapidamente e o ano Passado até foi chamado de O Ano das Pirâmides.”
Golpes e pirâmides representaram mais de 92% dos crimes que levaram ao roubo de criptomoedas e danos aos investidores.
Logo atrás dos golpes e das pirâmides vem os ataques hackers, que vão desde ataques diretos em corretoras e projetos até os ataques menores. Entre os tipos de ataques Zuzanna destacou os ataques de ransomware, que cresceram muito entre 2019 e 2020.
Esses ataques comuns são usados para extorquir as vítimas pedindo Bitcoin ou outras criptomoedas.
“97% dos ataques de ransomware usam o Bitcoin como forma de pagamento. Ferramentas de ransomware podem ser compradas por apenas $ 100 dólares na dark net.”
Ela também ressaltou que até mesmo grupos terroristas utilizam o Bitcoin e outras criptomoedas como forma de financiar a compra de armas, até citando o caso dos fundos da Al Qaeda e do Estado Islâmico que foram apreendidos pelo FBI.
Lavagem de dinheiro ainda é um grande desafio no combate do criptocrime
Toda a arrecadação desses Bitcoins e criptomoedas é apenas o primeiro passo para os criminosos. Outro ponto que é um desafio é a lavagem das criptomoedas arrecadas e a posterior conversão delas para moeda fiduciária.
Apesar de, desde 2019, as regras de KYC (Conheça Seu Cliente) e ALM (Anti-Lavagem de Dinheiro) terem sido uma exigência para diferentes corretoras, a existência de exchanges não reguladas, que não seguem essas recomendações ou o uso das Exchanges Descentralizadas facilitam a conversão das criptomoedas obtidas através do crime para dinheiro fiat.
“Quanto mais fraco forem os processos de KYC e AML, maior as chances de o criminoso usar essas exchanges para lavar o dinheiro. Temos o caso recente da Bitmex, uma exchange famosa que tinha uma verificação de cliente fraca e quase nenhuma verificação de AML, ela foi acusada formalmente pelos Estados Unidos e os fundadores foram presos”, disse Zuzanna.
Como está sendo realizado o combate dos crimes com criptomoedas?
A outra parte do webnário foi comandada por Vytautas Zumas, Coordenador do Núcleo de Operações com Criptoativos da Coordenação geral de Combate ao Crime. Ele comentou sobre como é feito atualmente o combate à lavagem de dinheiro, identificação de criptomoedas roubadas e até mesmo a devolução de alguns desses ativos.
Zumas destacou que o Bitcoin e muitas outras criptomoedas (com exceção da Monero e outras com base na privacidade) possuem um “pseudo anonimato”, que apesar de não possuir nome ou identificação direta, é possível sim analisar as transações da Blockchain e tentar descobrir quais endereços pertencem a um mesmo dono, quais exchanges ele usa e eventualmente descobrir a identidade do usuário da rede.
Com isso, os investigadores realizam um trabalho de análise de diferentes tipos de dados encontrados na blockchain, desde fontes públicas até o uso de ferramentas comerciais proprietárias, que unidas à capacitação do investigador, podem revelar muito sobre o que acontece no criptomercado.
Através de análises comportamentais e das informações contidas na blockchain, durante uma investigação é possível determinar quais endereços pertencem a alguém e depois tentar determinar quem é o dono dos endereços através das corretoras.
Vytautas até destacou que existem sites que permitem identificar donos de certos endereços, como o Bitcoin Who’s Who.
Foi através de uma investigação como essa que o criador da Silk Road foi apreendido nos EUA. E sendo assim, com táticas da GAFI e outros recursos expostos pelo palestrante, continua-se o combate ao criptocrime no Brasil, desde pirâmides até atividades ilegais ligadas ao terrorismo.