Bitcoin, a melhor ‘empresa’ do mundo

Se você avaliar de uma maneira mais ampla e analisar qualitativamente, você pode se surpreender e chegar a conclusão que o bitcoin é a 1ª empresa descentralizada do mundo.

Primeiro, vamos deixar claro que o bitcoin NÃO é uma empresa. Uma empresa é formada pelos seus fundadores, que são conhecidos e se tornam os chefes. O bitcoin, por outro lado, é uma rede descentralizada que, por definição, não possui líderes ou chefes.

Ele foi criado pelo pseudônimo Satoshi Nakamoto e até hoje não se sabe se ele foi criado por uma pessoa ou um grupo de pessoas. Não existe nenhuma forma de entidade que controla o bitcoin, e, portanto, ele não responde às ordens de um pequeno grupo de seres humanos.

Essa é uma das suas principais características e mostra que o bitcoin definitivamente não é uma empresa.

Contudo, este texto abordará o tema com uma visão mais criativa. Então, vamos começar perguntando “o que é uma empresa?”

De acordo com a definição do Google:

empresa
empresa

Então empresas são organizações econômicas, constituídas por uma ou mais pessoas para executar obras ou desígnios e empreendimentos. As empresas são entidades constituídas juridicamente.

[lwptoc]

Avaliando empresas e commodities

Empresas são entidades jurídicas que visam o lucro, portanto, é possível avaliá-las de acordo com seus lucros. O método mais utilizado para avaliar uma empresa é o Fluxo de Caixa Descontado (FDC), que permite analisar o valor estimado de uma empresa a partir das perspectivas de faturamento futuro, geralmente algo entre 5-10 anos, dependendo da maturidade da empresa (startups X empresas listadas na bolsa, por exemplo).

Existem outras formas de avaliar uma empresa, como a partir do seu valor patrimonial, o quanto custaria para um novo entrante construir uma infraestrutura equivalente, entre outros (ver mais aqui).

A avaliação via FDC (Fluxo de Caixa Descontado) só pode ser efetuada em entidades que possuem um caixa ativo, ou seja, que vendem produtos.

Ou seja, é possível fazer uma análise de FDC na barraquinha de suco de limão da minha sobrinha, mas não é possível fazer uma análise de FDC em moedas como o dólar e o real ou em commodities, como o milho e o minério de ferro. Um dos motivos citados pelos críticos para comentar sobre o bitcoin negativamente é algo na linha de “eu não sei nem como avaliar o bitcoin, ele não gera caixa, então não gera valor”.

Esses criticos “genias” não percebem que o bitcoin não é uma empresa e que, portanto, não faz sentido pensar em termos de FDC.

A metodologia do FCD para avaliação de empresas.
A metodologia do FCD para avaliação de empresas.

As moedas são comparadas entre si em um processo darwiniano para a definição da reserva global de valor em que a tendência é que a melhor predomine sobre as piores. Além disso, elas também refletem as políticas monetárias de seus países.

Mas a realidade é que as moedas nunca são muito analisadas, pois geralmente só existe uma moeda oficial obrigatória em cada país. O que faz com que as qualidades dessa moeda não sejam realmente debatidas e analisadas.

Exemplificando: quantas vezes vocês viram o debate sobre a expansão da base monetária em meios de comunicação não-bitcoinheiros? Então…

Bolívares venezuelanos e sua equivalência em produtos básicos (uma galinha depenada e um rolo de papel higiênico). O Bolívar venezuelano é um exemplo de moeda que perdeu o processo darwiniano e entrou em hiperinflação.
Bolívares venezuelanos e sua equivalência em produtos básicos (uma galinha depenada e um rolo de papel higiênico). O Bolívar venezuelano é um exemplo de moeda que perdeu o processo darwiniano e entrou em hiperinflação.

Já as commodities, como o ouro, soja, milho e o minério de ferro, possuem uma metodologia própria de avaliação chamada Stock-to-Flow (S2F).

O S2F é um método relativamente novo que basicamente tenta modelar as forças de oferta e demanda e entender como elas geram escassez, que é a base do valor de qualquer commodity nesta visão.

Essa metodologia de S2F ganhou notoriedade com a sua utilização na precificação do bitcoin pelo PlanB, um pleb do Twitter que trabalhava em um family office na Holanda com modelos quantitativos (os modelos quants).

O modelo S2F aplicado a precificação do bitcoin.
O modelo S2F aplicado a precificação do bitcoin.

Por que o bitcoin é a melhor empresa do mundo?

O que são empresas?

Ou seja, sintetizando a sessão anterior, o bitcoin não deve ser avaliado como uma empresa, pois ele não gera lucro, não vende produtos, não possui um CEO. E portanto, não faz sentido nenhum pensar no bitcoin como uma empresa, certo?

É aqui que eu gostaria de propor uma discussão mais heterodoxa e criativa. Em uma análise em sentido amplo, ou seja, abstraindo certas características e focando em outras arbitrariamente para observar um padrão, o bitcoin pode ser visto simplesmente como a melhor empresa do mundo.  

Se a rede bitcoin for analisada de maneira específica como uma empresa como entidade jurídica, de fato o bitcoin não é uma empresa. Mas se adotarmos uma visão mais ampla, é possível ver relações entre empresas e a rede do bitcoin.

Lembrando das definições de uma empresa do Google citadas no início do texto, o bitcoin é uma obra levada a efeito por uma ou mais pessoas que possuem um objetivo em comum.

Apesar de ser uma rede descentralizada, a comunidade de bitcoinheiros age como uma tribo coesa e apresenta diversas características em comum (como foi discutido aqui), assim como os funcionários de uma empresa que possui uma cultura forte (como o Google ou a Ambev, por exemplo).

Cena do filme “Os Estagiários”, uma comédia de 2013 sobre a cultura do Google e seus funcionários (conhecidos como googlers).
Cena do filme “Os Estagiários”, uma comédia de 2013 sobre a cultura do Google e seus funcionários (conhecidos como googlers).

Levando isso em conta, o exercício que este texto se propõe é avaliar o bitcoin como uma empresa. Ou seja, vamos analisar diversos itens qualitativos que são extremamente desejáveis para uma empresa de sucesso e ver como eles se aplicam ao bitcoin.

Nesta seção, serão citadas diversas características desejáveis de uma empresa, tanto do ponto de vista de um investidor na bolsa, como no ponto de vista do empreendedor que fundou e administra a empresa no dia a dia.

Esta é a análise qualitativa dos fundamentos da empresa bitcoin e seus “funcionários”.

Branding

Branding é a estratégia de gestão da marca que visa torná-la mais reconhecida pelo seu público e aumentar a sua presença no mercado e no imaginário popular.

A estratégia busca a admiração e desejo pelos valores que a marca cria em torno de si mesma. Seu objetivo principal é despertar sensações e criar conexões fortes, que serão fatores relevantes para a escolha do cliente pela marca no momento de decisão de compra.

Basicamente, o branding é a estratégia que busca tornar a marca forte e reconhecida.

Por exemplo, qual a diferença entre um celular da marca A e da marca B? A diferença é que se a marca B for a Apple, você pagará o dobro por um celular dela, mesmo que ele possua as mesmas especificações técnicas do celular da marca A.

Isso acontece porque a Apple sempre soube trabalhar muito bem o branding da sua marca, e hoje ela é considerada uma marca sexy e inovadora por seus clientes.

Campanha de marketing da Apple. Desde a sua criação a Apple buscou se diferenciar das outras empresas de tecnologia.
Campanha de marketing da Apple. Desde a sua criação a Apple buscou se diferenciar das outras empresas de tecnologia.

Isso faz com que eles tenham seguidores fiéis, que só aceitam ter produtos da Apple. Independente do preço. A Apple sempre buscou se diferenciar como uma empresa feita para quem pensa diferente, gente criativa e líderes inovadores.

Suas campanhas de marketing são consistentes neste sentido desde a sua criação e conseguiram colocar a Apple em um lugar de destaque no imaginário popular.

Depois de mais de 40 anos a Apple segue reforçando o seu mesmo posicionamento de marca.
Depois de mais de 40 anos a Apple segue reforçando o seu mesmo posicionamento de marca.

Apesar do bitcoin não possuir uma equipe de marketing e nem um logo oficial, a sua marca é extremamente popular e reconhecida. De fato, a marca do bitcoin é tão reconhecida que ela é utilizada como metonímia para todo o mercado de “criptomoedas”.

Ou seja, hoje, diversas pessoas utilizam a palavra “bitcoin” querendo se referir ao mercado de criptomoedas como um todo, da mesma maneira que utilizam “Bombril” ao invés de “palha de aço” ou “Band-Aid” ao invés de “curativo”.

Hoje o B com dois riscos cruzados () é universalmente conhecido como símbolo do bitcoin e o laranja como a cor e tanto a cor quanto o símbolo são utilizados como referências a ele em diversos lugares da cultura popular.

A marca “oficial’ do bitcoin, com o ₿ e a cor laranja.
A marca “oficial’ do bitcoin, com o ₿ e a cor laranja.

Cultura Forte

As principais empresas do mundo também prezam bastante por manter uma cultura forte. Mas o que isso quer dizer? Uma cultura forte significa que tudo e todos da empresa se comportam seguindo determinados códigos de conduta. Pode-se dizer que a cultura de uma empresa é a sua constituição.

As empresas buscam ter uma cultura forte, onde os funcionários se identificam e acreditam na maneira com que a empresa faz negócios, (o ethos da empresa, por assim dizer).

No mundo das empresas de tecnologia todos já escutaram a respeito dos googlers e da cultura do Google. Outro exemplo são os PicPay Lovers, a maneira com que a empresa PicPay recruta e incentiva os seus funcionários a se auto denominarem.

Anúncio de vagas de emprego da PicPay, focando na qualidade da cultura da empresa.
Anúncio de vagas de emprego da PicPay, focando na qualidade da cultura da empresa.

A ideia é que uma cultura forte gera coesão grupal, uma espécie de senso de tribo, entre os funcionários de uma empresa. Um grupo coeso tende a ter desempenho melhor, a perder menos tempo com atritos e desavenças e a trabalhar uns pelos outros.

No mundo dos esportes isso é conhecido como “vestir a camisa”, o que faz com que os atletas joguem com mais raça e entrega, mesmo correndo o risco de se lesionar.

Apesar de ser uma rede descentralizada, a comunidade dos bitcoinheiros age como uma tribo coesa e apresenta diversas características em comum, assim como os funcionários de uma empresa que possui cultura forte (como os exemplos já citados de Google ou Ambev). São diversos os rituais compartilhados pelos bitcoinheiros de todo mundo.

A cultura bitcoinheira é tão forte, que diversas pessoas se referem a ela como um culto ou religião.

As empresas esperam que seus funcionários desenvolvam “senso de dono”, ou seja, que eles tomem decisões como se eles fossem realmente os donos dela. Para conseguir alinhar os interesses com funcionários estratégicos, as empresas até chegam a oferecer uma pequena parte da sociedade na forma de ações.

De maneira análoga, os bitcoinheiros possuem seus satoshis, fazendo com que efetivamente eles sejam donos de uma pequena parcela do bitcoin.

O senso de dono é tão forte entre os bitcoinheiros que é bastante comum que estes, quando alcançam sua independência financeira, passem a se dedicar a trabalhos voluntários em prol da difusão do bitcoin. Eles fazem isso com um enorme senso de compromisso e propósito e realmente acreditam que assim eles estão mudando o mundo para melhor. A missão é espalhar a palavra de Satoshi.

Um membro do “culto” do bitcoin buscando sinalizar o seu pertencimento ao grupo e a sua visão de mundo, mesmo que isso cause com possível dor de cabeça associada por ele estar sinalizando no meio de uma audiência no congresso americano.
Um membro do “culto” do bitcoin buscando sinalizar o seu pertencimento ao grupo e a sua visão de mundo, mesmo que isso cause com possível dor de cabeça associada por ele estar sinalizando no meio de uma audiência no congresso americano.

Propósito

O tema “propósito” também é bastante comentado no mundo do empreendedorismo. O propósito da empresa é o que motiva a empresa e seus colaboradores a se dedicarem; é o que as empresas fazem para transformar o mundo em um lugar melhor.

O propósito é a principal razão para que uma empresa exista no mercado, mesmo que muitas vezes ele esteja esquecido devido a quantidade de tarefas e rotinas do cotidiano.

Da mesma forma, a comunidade dos bitcoinheiros é uma comunidade ligada por um propósito extremamente forte: consertar o dinheiro.

Um dos lemas dessa comunidade é “conserte o dinheiro, conserte o mundo”, e mostra bem o propósito do bitcoin: consertar o mundo. Todo o ethos da comunidade bitcoinheira deriva do ethos dos cypherpunks, como a comunidade de matemáticos, hackers e criptoanarquistas se autodenominou nos anos 1990s.

Conserte o dinheiro, conserte o mundo (em inglês “fix the money, fix the world”). Um dos lemas da comunidade dos bitcoinheiros.
Conserte o dinheiro, conserte o mundo (em inglês “fix the money, fix the world”). Um dos lemas da comunidade dos bitcoinheiros.

Os cypherpunks foram essenciais no movimento em defesa da privacidade e da anonimidade online. Eles usavam a criptografia como forma de proteger a individualidade ao inibir o controle dos seus dados de navegação pelos agentes governamentais, institucionais ou do setor comercial.

O senso de propósito dos bitcoinheiros fica claro quando você percebe que na comunidade existem pouquíssimos vendedores e muitos educadores. O que mostra claramente que a maioria da comunidade é missionária com a causa do bitcoin, e não mercenária.

Empresas com propósito nobre conseguem negociar com seus funcionários salários menores, pois elas vendem também o sonho de “trabalhar por um mundo melhor”. Os funcionários estarão “contribuindo de verdade para a sociedade”.

Isso é ainda mais verdade com o bitcoin, onde muitos convertidos trabalham de graça pela missão e pelo propósito de consertar o dinheiro e, assim, mudar o mundo.

Atração e retenção de talentos

Um dos lugares comuns nas palestras que os coaches dão para empresas é como uma empresa não é nada mais do que as pessoas que compõe ela.

Uma empresa não existe na vida real, ela é uma ficção que faz com que várias pessoas se unam e trabalhem em prol de um objetivo comum, um propósito compartilhado. Ou, em outras palavras, um CNPJ é a somatória dos CPFs envolvidos na sua criação e na sua operação do seu dia a dia

O capital intelectual de uma empresa determina a capacidade desta de se adaptar a mudanças e lidar com novas situações.

Assim, o Google sempre foi considerado uma empresa muito forte e com um futuro promissor, pois todos os jovens talentos queriam trabalhar lá entre os anos 2010 e 2020. Da mesma forma, diversas outras empresas como o Facebook, Airbnb, LinkedIn, PicPay, Ambev e diversas outras conseguem se destacar da concorrência devido a capacidade de atrair talentos para compor sua equipe.

Contudo, atrair os talentos é somente uma parte da equação. Na realidade a empresa precisa conseguir atrair e reter os talentos atraídos. Ou seja, não adianta nada conseguir contratar ótimos funcionários que perdem o interesse em pouco tempo de empresa e se demitem para procurar novas oportunidades.

O tempo de treinamento de novos funcionários e a perda de cultura e processos relacionada a saída de funcionários antigos são dois custos altos que uma empresa paga caso ela não consiga reter os seus talentos (o que é conhecido como turnover no jargão do meio das empresas de tecnologia).

A retenção de talentos é fundamental para a viabilidade de longo prazo de qualquer empresa.
A retenção de talentos é fundamental para a viabilidade de longo prazo de qualquer empresa.

Os bitcoinheiros comparam a capacidade de atração do bitcoin com a de um buraco negro. Diversos talentos das ciências da computação, engenharia, filosofia, marketing, ciências da natureza e demais áreas do conhecimento são “recrutados” pelo bitcoin todos os dias.

Para quem não conhece a comunidade deve até soar meio estranho, mas a realidade é que uma vez que a pessoa realmente entende o bitcoin e todas as suas consequências indiretas, ela dificilmente conseguirá escapar da gravidade do buraco negro.

Essa gravidade de buraco negro não só atrai o bitcoin como retém talentos. A independência financeira que vem como resultado da valorização do bitcoin permite que os bitcoinheiros se dediquem às suas preferências.

O buraco negro do bitcoin atraindo todo o capital intelectual e monetário do mundo a sua volta.
O buraco negro do bitcoin atraindo todo o capital intelectual e monetário do mundo a sua volta.

Setor Perene

Quando um investidor da bolsa estuda empresas para investir ou um empreendedor estuda um mercado para criar uma empresa, uma das características que eles devem observar é se o setor é perene.

Ou seja, esse setor vai continuar existindo pelos próximos 10, 20 ou 50 anos? Ou a empresa irá se tornar as novas paletas mexicanas?

Assim, um dos itens que existem na lista de características de uma empresa é entender se o setor da empresa que você quer investir faz sentido no longo prazo.

No longo prazo, você apostaria que qual destes serviços deixarão de ser relevantes: a transmissão de energia ou o consumo de paletas mexicanas? Então você preferiria investir em uma paleteria mexicana ou em ações de uma transmissora de energia na bolsa?

Diferentes setores da economia apresentam diferentes graus de necessidade real da população, e portanto só alguns deles são perenes no longo prazo.
Diferentes setores da economia apresentam diferentes graus de necessidade real da população, e portanto só alguns deles são perenes no longo prazo.

O bitcoin nada mais é que uma nova tecnologia de dinheiro. Com uma tecnologia melhor que o dinheiro atual, que transforma o dinheiro em uma rede social monetária, mas basicamente o bitcoin continua sendo dinheiro.

E o dinheiro é uma das principais tecnologias inventadas pelo homem. Ele permite comunicar valor no tempo e no espaço.

Ou seja, graças ao dinheiro é possível realizar trocas entre pessoas. Antes da invenção do dinheiro só era possível realizar trocas entre pessoas que a) se conheciam (e uma delas eventualmente pagava “fiado”) ou b) entre pessoas que possuíam o que trocar entre si.

As trocas entre os indígenas e os exploradores portugueses são conhecidas como escambo, pois os indígenas não possuíam dinheiro e trocavam os itens de interesse diretamente.
As trocas entre os indígenas e os exploradores portugueses são conhecidas como escambo, pois os indígenas não possuíam dinheiro e trocavam os itens de interesse diretamente.

Ou seja, se eu fosse um produtor de cabras e eu tentasse realizar uma troca com o produtor de trigo, eu só conseguiria realizar a troca caso este produtor me conhecesse e quisesse ter um crédito comigo ou caso ele quisesse uma cabra.

Com a invenção do dinheiro, trocas entre pessoas que não possuem o que trocar entre si se tornaram viáveis, o que permitiu que a economia das sociedades humanas mudasse em ordens de grandeza.

Com essa invenção, o ser humano passou a conseguir armazenar a sua energia de trabalho (outra forma de falar “o seu tempo”) de forma transportável, e assim ele conseguiu trocar ela pela energia de trabalho de outros seres humanos.

O dinheiro é uma tecnologia de milhares de anos. Inicialmente conchas e outros objetos colecionáveis eram utilizados como moeda. Papel que foi assumido pelo ouro e pelas moedas de metal.

Porém tanto o ouro como as moedas de metal são pesadas, o que atrapalha o seu transporte, e são mais difíceis de se emitir, uma vez que você precisa extrair os materiais para confeccionar esta forma de dinheiro. Também é mais dificil proteger esses metais, e a tendência foi a concentração deles nos cofres dos bancos.

Nos últimos séculos as moedas de metal foram gradativamente substituídas pelo dinheiro de papel, o que foi potencializado em 1971 quando o presidente dos EUA, Richard Nixon, acabou com a conversibilidade entre o dólar e o ouro.

A evolução do dinheiro continuou na era da informação e o dinheiro de papel foi substituído por dinheiro digital que pode ser manipulado através de cartões de plástico.

Com a evolução constante da tecnologia da informação, o dinheiro se tornou eletrônico e deixou de precisar ter necessariamente um equivalente no mundo físico.

Evolução do dinheiro utilizado pela humanidade, desde trocas e escambos até o dinheiro eletrônico e o bitcoin.
Evolução do dinheiro utilizado pela humanidade, desde trocas e escambos até o dinheiro eletrônico e o bitcoin.

O dinheiro eletrônico nada mais é que a evolução do dinheiro de papel, o que significa que ele também não possui lastro e milhões de novos dólares (ou outras moedas fiat) podem ser “produzidos” com alguns cliques de botão em um computador dos Bancos Centrais do mundo, gerando uma infinidade de problemas.

Porém, o dinheiro continuou com o seu processo de evolução e em 2009 o pseudônimo Satoshi Nakamoto publicou o white paper do bitcoin, que nada mais é que a evolução do ouro e das moedas de metal.

Assim como o ouro e as moedas de metal, o bitcoin é lastreado no mundo físico. Basicamente, o bitcoin representa a invenção da escassez no meio digital.

NPS

As empresas utilizam diversas métricas para tentar quantificar o sentimento dos seus clientes em relação a qualidade do seu produto, de seu atendimento, etc. Uma das métricas mais utilizadas nos dias de hoje é o Net Promoter Score (NPS).

O NPS tem como objetivo medir o grau de lealdade dos clientes das empresas de qualquer segmento, trazendo reflexos da experiência e satisfação dos clientes.

Para executar uma avaliação de NPS as empresas pedem que seus clientes classifiquem a probabilidade (na escala de 0 a 10) de que eles indiquem seus amigos.

Clientes que avaliam a empresa com notas entre 0 e 6 são vistos como detratores, com notas entre 7 e 8 são clientes neutros e clientes que classificam a empresa entre 9 ou 10 são promotores.

Representação em imagem da metodologia NPS.
Representação em imagem da metodologia NPS.

As empresas almejam que a maioria dos seus clientes sejam promotores de seus produtos. Isto é uma vantagem competitiva enorme pois uma avaliação boca a boca é muito mais efetiva do que uma campanha de marketing para atrair clientes (ou para perder clientes no caso de críticas).

Isso acontece porque o ser humano confia muito mais em outro ser humano do que em campanhas de marketing e, se alguém de sua confiança te indicar algo, as chances de você escutar esta pessoa são bem maiores.

Como já comentamos acima, o Buraco Negro do bitcoin atrai e retém diversos talentos, muitos deles inclusive trabalham de forma voluntária por acreditar no propósito por trás do bitcoin. Em outras palavras, o marketing boca a boca do bitcoin é fortíssimo.

Tanto que diversas vezes o bitcoin é considerado uma religião ou um culto de fanáticos pelos não-iniciados. Ou seja, o bitcoin possui um NPS altíssimo, com diversos promotores que se dedicam a espalhar a palavra de Satoshi.

Inovação

Todo mundo sabe que nós vivemos numa época de intensa transformação. Uma época em que o velho e analógico é rapidamente substituído pelo novo e digital.

Atualmente, as empresas precisam inovar para se manterem competitivas, e o lema “innovate or die” (inove ou morra) se tornou uma sabedoria popular no meio empresarial (e as empresas que não absorveram essa sabedoria estão sendo disruptadas neste exato momento). .

Exemplos disso são abundantes, e nós podemos citar rapidamente alguns casos como Blockbuster vs. Netflix; Nokia vs. Blackberry vs. Iphone; Kodak vs. câmeras digitais vs. câmera digital no celular; e assim por diante.

Duas maneiras de representar o que ocorreu na competição entre a Blockbuster e a Netflix.
Duas maneiras de representar o que ocorreu na competição entre a Blockbuster e a Netflix.

Uma crítica que alguns nerds apaixonados por tecnologia costumam fazer sobre o bitcoin é que ele é uma tecnologia velha e que as transações são lentas e ineficientes.

Eles gostariam que o bitcoin seguisse os moldes do Vale do Silício de “move fast and break things” (se mova rápido e quebre as coisas) que funciona muito bem para startups, mas que não faz sentido para um sistema monetário.

Para um sistema monetário, o ideal é “move slow and make everything work without a bug” (se mova devagar e faça tudo funcionar sem nenhum bug).

Este tipo de crítica está errado em vários aspectos chaves e só mostra que esses nerds entendem de tecnologia e só, como um cavalo com cabresto e antolhos acreditando que só existe o seu campo de visão. Ou seja, eles não possuem uma visão de mundo abrangente.

Mesmo se a tecnologia por si só não fosse a melhor, ela é somente uma das características importantes do bitcoin, e não a sua principal característica.

A descentralização real, que gera a incensurabilidade e a inconfiscabilidade, assim como os efeitos de rede gerados e a comunidade, são as principais características do bitcoin (como esse texto se aprofundou).

Mas também é interessante ressaltar que o bitcoin é somente a camada base que permitirá que diversas outras camadas sejam construídas em cima. O mais importante para a camada base é que ela seja robusta e confiável, e não que ela seja rápida e maleável, como diversos entusiastas em outras criptomoedas tentam argumentar.

A imagem abaixo, que é uma tradução de uma imagem do Croesus, ilustra bem esta questão de camada base e camada secundária e como as aplicações do bitcoin serão construídas na camada secundária.

Como a Internet da Informação está constituída nos dias de hoje, com todas suas aplicações (Facebook, Amazon, Google, Netflix, Apple, Airbnb e etc) construídas como camadas secundárias enquanto que o protocolo é a camada base imutável. Da mesma maneira, na Internet do Valor (o bitcoin), as aplicações (Lightning Network, Liquid, entre outras) estão sendo construídas em camadas secundárias.
Como a Internet da Informação está constituída nos dias de hoje, com todas suas aplicações (Facebook, Amazon, Google, Netflix, Apple, Airbnb e etc) construídas como camadas secundárias enquanto que o protocolo é a camada base imutável. Da mesma maneira, na Internet do Valor (o bitcoin), as aplicações (Lightning Network, Liquid, entre outras) estão sendo construídas em camadas secundárias.

Assim como foi o caso com a Internet, é em cima da camada base do bitcoin que serão construídas as camadas com aplicações. Ou seja, assim como na engenharia civil que constrói prédios, é importante ter uma fundação sólida que permita que estruturas sejam construídas em cima.

O principal exemplo de construção na segunda camada do bitcoin é a Lightning Network, uma aplicação que permite que o bitcoin seja utilizado como ferramenta de micropagamentos.

Ou seja, aquele argumento de que “não dá para usar o bitcoin na padaria para comprar um café” é um argumento que mostra que a pessoa não conhece a Lightning Network. Outro exemplo de construção de construção utilizando a camada base é a Liquid Network, que é uma sidechain, ou seja, uma camada paralela.

Essas aplicações permitem escalar o bitcoin sem alterar o seu protocolo base. Ou seja, a partir da utilização destas camadas secundárias, é possível escalar o bitcoin (o que mata o discurso de venda da maioria das outras criptomoedas, que se propõem a “alcançar o que o bitcoin não alcançou” ou a “escalar o bitcoin”).

Ou seja, a empresa bitcoin é aberta sim a inovação, mas diferente do que ocorre com as outras criptomoedas, a inovação precisa ser feita sobre uma fundação sólida, estável e segura.

Nodes da Lightning Network, mostrando que mesmo essa camada secundária do bitcoin já está em pleno processo de adoção.
Nodes da Lightning Network, mostrando que mesmo essa camada secundária do bitcoin já está em pleno processo de adoção.

A Lighthing Network em El Salvador

O exemplo da adoção do bitcoin por El Salvador merece ser aprofundado. El Salvador é um país pobre na América Central onde cerca de 70% da população não possui contas em bancos tradicionais.

Nos últimos anos, ocorreu uma grande adoção do bitcoin como dinheiro do dia a dia. Isso só é possível pois a população utiliza em grande medida a Lightning Network, que permite transações de bitcoin sem as taxas de transferência da camada base.

Por conta dessa adoção maciça da população, o presidente do país tomou a iniciativa e tornou El Salvador o 1o país em que o bitcoin é oficialmente moeda.

Foto de perfil do Presidente Nayib Bukele no twitter após o anúncio oficial de que El Salvador passaria a aceitar o bitcoin como meio oficial de pagamento.
Foto de perfil do Presidente Nayib Bukele no twitter após o anúncio oficial de que El Salvador passaria a aceitar o bitcoin como meio oficial de pagamento.

Estima-se que cerca de 22% do PIB de El Salvador (algo como US$ 4 bilhões, ou aproximadamente R$ 20 bilhões) é proveniente de remessas internacionais de dinheiro que os cerca de 2 milhões de salvadorenhos que migraram para os EUA mandam de volta para o seu país.

Mas remessas internacionais são extremamente caras (algo entre 20% até 50% do valor original) e lentas, e só podem ser sacadas na capital São Salvador.

Com a Lightning Network o cenário é diferente e agora os salvadorenhos conseguem realizar remessas internacionais instantâneas, de graça e que podem ser acessadas e utilizadas diretamente pelo aplicativo, sem a necessidade da viagem até São Salvador.

Meme baseado no filme <a href="https://www.youtube.com/watch?v=3ZhpoVhHU-k">Borat</a> e espalhado pela comunidade bitcoinheira como reação ao anúncio da adoção do bitcoin por El Salvador.
Meme baseado no filme Borat e espalhado pela comunidade bitcoinheira como reação ao anúncio da adoção do bitcoin por El Salvador.

Governança perfeita

A governança é uma das características qualitativas mais importantes para um investidor quando ele está avaliando uma empresa para investir.

O IBGC, a principal referência do Brasil sobre o tema, estabelece quatro princípios da governança corporativa. São eles: transparência, equidade, prestação de contas (accountability) e responsabilidade corporativa.

Transparência significa que os dados de desempenho econômico-financeiro, além de outros fatores tangíveis e intangíveis que direcionam a gestão da empresa devem ser disponibilizados para todos os interessados no negócio.

Equidade significa que todos os interessados na gestão da empresa ou dos projetos devem ter acesso às informações sobre os negócios. Mas não é só isso, é necessário também que todos esses participantes sejam tratados de maneira igualitária e justa.

Prestação de contas significa que a empresa se esforçará em transmitir as informações de maneira compreensível.

A prestação de contas tem como intuito passar as informações da empresa para os interessados de forma clara, além de assumir totalmente as consequências dos seus atos. Os objetivos do princípio da prestação de contas são reduzir a desconfiança e reduzir as possibilidades de abuso por parte dos sócios e administradores.

Responsabilidade corporativa significa que a empresa deve buscar trazer sempre resultados positivos para seus acionistas e investidores e ao mesmo tempo zelar pela manutenção de seu capitais, incluindo o capital humano, social, ambiental, intelectual e financeiro.

Em um sentido mais amplo, a governança corporativa é basicamente o conjunto de medidas tomadas pelas empresas para tentar garantir que todos os funcionários, clientes e investidores de determinada empresa estejam alinhados.

Uma empresa com boa governança é basicamente uma empresa com todos os incentivos de todos os stakeholders bem alinhados.
Uma empresa com boa governança é basicamente uma empresa com todos os incentivos de todos os stakeholders bem alinhados.

Nesse sentido mais amplo, pode-se dizer que o fato do bitcoin ser descentralizado e não possuir nenhum funcionário contratado e nenhum diretor mandando na empresa significa que o bitcoin possui a melhor governança possível.

Como o bitcoin é um protocolo open source, todos os usuários da rede (que entendem de programação) têm acesso a todas as informações sobre o funcionamento dela.

Os interesses dos usuários do bitcoin também estão alinhados financeiramente, de modo que todos os atores do ecossistema tem interesse que o bitcoin seja bem sucedido.

O conhecido investidor Warren Buffet tem uma citação famosa que diz que “você deve investir em um negócio que até um idiota poderia dirigir, porque algum dia um idiota o dirigirá”.  No caso do bitcoin, nenhum idiota jamais dirigirá o bitcoin.

E nenhum gênio jamais dirigirá o bitcoin tampouco. O que dirige o bitcoin é o seu código. Como os bitcoinheiros costumam falar, o bitcoin é um sistema de regras, e não de regentes (“rules and not rulers”). Quer governança melhor do que saber que não haverão mudanças no time que está ganhando?

Você já se perguntou o que aconteceria com a Tesla caso o Elon Musk desaparecesse? E o que aconteceria com o Facebook se o Mark Zuckerberg desaparecesse? Pois bem, o criador do bitcoin, Satoshi Nakamoto, desapareceu e deixou o projeto do bitcoin em 2011.

Ou seja, não existe um líder no bitcoin, o que é a melhor maneira de garantir que a governança do código será mantida.

Crescimento Viral

O sonho de toda empresa é não precisar gastar dinheiro com marketing e conseguir estruturar um produto “que se vende sozinho”. Mas “se vender sozinho” não existe na vida real, o que existe são produtos que alcançam um crescimento viral.

Para alcançar este crescimento viral é necessário que o produto que determinada empresa desenvolveu seja bom o suficiente para que cada novo cliente indique este produto para mais que um novo cliente.

É a mesma lógica da taxa R da pandemia, onde se cada pessoa contaminasse mais que uma outra pessoa, a pandemia estava acelerando e se cada pessoa contaminasse menos de uma outra pessoa (em média), a pandemia estava sendo contida.

Ou seja, cada cliente traz novos clientes em uma taxa que permite que a empresa não precise contratar vendedores.

Crescimento viral que acontece quando uma pessoa consegue converter mais do que uma nova pessoa, ou seja, quando R&gt;1.
Crescimento viral que acontece quando uma pessoa consegue converter mais do que uma nova pessoa, ou seja, quando R>1.

E nada representa mais a comunidade bitcoinheira do que o seu crescimento viral. Não é à toa que os bitcoinheiros são comparados a membros de cultos.

Isso acontece porque uma vez que você realmente entende o bitcoin e todas as suas implicações, você realmente muda de compreensão de mundo e passa a enxergar como imperativo moral ajudar outras pessoas a também se salvarem.

Da mesma forma que os jesuítas queriam catequizar os índios para salvar as suas almas, os bitcoinheiros realmente acreditam que é seu dever “catequizar” os seus familiares e amigos que ainda são normies e com isso salvá-los do inferno fiduciário.

Um exemplo de marketing viral aconteceu nas 500 milhas de Indianápolis de 2021, onde um grupo de bitcoinheiros se uniu para patrocinar um dos carros.

Este fato fez com que a fórmula Indy tivesse uma alta na sua audiência e também expôs os amantes do automobilismo ao bitcoin.

O carro do bitcoin chegou a liderar as 500 milhas de Indianápolis por mais de 30 voltas, fazendo com que a campanha de marketing fosse extremamente bem sucedida.
O carro do bitcoin chegou a liderar as 500 milhas de Indianápolis por mais de 30 voltas, fazendo com que a campanha de marketing fosse extremamente bem sucedida.

Além disso, ainda existe uma grande comunidade de bitcoinheiros que passam o dia produzindo memes para ajudar a espalhar a visão de mundo de um bitcoinheiro. Você talvez tenha visto os raio laser nas fotos de perfil de diversos bitcoinheiros no twitter? Isso exemplifica como os memes são campanhas de marketing poderosíssimas na divulgação e na proteção do bitcoin.

Vantagens Competitivas de Longo Prazo

Todo value investor que se preze é discípulo do Warren Buffett e conhece a sua filosofia de só investir em empresas com fossos econômicos consolidados.

O termo refere-se à capacidade de uma empresa manter uma vantagem competitiva em relação aos seus rivais e assim proteger sua rentabilidade e participação de mercado no longo prazo.

Qualquer empresa pode ter uma vantagem competitiva no curto prazo, mas somente as vantagens competitivas de longo prazo são consideradas fossos econômicos.

Analogamente aos fossos que cercavam castelos medievais como forma de proteção contra invasores, empresas com fossos econômicos criam barreiras de entrada contra a concorrência. Fossos econômicos são características que determinada empresa possui que são difíceis de copiar ou reproduzir.

Ter uma marca bem conhecida, poder de preços, custos menores e uma grande parcela da demanda do mercado são exemplos de fossos econômicos que uma empresa pode possuir.

Castelo medieval com fossos de proteção contra invasores.
Castelo medieval com fossos de proteção contra invasores.

No caso da “empresa” bitcoin, os fossos econômicos são gigantescos.  Então será apresentada aqui apenas uma breve síntese de cada um deles, pois uma explicação aprofundada requisitaria um texto para cada um desses fossos.

Hashrate

Hashrate é o termo utilizado para a capacidade de processamento computacional da rede do bitcoin.

Quanto maior for o hashrate de determinada rede, mais forte e segura ela é. Quando a gente compara o hashrate do bitcoin com a hashrate de qualquer outra criptomoeda só existe uma conclusão possível: somente o bitcoin existe de verdade, as outras criptomoedas são castelos de areia, ou seja, elas não possuem rede computacional robusta para dar suporte a estes projetos.

Comparação da hashrate do bitcoin com a hashrate de outras criptomoedas. Sim, só a rede do bitcoin existe de verdade.
Comparação da hashrate do bitcoin com a hashrate de outras criptomoedas. Sim, só a rede do bitcoin existe de verdade.

Marca Forte

Este tópico já foi abordado acima, então vou simplificar: pergunte para um normie quais criptomoedas ele conhece.

Basicamente, o bitcoin se tornou o Bombril das criptomoedas. O que eu quero dizer com isso? Que o nome do produto não é “Bombril”, e sim “palha de aço”, mas mesmo assim todos o conhecem como Bombril.

Efeitos de Rede

Em economia e negócios, efeito de rede é o efeito que um usuário de um bem ou serviço tem sobre o valor do produto para outros usuários.

Quando o efeito de rede estiver presente, o valor de um produto ou serviço depende do número de outras pessoas que também utilizam o produto. As empresas digitais como Facebook (donos também do Whatsapp e do Instagram), Twitter e Airbnb,  são os melhores exemplos de efeitos de rede.

Exemplificando: para eu falar com alguém que possui o Whatsapp eu preciso ter o Whatsapp também. Se eu e todos os meus amigos tiverem o Whatsapp é muito mais difícil para um novo membro do nosso grupo adotar o Telegram, uma vez que ele não vai conseguir se comunicar conosco.

O mesmo acontece com os telefones: se só eu tivesse um telefone e mais ninguém no mundo tivesse, eu não conseguiria falar com ninguém pois eu não teria para quem ligar. Como outras pessoas também possuem telefones, eu consigo falar com elas a hora que eu quiser.

Diagrama clássico usado para exemplificar os efeitos de rede.
Diagrama clássico usado para exemplificar os efeitos de rede.

O efeito de rede do bitcoin pode ser observado tanto em casos reais como na Bitcoin Beach, que fez com que El Salvador acabasse adotando o bitcoin como moeda oficial do país, como em modelos teóricos como os modelos de curva de adoção do Croesus e do Michael Levin, cujas traduções podem ser encontradas aqui: “A Adoção do Bitcoin”, “A Curva Dupla de Adoção do Bitcoin”.

Teste do tempo

O bitcoin é a criptomoeda original e a única que está por aí há mais de 12 anos. O Ethereum, segundo criptomoeda em tamanho de mercado, só existe há 6 anos e será atualizado em algum momento no futuro para o Ethereum 2.0, o que significa efetivamente que o relógio é zerado novamente.

O Ethereum 2.0 terá acabado de nascer e, portanto, não dá para confiar que o seu algoritmo não possuirá bugs. Além do fato que não dá para confiar na governança de projetos que mudam de acordo com as vontades dos seus dirigentes.

Diferentemente do bitcoin, o Ethereum ainda é centralizado na mão do seu criador, que pode mandar e desmandar no projeto da maneira que ele bem entender. Isso fica claro quando a gente compara a política monetário errática do Ethereum (sem levar em conta as moedas pré-mineradas) com a política monetária precisa do bitcoin:

Taxa de emissão e oferta de Ethereum.
Taxa de emissão e oferta de Ethereum.
Taxa de emissão e oferta do bitcoin.
Taxa de emissão e oferta do bitcoin.

Testes contra ataques externos

O bitcoin também já mostrou resiliência e resistiu a diversos ataques externos. Diversos países já tentaram banir o bitcoin ou parte do seu ecossistema, mas nenhum desses países obteve êxito.

O fato do bitcoin ser descentralizado faz com que seja extremamente difícil fazer as leis valerem. Nesse sentido, é muito mais fácil regular uma empresa centralizada e com um CEO conhecido, como foi no caso da Microsoft que sofreu medidas antitruste por mais de uma década.

No primeiro semestre de 2021, o bitcoin sofreu um dos ataques mais graves, quando a China, país que detinha cerca de 40-50% da capacidade de processamento da rede, baniu a mineração de bitcoin.

A rede demorou um tempo para se reorganizar, mas menos de um ano depois o poder de processamento computacional já ultrapassou em mais de 30% as altas históricas pré-banimento. Ou seja, mesmo quando até 50% da rede foi obrigada a ser desligada o bitcoin aguentou bem.

E o resultado prático desse ataque foi que a mineração se tornou mais descentralizada, uma vez que os mineradores deixaram a China e se espalharam pelo mundo, principalmente no Cazaquistão e nos Estados Unidos, o que significa que a mineração de bitcoin se tornou mais descentralizada.

Compilado de manchetes sobre o banimento do bitcoin pela China e a sua falta de efetividade.
Compilado de manchetes sobre o banimento do bitcoin pela China e a sua falta de efetividade.
Exemplo da Índia onde um país tenta banir o bitcoin, somente para poucos meses depois ser obrigado a reconhecer ele como uma classe de ativo. Os países não mudam de ideia dessa maneira por coerência e lógica, eles mudam de ideia porque são obrigados. E eles são obrigados porque é impossível banir o bitcoin.
Exemplo da Índia onde um país tenta banir o bitcoin, somente para poucos meses depois ser obrigado a reconhecer ele como uma classe de ativo. Os países não mudam de ideia dessa maneira por coerência e lógica, eles mudam de ideia porque são obrigados. E eles são obrigados porque é impossível banir o bitcoin.

O bitcoin também já foi atacado diversas vezes dentro do seu próprio ecossistema. Diversos programadores já tentaram criar alterações no código do bitcoin. Quando estas alterações são consideradas deletérias pela comunidade de bitcoinheiros, elas são ferozmente combatidas.

Este foi o caso de uma mudança que propunha aumentar os blocos das transações, o que supostamente melhoraria a escalabilidade do bitcoin. Essa proposta foi vista como um ataque à descentralização, pois para validar blocos maiores os full nodes teriam que ser mais potentes e possuir mais espaço de armazenamento, e portanto seria mais caro rodas um full node e menos pessoas o fariam.

Esta discussão ganhou ares de guerra civil e se estendeu por anos. Se você quiser se aprofundar neste tema, conhecido como “Blocksize War”, leia este livro. E no final desta guerra civil o bitcoin descentralizado, da maneira que foi originalmente concebida por Satoshi, saiu vencedora.

Ou seja…

Formalmente falando, o bitcoin de fato não é e nunca será uma empresa. Ele é um protocolo monetário descentralizado, não confiscável e incensurável, qualidades que seriam impossíveis de se alcançar caso o bitcoin de fato fosse uma empresa e tivesse um CEO.

Mas se você avaliar de uma maneira mais ampla e analisar qualitativamente, você pode se surpreender e chegar a conclusão que o bitcoin é a 1ª empresa descentralizada do mundo.

E que essa empresa possui fundamentos qualitativos que são tão bons quanto ou melhores que os fundamentos das principais empresas do mundo.

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Caio Leta
Caio Letahttps://bipa.app/
PhD em Geologia, largou a academia e se encontrou no Bitcoin. Criador do projeto de educação Explica Bitcoin e autor do livro “O Mundo Mágico do Bitcoin”, trabalho com pesquisa na Arthur Mining e atualmente trabalha com conteúdo e pesquisa na Bipa.

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