Benjamin Wallace, jornalista da New York Magazine, acredita ter encontrado o homem por trás da criação do Bitcoin. Além de anos de pesquisas, o jornalista viajou 20 horas de avião e dirigiu outras 8 para confrontar pessoalmente o possível Satoshi Nakamoto.
Segundo o autor, seu candidato era improvável, estando somente na 42ª posição de sua lista de suspeitos.
“Examinei minuciosamente as 60.000 palavras que Satoshi Nakamoto deixou para trás. Ele escrevia de forma simples, raramente expressando opiniões ou demonstrando personalidade”, escreveu Wallace. “Sempre que encontrava o menor indício de um estilo individual, adicionava-o a uma lista de “Nakamoto-ismos”, que acabou incluindo mais de 200 palavras e expressões. Wet blanket. Sweet. Clobbering.”
“Escrevi um programa, o Satoshitizer, que vasculhava os escritos arquivados de diversos suspeitos, procurando por Nakamoto-ismos e gerando tabelas de estatísticas. […] Um dia, no final de abril de 2023, me peguei pensando em uma palavra que havia visto nos escritos de Nakamoto: hosed.”
Satoshi Nakamoto é James A. Donald, diz NY Magazine
Após uma pesquisa sobre a palavra “hosed”, que pode ser traduzida como arruinado, danificado ou comprometido, dependendo do contexto, o jornalista Benjamin Wallace só a encontrou em 4 ocasiões antes da publicação do whitepaper do Bitcoin.
Dessas quatro, duas vezes ela foi escrita por James A. Donald.
Para aumentar a sua confiança, o jornalista descobriu que Donald foi a primeira pessoa a responder a Satoshi Nakamoto.
“Sua resposta foi uma crítica técnica relacionada ao potencial de escalabilidade do Bitcoin e, após algumas trocas com Nakamoto, ele saiu da conversa. Ele era apenas um dos muitos cypherpunks interessados em dinheiro digital”, escreveu Wallace.
“Naquele momento, Donald ocupava somente a posição número 42 na minha planilha de suspeitos.”
Dado que a identidade do criador do Bitcoin já foi investigada incansavelmente, o nome de Donald já havia sido comentado por outros pesquisadores.
Em 2021, por exemplo, Gerald Votta notou que Donald fez perguntas específicas a Satoshi, poucos minutos após a publicação do documento. “Como ele poderia ler o documento, analisar isso e fazer questionamentos como essa pergunta incrível sobre escala em apenas três minutos?”, questionou Votta.
Voltando ao estudo de Wallace, o jornalista aponta para outras palavras usadas tanto por Nakamoto quanto por Donald, incluindo “fencible”, que não aparece uma única vez nos mais de 13 milhões de artigos pesquisados por Wallace.
“Diferentemente de termos como trusted third party ou zero-knowledge proofs, que são comuns em conversas entre especialistas em dinheiro digital ou criptografia, fencible e hosed não eram palavras exclusivas da criptografia ou mesmo da ciência da computação. Elas revelavam mais sobre a forma de expressão de alguém.”
Seguindo, ele também nota que Donald era um cypherpunk e libertário que programava em C++, combinando com o perfil do criador do Bitcoin.
Pistas falsas na internet e casa apagada no Google Maps
Partindo para uma investigação mais pessoal, o jornalista da NY Magazine aponta que a presença de James A. Donald na internet era vaga. Enquanto alguns sites apontavam que ele era canadense, outros diziam tanto que ele havia falecido e que esse não era seu verdadeiro nome.
No entanto, Wallace destaca que Donald é australiano, viveu no Vale do Silício por muitos anos, trabalhou para a Apple, Epyx e mais tarde para empresas de bancos de dados. “Como Nakamoto, às vezes usava a grafia americana e, em outras ocasiões, a grafia do Commonwealth”, comentou.
“Donald não estava no Twitter, Facebook ou LinkedIn, pelo menos sob seu próprio nome”, continuou Wallace.
“Sua casa em Palo Alto, avaliada em US$ 2,8 milhões, estava borrada no Google Street View, assim como sua casa em Austin, de US$ 400.000.”
Trabalhos antigos de James A. Donald reforçam suspeitas
Seguindo o texto, Benjamin Wallace destaca que James A. Donald era um libertário extremo. Como exemplo, cita uma frase antiga escrita pelo candidato a Satoshi Nakamoto.
“Então, pessoal, esse é o plano”, escreveu Donald em 1996. “Destruímos o Estado por meio da matemática avançada. Fazemos isso substituindo os atuais mecanismos institucionais das corporações por mecanismos criptográficos. Isso dará a mais pessoas a oportunidade de escapar e resistir aos impostos.”
“Ele tinha um interesse particular em dinheiro digital. “Eventualmente, as pessoas vão contornar os bancos, transferindo fundos diretamente umas para as outras”, escreveu em 1995. No Metzdowd, entre 2006 e 2009, Donald usou mais termos do vocabulário de dinheiro eletrônico empregado por Nakamoto do que qualquer outro participante.”
Outro ponto mencionado foi a criação do “Crypto Kong”, um software com diversas similaridades com o Bitcoin. Além de ser escrito em C++, ele também usava criptografia de curva elíptica para gerar pares de chaves públicas e privadas.
“Como Nakamoto, Donald havia codificado o software para Windows e, de maneira mais esotérica, usava a notação húngara que Nakamoto utilizava. Como Nakamoto, Donald usava linhas largas de barras para separar seções do código”, adicionou Wallace.
Já em 2008, em um site chamado “Jim’s Blog”, Donald escrevia sobre a crise financeira global, citando que “o resgate falhará”. Em janeiro de 2009, Nakamoto eternizou a manchete “Chanceler à beira do segundo resgate aos bancos” do jornal The Times no bloco gênesis do Bitcoin.
Jornalista viajou 28 horas para se encontrar de frente com seu principal suspeito
Um dos principais mistérios sobre Satoshi Nakamoto é justamente o fato do seu nome ser nipônico.
Segundo Wallace, James A. Donald possuía diversas propriedades no Havaí e poderia ter retirado esse nome de um obituário escrito pelo Honolulu Star-Advertiser.
Na data, 19 de junho de 2008, o jornal havaiano escrevia sobre o falecimento de um veterano da Segunda Guerra Mundial de 84 anos chamado Satoshi Nakamoto. Pouco depois o criador do Bitcoin começar a se comunicar com seus pares.
Convencido de sua teoria, Wallace enviou um e-mail a Donald e, para sua surpresa, recebeu uma resposta positiva sobre uma entrevista. No entanto, após dois meses de silêncio, o jornalista contratou um detetive para investigar a vida de Donald na Austrália.
“Várias semanas depois, acordei com uma mensagem: Daniel havia conseguido tirar uma foto de um homem na porta da casa. Ele era uma correspondência clara, 20 anos mais velho, do homem na foto que eu tinha enviado. A mesma barba densa, embora agora fosse branca. Óculos grandes de aro metálico semelhantes. O mesmo nariz carnudo. Três dias depois, eu estava em um avião rumo à Austrália.”
Após 28 horas de viagem, Wallace bateu na porta do suposto Satoshi Nakamoto, encontrando Donald sentado em um computador na sala de estar, usando fones de ouvido enquanto vestia calças de lã pretas e uma camisa de manga longa vermelha camuflada.
A conversa entre os dois, no entanto, não rendeu muitos frutos. Além de não comentar sobre a teoria do jornalista, Donald também se recusou a falar sobre outros suspeitos como Hal Finney.
— Você realmente sabe [quem é Satoshi Nakamoto]? Ou você meio que acha que tem uma ideia forte de quem possa ser?
— Eu tenho uma ideia muito boa de quem possa ser, mas eu não sei, na verdade, uh, não.
— Você acha que foi o Hal Finney?
— Eu não posso responder a isso.
Após negar um convite para almoçar, Donald começou a usar somente palavras monossilábicas, dando fim a conversa.
Por fim, o jornalista Benjamin Wallace aponta que não existe um “teste de paternidade” para o Bitcoin além do próprio Satoshi aparecer e assinar uma mensagem com seu endereço.
“Provavelmente nunca saberemos quem ele era. As memórias se desvanecem. As pessoas morrem. À medida que os anos passam, o rastro, se é que existiu, vai se tornando cada vez mais fraco”, finalizou.