Nick Szabo, considerado Satoshi Nakamoto por parte da comunidade, voltou às redes sociais nesta semana após um hiato de quatro anos. O foco de seus tuítes é a polêmica próxima atualização do Bitcoin.
Enquanto parte da comunidade é a favor da remoção do limite do OP_RETURN no esperado Bitcoin Core v30, outra teme que isso incentivará o spam e inserção de conteúdos ilegais na blockchain e, por conta disso, está apoiando o uso do Knots.
Criador do “bit gold”, um predecessor do Bitcoin, Szabo fez muito barulho em seu retorno, trazendo pontos importantes para a discussão. No entanto, ainda não escolheu um lado.
“Estou apenas explorando os problemas.”
“Ainda não tenho uma posição”, disse Szabo.
Nick Szabo fala sobre polêmica entre Bitcoin Core e Knots
Ao lado de Adam Back e Hal Finney, muitos apontam Nick Szabo como um dos principais suspeitos de ser Satoshi Nakamoto, criador do Bitcoin. Esse é o palpite de Elon Musk, por exemplo, homem mais rico do mundo.
Bastante reservado, ao contrário de outros colegas cypherpunks, Szabo quebrou o silêncio nesta segunda-feira (29) para falar sobre a próxima atualização do Bitcoin.
“O argumento do Core que ouvi é que se pode esconder dados de outras maneiras que não são passíveis de poda; os dados OP_RETURN podem ser podados. Isso sugere que permitir mais dados no OP_RETURN conceitualmente pode reduzir os riscos legais”, comentou Szabo.
“Um contra‑argumento é que conteúdo ilegal em um formato padrão contíguo, portanto facilmente visualizável por software padrão, tem mais probabilidade de impressionar advogados, juízes e jurados e, assim, ser legalmente mais arriscado do que dados que foram fragmentados ou ocultados e que, portanto, exigem software especializado para serem reconstruídos. Demonstrações desse tipo fariam parte do convencimento desses decisores legais de que um operador de nó réu tinha conhecimento do conteúdo”, continuou o desenvolvedor, mostrando estar aberto aos dois lados da conversa.
Em suma, quem está contra essa atualização — que removerá os limites do OP_RETURN — afirma que nodes serão obrigados a armazenar conteúdos ilegais em seus computadores, inseridos por transações de dados arbitrários.
Um executivo da OCEAN chegou a afirmar que “se essa atualização for aprovada, o Bitcoin está morto”.
O mesmo sentimento é compartilhado por Luke Dashjr, um dos desenvolvedores mais antigos do Bitcoin. Conversas vazadas recentemente mostram que Dashjr tem até mesmo a intenção de fazer um hardfork da rede.
Szabo afirma que aumentar o limite do OP_RETURN só piora as coisas
Em outro tuíte, Nick Szabo afirma que “aumentar o limite do OP_RETURN provavelmente vai agravar esse problema”, bem como “aumentará os riscos legais”, mas mesmo assim aponta que desenvolvedores do Core defendem que isso diminui este risco.
“Então, qual é a solução? Me parece que não há uma boa solução no nível do Core, além de implementar recursos que dificultem para os desenvolvedores de aplicativos populares usarem o OP_RETURN ou os dados de testemunha dessa forma, ou, em um nível social mais amplo, desencorajar tais aplicativos”, escreveu o criador do bit gold.
“Também seria possível que legislaturas aprovassem leis colocando a responsabilidade criminal nos signatários das transações, em vez dos operadores de nó.”
Em outros tuítes, o desenvolvedor aponta que os riscos legais variam conforme a jurisdição. Ou seja, pode ser possível que nodes não sejam responsabilizados nos EUA, por exemplo, mas sim em outros países, o que poderia diminuir a descentralização da rede.
O que diz Satoshi Nakamoto?
A polêmica em torno da próxima atualização do Bitcoin já reuniu a opinião de diversos nomes de peso, desde atuais desenvolvedores, membros notórios da comunidade e até lendas como Adam Back e Nick Szabo.
Já a BitMEX Research apontou que até mesmo o próprio Satoshi Nakamoto já participou deste debate, 15 anos atrás.
“Em 8 de dezembro de 2010, Satoshi lançou a versão 0.3.18 do Bitcoin, que incluiu uma verificação de conformidade padrão, para incluir apenas tipos de transação conhecidos”, destacou a BitMEX.
“Verificação IsStandard() para incluir apenas tipos de transação conhecidos nos blocos”, escreveu Satoshi, talvez já prevendo o uso do Bitcoin para outros fins além de transações de BTC.
No entanto, outros usuários perceberam que tal limitação não teria impacto. Um dos destaques fica para os comentários de Theymos, que herdou o fórum Bitcointalk de Satoshi.
“Por que algum minerador adotaria essa mudança, se isso significa que ele receberá menos taxas de transação devido às transações não padronizadas que serão perdidas?”, questionou Theymos na data.
Por fim, parte da comunidade percebeu ser impossível prevenir esse tipo de abuso — de inserção de dados aleatórios — e a discussão no tópico acabou naquele mesmo ano de 2010.
O estranho de tudo isso são os desenvolvedores do Core correndo para empurrar essa remoção dos limites do OP_RETURN mesmo com tanta discussão em andamento, principalmente não se tratando de algo prioritário.