Em nota publicada nesta terça-feira (8), o Banco Central dos EUA anunciou duas medidas para monitorar o setor de criptomoedas. Em suma, o Fed monitorará campos onde a SEC não possui controle, algo esperado desde o ano passado.
Enquanto a primeira medida do BC americano está voltada a bancos, incluindo custódia e negociação de criptomoedas, a segunda medida é focada inteiramente em stablecoins.
O Bitcoin, que já estava em alta, alcançou os US$ 30.000. Portanto, o mercado reagiu bem ao comunicado. Outras criptomoedas também operam em alta nesta quarta-feira (9).
Fed monitorará envolvimento de bancos com criptomoedas
Todas as organizações bancárias supervisionadas pelo Fed serão afetadas, informou o Banco Central americano, incluindo negócios pequenos com menos de US$ 10 bilhões em ativos consolidados. Ou seja, a fiscalização será geral.
Segundo o texto, a inovação das criptomoedas pode reduzir custos, criar produtos que melhor atendam a necessidade dos usuários, aumentar a competição e, por fim, melhorar a oferta de serviços financeiros.
No entanto, o Fed está preocupado com os riscos trazidos por essa mesma inovação. O monitoramento foi dividido em quatro partes.
- Parcerias complexas, impulsionadas pela tecnologia, com empresas que não são bancos para fornecer serviços bancários;
- Atividades relacionadas a criptoativos;
- Projetos que usam DLT (blockchain) com potencial de impacto significativo no sistema financeiro;
- Prestação concentrada de serviços bancários para entidades relacionadas a criptoativos e fintechs.
Enquanto o primeiro aborda o uso de bancos por terceiros, via APIs, o segundo ponto envolve a custódia e negociação de criptomoedas por bancos. Já os dois últimos estão ligados a stablecoins e também ao acesso bancário por empresas de criptomoedas em geral.
“O Programa será baseado no risco, e o nível e a intensidade da supervisão irão variar de acordo com o nível de envolvimento em novas atividades por cada organização bancária supervisionada”, escreveu o Fed. Na sequência, também nota que “as organizações bancárias não são proibidas nem desencorajadas a prestar serviços bancários a clientes de qualquer classe ou tipo específico”.
Por fim, o anúncio do Fed acontece após a Moody’s rebaixar a nota de classificação de risco de dez bancos americanos e notificar outros seis gigantes. No entanto, nenhum rebaixamento teve ligação com a exposição às criptomoedas.
Fed também monitorará stablecoins
Já a segunda medida do Fed é destinada inteiramente ao setor de stablecoins, ou seja, criptomoedas lastreadas e com paridade ao dólar americano. O anúncio acontece na mesma semana em que o PayPal lança sua stablecoin, o PYUSD.
Em suma, o BC americano quer garantir que os emissores de stablecoins possuam uma boa saúde financeira, mas que também atendam as normas financeiras encontradas sistema tradicional.
Também dividido em partes, o texto aborda cinco riscos destes produtos: operacionais, de segurança cibernética, de liquidez, de atividade criminosa e conformidade do consumidor.
Enquanto o primeiro ponto é sobre as próprias empresas emissoras de stablecoins, o segundo está ligado à tecnologia usada em tais moedas. O terceiro ponto aborda um cenário de saques em massa, o que necessitaria reservas líquidas.
Já os dois últimos estão relacionados a verificação de identidade dos usuários, chamado KYC, na sigla em inglês, bem como à proteção destes dados. Portanto, essa poderá ser a maior mudança na indústria, que atua sem grande supervisão há quase dez anos.
Por fim, o Fed informa que todos os bancos que desejam emitir uma stablecoin precisam obter autorização, até mesmo antes da realização de testes. No momento, o setor de stablecoins é o mais lucrativo da indústria das criptomoedas e cada vez mais players estão interessados em atender a demanda do mercado.
Supervisão de criptomoedas pelo Fed pode impulsionar ETFs de Bitcoin
Quando Fed faz movimentos relacionados às criptomoedas, o mercado financeiro sempre toma nota. Embora o Fed não supervisione diretamente os bancos em relação aos serviços de criptomoedas atualmente, o novo programa pode ter implicações de longo alcance.
A maior implicação de tal programa poderia ser o reconhecimento tácito da legitimidade das criptomoedas no sistema financeiro americano. Historicamente, os investidores tendem a se sentir mais confortáveis quando os órgãos reguladores envolvem-se mais ativamente.
Esse reconhecimento por parte do Fed poderia, por sua vez, aumentar a confiança dos investidores em produtos financeiros relacionados ao Bitcoin e demais criptomoedas.
No centro das atenções está a possibilidade de a BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, lançar um ETF de Bitcoin. Com padrões regulatórios mais claros e estritos, a entrada de empresas como a BlackRock no setor pode se tornar mais simplificada e direta.
Um ambiente regulatório bem definido frequentemente serve como um convite para instituições financeiras tradicionais explorarem novos territórios.
A estabilidade é outra consideração crucial. O mercado de criptomoedas é notório por sua volatilidade.
A presença mais forte do Fed poderia potencialmente servir como um amortecedor, tornando os ETFs de Bitcoin uma opção mais atraente para investidores tradicionais que buscam a valorização do Bitcoin, mas sem as montanhas-russas habituais associadas à sua cotação.
Além disso, o movimento do Fed pode abrir as comportas para um aumento nos fluxos de investimentos institucionais em criptomoedas. Com mais dinheiro institucional fluindo para o espaço, produtos como o ETF de Bitcoin da BlackRock poderiam se beneficiar imensamente.
Finalmente, enquanto a supervisão do Fed pode levar alguns bancos a considerar a oferta de seus próprios produtos de criptomoedas, também é igualmente provável que vejam empresas como a BlackRock como parceiros potenciais. Isso pode levar a uma corrida de touros sem precedentes para o Bitcoin.