Bitcoin venceu? Com os EUA como última fronteira, o mundo redefine o futuro da moeda digital

A guinada regulatória em Washington marca o fim da era de incerteza e o início da disputa global pelo modelo monetário do futuro.

Autores:

Nas últimas semanas, os Estados Unidos deixaram de tratar o Bitcoin como uma questão isolada de mercado para posicioná-lo como um ativo estratégico de interesse nacional. O Congresso americano avançou com um marco regulatório federal que classifica o Bitcoin como commodity digital, estabelece padrões unificados para exchanges e transfere parte da supervisão do setor para órgãos voltados à competitividade econômica.

Ao mesmo tempo, um relatório recente do Federal Reserve reconheceu que ativos digitais já influenciam os canais de transmissão da política monetária e a formação de reservas internacionais.

Esses acontecimentos ocorrem em meio a um crescimento histórico da adoção institucional: os ETFs de Bitcoin negociados nos EUA ultrapassaram 62 bilhões de dólares em ativos sob gestão, e em alguns dias apenas o fundo da BlackRock absorveu mais bitcoins do que todos os mineradores do mundo foram capazes de produzir. Não se trata mais de entusiasmo especulativo, mas de reposicionamento estrutural de capital global.

Essa é uma medida complementar a muitas outras e que representa a concretização de uma tendência – verificada, cada vez mais, internacionalmente – de superação do estigma que outrora pairava sobre a criptoeconomia.

Isto é, transpôs-se a incipiente discussão acerca da mera associação do Bitcoin e de outras criptomoedas com a prática de atos ilícitos para, acertadamente, avançar no sentido de compreender como essas novas e disruptivas tecnologias monetárias podem contribuir para uma profunda reconfiguração da economia mundial.

A esse respeito, como exemplo de medidas análogas que contribuíram para o rompimento com a mácula injustificadamente vinculada ao mercado em questão, destacam-se sobretudo o perdão presidencial concedido a Ross Ulbricht (fundador do Silk Road, preso por suposta associação com crimes relacionados ao uso de criptomoedas para operar um mercado ilegal) e a Changpeng Zhao (CEO da Binance, uma das mais proeminentes corretoras de criptomoedas do mundo, sancionado por falhar em cumprir prescrições legais relacionadas a compliance).

Desse modo, os Estados Unidos se posicionam como uma jurisdição capaz de competir pela recepção das empresas prestadoras de serviços criptoeconômicos com os demais países americanos e, sobretudo, com a Ásia e com a Europa, além de assegurar que uma parcela expressiva das operações com Bitcoin seja realizada na circunscrição do território americano. Fala-se até mesmo em fazer dos Estados Unidos a capital “crypto”.

O que estamos presenciando não é um movimento isolado dos Estados Unidos, mas a consolidação de uma tendência global já em curso nas maiores economias do mundo. No G7, o Japão foi o primeiro país a incorporar o Bitcoin a um ambiente regulado, reconhecendo-o como forma de pagamento desde 2017 e exigindo segregação de ativos e auditoria constante.

A União Europeia aprovou o MiCA – no âmbito de um pacote de dispositivos conhecido como Estratégia de Finanças Digitais para a União Europeia –, um marco que padroniza regras para todos os países do bloco, integrando os criptoativos ao sistema financeiro com foco em estabilidade, governança e transparência.

Além disso, também aprovou a Estratégia de Pagamentos de Varejo para a União Europeia, no âmbito da qual insere as normas que regulam os pagamentos realizados com criptomoedas. O Reino Unido adotou uma estratégia voltada para competitividade global e inovação, reconhecendo stablecoins como meio de pagamento regulado e posicionando Londres como centro internacional de ativos digitais. O Canadá, por sua vez, foi pioneiro ao autorizar o primeiro ETF de Bitcoin do mundo, abrindo o caminho para a adoção institucional dentro de um ambiente regulado.

Entre os países do BRICS, a postura em relação ao Bitcoin revela interesses estratégicos mais amplos. A China proibiu transações com criptomoedas privadas, mas lidera o desenvolvimento de sua moeda digital estatal (CBDC), o yuan digital, buscando controlar a infraestrutura monetária da era digital.

Mesmo assim, estabeleceu Hong Kong como um centro de consolidação do desenvolvimento de stablecoins, desde que as empresas emissoras das criptomoedas obtenham prévia autorização para fazê-lo e observem determinados requisitos referentes ao lastro delas e à impossibilidade de render juros de qualquer forma. Do mesmo modo, Singapura aprovou um regime jurídico próprio para as criptomoedas classificadas como stablecoins.

A Índia impôs uma das estruturas fiscais mais restritivas do mundo para criptoativos, com tributação de 30% e imposto sobre transações, ao mesmo tempo em que avança com sua rupia digital. A Rússia estuda o uso do Bitcoin para comércio exterior como alternativa a sanções financeiras. A África do Sul se tornou a primeira nação africana a formalizar a regulação de criptoativos como produtos financeiros, sinalizando seu interesse em manter competitividade em mercados emergentes.

O Brasil aprovou a Lei n.º 14.478, reconhecendo juridicamente os criptoativos e atribuindo ao Banco Central a supervisão do setor (sem prejuízo das competências próprias da Comissão de Valores Mobiliários e da Receita Federal do Brasil, que permanecem inalteradas), preparando a integração ao DREX.

Recentemente, o Banco Central do Brasil, incumbido de regular a matéria, publicou quatro propostas de Resolução, às quais foram submetidas a consultas públicas e, em breve, devem ser publicadas oficialmente. Elas cuidam das condições para a prestação de serviços criptoeconômicos no Brasil e reconhecem algumas das operações com criptomoedas como operações de câmbio.

Também é de valia destacar que, assim como os Estados Unidos criaram uma reserva de criptomoedas, tramita no Congresso Nacional brasileiro projeto de lei que propõe a criação de uma Reserva Estratégica Soberana de Bitcoins (RESBit).

Paralelamente a esses blocos, importantes hubs financeiros se consolidaram como laboratórios da nova economia digital. A Suíça estabeleceu o primeiro ambiente regulatório favorável à custódia e tokenização institucional, atraindo bancos tradicionais e empresas de blockchain.

Hong Kong reposiciona-se como porta de entrada para capitais digitais no contexto asiático, em contraste com a postura restritiva da China continental. Os Emirados Árabes Unidos, com estruturas especializadas em Dubai e Abu Dhabi, criaram jurisdições específicas para atrair empresas de ativos digitais, com regimes fiscais competitivos e regras claras de licenciamento.

Esse movimento global revela que o Bitcoin já foi incorporado como componente estrutural da economia digital. O que varia entre os países é o grau de liberdade, supervisão ou centralização. Alguns veem no Bitcoin uma oportunidade de fortalecer sua posição no sistema financeiro internacional; outros o tratam como variável geopolítica ou instrumento a ser controlado em nome da soberania monetária.

É nesse cenário que a entrada formal dos Estados Unidos representa um ponto de inflexão. Cerca de 55% de toda a liquidez institucional global em Bitcoin passa pelo sistema financeiro americano ou por jurisdições a ele conectadas. Os ETFs absorvem múltiplas vezes a emissão diária da rede, demonstrando que o Bitcoin deixou de ser um ativo marginal e passou a integrar a macroeconomia.

Com a criação de um marco federal, o país sinaliza que o Bitcoin fará parte do futuro sistema financeiro — não como alternativa paralela, mas como componente regulado, incorporado às estruturas de capital, reserva e liquidez global.

Ademais, o relatório do Tesouro dos Estados Unidos da América que serviu de amparo para a aprovação do GENIUS Act revelou que 99% da capitalização das stablecoins que proveem liquidez para o mercado de criptoativos – em especial para a conversão de outros ativos em Bitcoin – são lastreadas em Dólar Americano, de tal modo que esses instrumentos financeiros passam a ter relevância sistêmica para as finanças globais, interagindo de modo expressivo com a própria economia nacional e com as moedas locais.

Os desdobramentos desse movimento se abrem em três cenários possíveis. No primeiro, o Bitcoin consolida-se como reserva digital global, adotado por instituições e fundos soberanos como proteção contra ciclos de inflação, endividamento e perda de confiança fiduciária.

No segundo, ganha espaço como ativo financeiro institucional, integrado a bolsas, fundos e infraestrutura de mercado, mas operado predominantemente por intermediários regulados, com uso cotidiano cada vez mais distante do modelo peer-to-peer original. No terceiro, emerge uma estrutura híbrida, em que o Bitcoin passa a existir em duas camadas: uma regulada, institucional e voltada a mercados globais; outra descentralizada, preservada por indivíduos e comunidades que adotam o protocolo em sua essência soberana. Esses cenários não são excludentes e podem coexistir, refletindo a natureza única do Bitcoin como tecnologia aberta e ativo financeiro ao mesmo tempo.

Os próximos anos serão decisivos. O avanço das moedas digitais de bancos centrais, o próximo halving do Bitcoin e a expansão do mercado institucional indicarão qual dessas camadas ganhará predominância. O que é certo é que o Bitcoin já não é mais uma hipótese tecnológica. Ele se tornou uma realidade estrutural da economia digital global. A entrada dos Estados Unidos encerra a era de incerteza e inaugura uma nova fase: não se discute mais se o Bitcoin fará parte do futuro, mas em quais condições ele estará presente na nova ordem monetária do século XXI. 

$100 de bônus de boas vindas. Crie sua conta na melhor corretora de traders de criptomoedas e ganhe até $30.000 em cashback. Acesse: Bybit.com

Entre no nosso grupo exclusivo do WhatsApp | Siga também no Facebook, Twitter, Instagram, YouTube e Google News.

Comprar agora

Últimas notícias