Enquanto o mundo aguarda por compras bilionárias de Bitcoin pelos EUA, a principal moeda a se beneficiar da política pró-cripto de Donald Trump pode ser o próprio dólar americano.
Isso porque o governo está finalmente apoiando o setor de stablecoins pareadas à sua moeda e muitas vezes lastreadas em sua própria dívida pública.
Como exemplo, a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC) divulgou nesta sexta-feira (7) que estará realizando um fórum com diversos CEOs da indústria de criptomoedas. Dentre os convidados estão diretores da Circle, Coinbase, CryptoCom, MoonPay e Ripple.
O tema a ser abordado é justamente stablecoins.
“Estou entusiasmada em anunciar esta iniciativa inovadora para os mercados de ativos digitais nos EUA”, disse Caroline D. Pham, nomeada presidente da CFTC no mês passado.
“A CFTC está comprometida com a inovação responsável. Estou ansiosa para dialogar com os participantes do mercado e cumprir a promessa da Administração Trump de garantir que os Estados Unidos liderem o caminho em oportunidades econômicas.”
Embora ainda não existam muitas informações sobre essa reunião, o anúncio cita outro texto de 2023 onde Pham fala sobre as oportunidades de expandir esse mercado de “garantias tokenizadas não-monetárias” (stablecoins e outros ativos semelhantes) com o uso da tecnologia das criptomoedas.
Crescimento das stablecoins é silencioso, mas está acontecendo
Enquanto o Bitcoin roubou os holofotes nos últimos meses ao subir mais de 61% desde a vitória de Donald Trump, as stablecoins também estão crescendo em ritmo acelerado desde então. Embora isso não possa ser visto no preço, o aumento é nítido quando olhamos para o valor de mercado dessas moedas pareadas ao dólar americano.
A Tether (USDT), maior stablecoin do mercado, saltou de US$ 120 bilhões para US$ 141 bilhões nos últimos três meses, um aumento de US$ 21 bilhões.
O mesmo comportamento pode ser visto na USD Coin (USDC). Em apenas três meses, seu valor de mercado aumentou 59% ao saltar de US$ 35 bilhões para US$ 56 bilhões desde 5 de novembro até esta segunda-feira (7).
Devido à volatilidade do Bitcoin, considerada algo que impossibilita seu uso como unidade de conta e moeda, o dólar tem um espaço gigante para ocupar. Nas próprias corretoras, o USDT está com um volume de US$ 106 bilhões nas últimas 24 horas, quase o dobro do volume do Bitcoin (R$ 54 bilhões).
Além desse setor fechado, as stablecoins também estão ganhando espaço fora dele. Dentre os exemplos está seu uso em locais turísticos, como em Bali, na Indonésia, mas também por argentinos que desejam se proteger da inflação sem precisar de um ativo tão volátil quanto o Bitcoin.
Portanto, mesmo proibindo a criação de um dólar digital pelo Estado, essa política pró-criptomoedas de Trump pode fazer com que o setor privado fique encarregado de manter, e expandir, a força do dólar no mundo.
Já investidores e usuários dessas moedas teriam mais motivos para confiar nesses projetos caso sejam apresentadas regulações e proteções mais claras.
Indo além, os EUA também poderiam tokenizar seus títulos do Tesouro, ou incentivar empresas privadas a fazerem isso, facilitando acesso estrangeiro à sua dívida pública.
De qualquer forma, muitas stablecoins já possuem posições gigantes nesses ativos. Apenas a Tether, por exemplo, detém US$ 94 bilhões em títulos do Tesouro dos EUA, além de outros US$ 17 bilhões em RRPs. Tal exposição já é maior que a de países como Alemanha e México, por exemplo.
Por fim, resta saber o que outros países farão para frear esse avanço do dólar. A Rússia, por exemplo, já proibiu o uso de stablecoins, afirmando que isso é “inadmissível”. No Brasil, o BCB propôs o banimento da autocustódia de stablecoins.