Fernando Haddad crítica a lei de Bitcoin em El Salvador

Ex-candidato a presidente no Brasil não gostou de ver adoção.

A decisão de El Salvador de criar a lei para determinar que o Bitcoin se torne uma moeda de curso legal do país com certeza foi uma das grandes conversas dentro do criptomercado e até mesmo fora.

Recentemente, até nomes importantes da política brasileira comentaram sobre a decisão do país da América Central. Neste cenário, tivemos o Fernando Haddad (PT) criticando a adoção do Bitcoin por El Salvador.

No começo dessa segunda-feira, 6 de setembro, Haddad falou nas redes sociais sobre a sua percepção sobre o uso das criptomoedas por parte do país. Para o ex-candidato à presidente da república, a nova lei em El Salvador ameaça a soberania das moedas da América Latina.

“Se nada for feito, os países da América latina perderão um a um a soberania sobre suas moedas”, afirmou o ex-candidato, indicando que ele acredita que o Bitcoin vai tirar o poder das moedas locais.

Tecnicamente, ele não está errado, uma vez que a ideia central do Bitcoin é tirar o poder financeiro do banco e devolvê-lo ao povo.

No entanto, a segunda parte do Tweet é mais confuso, por assim dizer.

Haddad afirmou que “Os EUA desejam um euro sem EU”, uma América Latina dolarizada com um muro nos separando do norte. Além disso, revelou que esse seria o “pior cenário” e que apenas o Brasil pode se rebelar contra essa ideia e mudar essa tendência.

O Bitcoin não é controlado pelos Estados Unidos (nem por ninguém) e não representa a dolarização da moeda em nenhuma outra jurisdição.

Todavia, o Bitcoin é o Bitcoin e o máximo que ele faz é bitcoinizar o dinheiro do investidor, uma vez que ele pode ser vendido por real, dólar, peso argentino, Ethereum ou seja lá qual for a escolha de cada um — o que não justifica o ponto narrativo adotado por Haddad.

O PT e uma moeda para rivalizar o dólar

Diante da afirmação de Fernando Haddad, vale relembrar que, recentemente, a maior figura política do PT, Luís Inácio “Lula” da Silva, falou sobre como o Brasil precisa se “separar” do dólar através da criação de uma moeda única para a região da América do Sul.

Curiosamente, o Bitcoin se encaixaria na definição de Lula para uma moeda escapar da dominância do dólar.

Basta ver que, na Venezuela, o uso da criptomoeda não é desincentivado, já que ajuda os moradores a escaparem das sanções dos norte-americanos, mesma ideia utilizada por El Salvador.

No entanto, se a posição de Haddad refletir a alta cúpula do PT, a ideia seria criar uma criptomoeda do zero, totalmente controlada pelo estado — e ter o Bitcoin como vilão, o que fortalece ideais imperialistas dos EUA.

Claro, isso não passa de especulação baseado na opinião dos candidatos, mas, com certeza, poderá ser um importante assunto no futuro, principalmente em meio à crise financeira e o enfraquecimento do real em relação ao dólar.

A visão de quem acompanhou a adoção de Bitcoin em El Salvador

Recentemente, o canal Bitconheiros conversou com o convidado Moritz Wietersheim, fundador da carteira Specter.

Ao saber da lei de El Salvador para a adoção de Bitcoin, que entra em vigor a partir dessa quarta-feira, dia 8, Moritiz foi até El Salvador para conhecer essas mudanças e entender melhor sobre a situação do local, trazendo uma visão diferente do estatismo de Haddad, sendo mais puxada para alguém que está dentro do criptomercado.

Wietersheim disse, durante a entrevista, que, até o momento, o Bitcoin não tem uma representação muito grande como a mídia dá a entender, mas que com a lei passando a ter efeito é possível vermos esses números aumentar, principalmente com o incentivo de empresários, como o Jack Mallers e os investimentos da Strike, para estimular o uso do Bitcoin por lá.

Na entrevista, Moritz também falou acerca da incerteza sobre como todo o sistema integrado ao Bitcoin realmente vai funcionar, incluindo a custódia.

“Há alguns projetos por lá [de custódia], o Estado está preparando um fundo de Bitcoin como uma cold storage, há também certas empresas que estão falando com equipes do governo para oferecer uma solução, mas não posso falar mais.”

Isso indica que ainda não há uma confirmação sobre como tudo será implementado — o que é um pouco problemático a essa altura do campeonato.

Mas, independente das questões estruturais, a questão da soberania do dinheiro parece ter interessado até mesmo os banqueiros. 

Enquanto explicava sobre o que é multsig para banqueiros e empresários, Moritz também afirmou que um dos banqueiros ficou com olhos de admiração com a possibilidade de proteger o dinheiro do estado.

“A gente explicou para ele que ainda não entendeu o que é multsig que ele pode ter uma chave no Panamá, outra em Miami e outra no México. Então se você tem algum problema com o governo, ele pode chegar amanhã na sua empresa e confiscar o seu Bitcoin, mas ele não vai conseguir. E esse banqueiro ficou com olhos assim [arregalados].”

O fundador da carteira Specter também destacou que a lei é um “Anúncio muito forte contra os Estados Unidos” e que, se Nayib Bukele está conseguindo implementar a sua ideia, é porque os Estados Unidos não se sente tão ameaçado assim pela adoção do Bitcoin, uma vez que também possuem o dólar como moeda oficial.

“Esse é um anúncio muito forte contra os Estados Unidos, falar que que ‘vamos deixar o Bitcoin competir contra o dólar’. Eu acho que se os EUA não tivesse de acordo com isso, eles já teriam matado Bukele, teriam dado um golpe. Na minha opinião existe um grupo na elite dos Estados Unidos que estão muito pró-Bitcoin, permitindo esses experimentos.”

De forma geral, a visão de Moritz indica que o Bitcoin está em caminho para construir a relação com os banqueiros, empresários e que até mesmo o establishment aos poucos aceitam a ideia da criptomoeda.

De fato, as pessoas parecem estar dispostas a adotar a moeda no mercado varejistas, uma vez que estão abertas à essa nova tecnologia.

Como dito anteriormente, tudo depende de como o governo de Bukele, que Moritz descreveu como “oportunista”, vai lidar com o projeto. 

Confira a entrevista com Moritz na íntegra:

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Matheus Henrique
Matheus Henrique
Fã do Bitcoin e defensor de um futuro descentralizado. Cursou Ciência da Computação, formado em Técnico de Computação e nunca deixou de acompanhar as novas tecnologias disponíveis no mercado. Interessado no Bitcoin, na blockchain e nos avanços da descentralização e seus casos de uso.

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