Vivendo um cenário nunca antes visto por causa do novo coronavírus (Covid-19) muita gente passou a se perguntar até quando vai durar o isolamento social e até quando o vírus vai ficar circulando no mundo.
Essa pergunta ainda não tem uma resposta precisa, mas há projeções científicas que a vida no Brasil, e em todo mundo, só volte a normalidade em 2022. Até lá, se não houver uma vacina ou medicamento que combata o Covid-19, e, dependendo do comportamento do vírus, podemos viver uma série de quarentenas intercaladas.
Os danos já causados a economia com o isolamento social devem perdurar nos próximos anos e alguns setores como o turismo, cultura e esportes devem sofrer mais impactos já que não se sabe quando poderemos ter aglomerações de pessoas novamente.
Outros serviços, a exemplo o comércio não essencial, devem voltar gradativamente de forma controlada. No entanto, com novos isolamentos intercalados nos próximos anos, esses e outros serviços devem ser novamente impactados.
Especialistas explicam que não vamos ficar em quarentena como estamos agora o tempo todo, mas há possibilidade de novos isolamentos e de restrições de serviços dependendo de como o coronavírus se espalhar nos próximos anos.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e publicada na revista Science, mostra que se o vírus não for contido de forma eficiente ele irá circular por mais dois anos com diversas intensidades.
Como o covid-19 é completamente novo, a população ainda não tem anticorpos para lidar com ele e o corpo tem dificuldades para combatê-lo, tornando difícil controlar novos surtos.
Pelos estudos da universidade, o mundo pode viver surtos anuais ou bienais da doença, caso não haja uma imunidade permanente.
“A imunidade a curto prazo (da ordem de 40 semanas) favorece o estabelecimento de surtos anuais de SARS-CoV-2 (vírus da Covid-19), enquanto a imunidade a longo prazo (dois anos) favorece os surtos bienais”, explica o estudo.
A pesquisa diz ainda que se houver uma imunidade permanente, a expectativa é que o novo coronavírus possa desaparecer em cerca de cinco anos ou mais.
O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e membro do comitê de enfrentamento à Covid-19 pela Prefeitura de Belo Horizonte, Estevão Urbano, considera que será preciso que 60% a 70% da população pegue o vírus para desenvolver uma imunidade geral contra a doença. “Não há como prever o tempo de circulação global e brasileiro do vírus.
Vai depende se teremos ou não uma vacina e do tempo que a população, em pelo menos 60% ou 70% dela, terá tido contato como o vírus e desenvolvido anticorpos para fazer uma imunidade de rebanho – quando o protegido transfere a proteção para outros não imunes.
Em São Paulo, mesmo com tantas mortes e casos, só 5% da população teve contato com o vírus. Por isso que se fala em meses ou até em dois anos, não é possível saber como será a circulação viral”, explicou.
O infectologista Leandro Curi explica que desenvolver uma vacina ou um remédio que combata o Covid-19 ainda é um desafio.
“Vírus igual ao do corona são altamente mutantes – isso significa que eles ficam o tempo todo mudando a estrutura do corpo. A medida que eles vão entrando de pessoa em pessoa, eles vão mudando muito. Por isso é tão difícil fazer uma vacina eficiente, por que a vacina que seria para um vírus não vai funcionar para o outro que mudou e isso vale para remédios também. Então, como a barreira da vacina e do remédio eficaz não existem fica difícil prever quanto tempo o vírus circulará” considera.
Sem isolamento social danos a economia poderiam ser piores
Estevão Urbano explica que os números no Brasil e no mundo estão crescendo e estamos entrando no inverno que é uma estação climática em que os casos podem aumentar ainda mais.
O infectologista defende que, apesar das dificuldades, é importante manter o isolamento social para não causar um colapso do sistema de saúde e econômico.
Segundo ele, nos próximos dias pode ser feita uma flexibilização da quarentena no Brasil com reabertura de parte de atividades econômicas, no entanto isso deve ser feito de forma responsável em localidades com menos casos.
“A quarentena não acaba mais rápido com o vírus, por que as pessoas continuam sem a imunidade. A quarentena faz com que as consequências da pandemia sejam menores. Tanto do ponto de vista de perda de vidas, quanto da crise econômica, que já é grande em uma situação sobre controle e pode se tornar ainda muito maior quando há uma explosão de casos em determinado local. A quarentena achata a curva e estende os casos de uma forma mais distribuída por meses. O isolamento evita que os casos se agrupem em um determinado momento e evita um colapso do sistema como um todo”.
O infectologista Leandro Curi explica que o isolamento social é necessário por causa da grande capacidade de infecção do coronavírus.
“A velocidade de transmissão do vírus é muito alta e ele tem uma grande capacidade de infectar tanto superfícies quanto o ar. Então quando a gente fala em distaciamento, a quarentena serve para que esse vírus fique armazenado na pessoa por duas semanas para diminuir a quantidade de vírus no corpo e não infectar outra pessoa. Se todo mundo aglomerar, um infectado contamina várias pessoas. Então quanto mais cedo a gente se isolar, mais rápido esse vírus vai passar e mais rápido a gente vai conseguir sair do isolamento e retornar às nossas atividades corriqueiras” conclui.
Segunda onda da doença gera retomada de isolamento social
Alguns países do mundo, que já superaram a crise mais forte do coronavírus, como a China, onde a doença começou, temem uma segunda onda de coronavírus.
O país fez o lockdown – fechamento de todos os serviços e confinamento da população que só pode sair em casos essenciais- e conseguiu controlar surto. No entanto, dias atrás, algumas cidades chinesas decretaram novamente o lockdown por causa de aumento de casos.
O país estava voltando ao normal, mas uma segunda onda das doenças começou a se formar e o isolamento social precisou ser retomado.
Esse temor também ocorre no Brasil e em outros países do mundo. Se o isolamento for afrouxado, a disseminação do vírus aumenta com mais contato social e uma segunda onda do surto pode surgir.
A própria Organização Mundial de Saúde (OMS) já alertou os países da Europa para manterem as medidas de prevenção contra o covid-19.
A OMS lembrou outros casos de pandemias como a gripe espanhola, entre 1918 e 1920 que, em sua segunda onda, matou muito mais gente que na primeira onda. A possibilidade de novas ondas da do novo coronavírus deixa ainda mais explícita a possibilidade da quarentena se estender ou terminar e depois precisar ser retomada.