A Igreja Universal recebeu R$ 72 milhões de Glaidson Acácio dos Santos, dono da GAS Consultoria, que foi preso na última semana por suspeita de pirâmide financeira com Bitcoin.
A Gas Consultoria teve 591 bitcoins apreendidos, cerca de R$ 150 milhões e é apontada pela Polícia Federal como a maior quantia da criptomoeda já apreendida no Brasil. Esse valor, no entanto, não era nada quando a empresa funcionava e via prosperar a captação de novos clientes.
Como Glaidson dos Santos era ex-pastor da Igreja Universal na Venezuela, ele tinha uma simpatia pela religião e colaborava com frequência para o templo da cidade de Cabo Frio (RJ).
Contudo, na última semana, após a Operação Kryptos ser deflagrada pela polícia federal, a igreja partiu para tentar dar explicações sobre os milhões recebidos pela possível pirâmide financeira.
A Igreja Universal do Reino de Deus acionou a Gas Consultoria na justiça, após receber R$ 73 milhões em doações da empresa e de seu líder, Glaidson dos Santos.
R$ 73 milhões em doações
Nos últimos meses, conforme apresentado em um processo a que o Livecoins obteve acesso, a Igreja Universal recebeu quase R$ 73 milhões em doações da Gas Consultoria e de Glaidson dos Santos.
“A AUTORA recebeu dos Réus, a título de doações, o valor de R$ 72.353.000,00 (setenta e dois milhões, trezentos e cinquenta e três mil reais), entre maio de 2020 e julho de 2021, de forma parcelada e sem qualquer aviso ou comunicação prévia”.
Ao ver a operação Kryptos na última semana, contudo, a igreja partiu para a justiça para um processo de produção de provas antecipadas, presente no Codigo Civil brasileiro.
Segundo a defesa da Universal, a origem dos valores doados para a instituição são desconhecidas, além de terem sido recebidas sem aviso prévio. Dessa forma, a igreja teme ser envolvida em crimes que não praticou pelo simples fato de receber doações.
Cobrado por Bispo em Cabo Frio, Glaidson deixou até de frequentar os cultos
Ex-pastor da Universal na Venezuela, Glaidson teria sido procurado pelo bispo da igreja em Cabo Frio, para ser explicado o que estaria motivando as vultuosas doações para a instituição religiosa.
Em resposta, Glaidson teria declarado apenas que passava por uma boa fase nos negócios, que envolveriam as áreas de tecnologia e produção de softwares. Mas em 14 transferências para a Igreja Universal, Glaidson dos Santos e a Gas Consultoria enviaram quase R4 73 milhões, o que assustou o setor jurídico.
Cobrado por explicações, o líder da possível pirâmide financeira acabou deixando de frequentar os cultos e até se desligando da igreja, que passou a buscar mais informações sobre seu negócio.
“Em razão do exorbitante valor – que foge totalmente ao padrão de doações dos fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus -, o bispo Jadson Santos, líder da Igreja Universal do Reino de Deus no estado do Rio de Janeiro, procurou Glaidson, cobrando informações, na tentativa de entender a real motivação de tal modo de proceder.
Diante desses questionamentos, Glaidson acabou se desligando novamente da Igreja e deixou de frequentar os cultos em Cabo Frio, sem apresentar nenhuma explicação à AUTORA, que passou a buscar maiores informações, a partir de dados públicos.”
Igreja Universal quer documentos que comprovem origem de doações com urgência
Com o delicado caso da Gas Consultoria na justiça do Rio de Janeiro, com investigações sobre crimes de lavagem de dinheiro, a Igreja Universal então pede que a empresa e seu líder enviem com urgência as documentações que comprovam a origem do dinheiro enviado como doação.
Para a defesa da Igreja Universal, como há o risco que explicações sejam dadas ao COAF, a instituição espera obter essa documentação. O caso poderá tramitar em sigilo de justiça visto que a defesa pediu ao judiciário do Rio de Janeiro esse item, mas ainda se encontra em fase inicial visto que foi dado entrada na última sexta-feira (27).
Reposta da Universal
Após ser procurada pela reportagem, a Igreja Universal enviou a seguinte nota:
UNIVERSAL JÁ HAVIA ALERTADO AS AUTORIDADES E O PÚBLICO SOBRE SUSPEITA DE PIRÂMIDE FINANCEIRA
“Há quase dois anos, desde o final de 2019, em inúmeras ocasiões, como provam os vídeos abaixo, a Igreja Universal do Reino de Deus vem alertando seus membros para os golpes embutidos em supostos investimentos em criptomoedas.
A Universal tomou esta atitude exatamente porque tem ciência de que um dos alvos destas pirâmides financeiras são as pessoas de boa-fé, especialmente das comunidades evangélicas. Todos sabem que o sucesso de uma pirâmide financeira depende da entrada constante de novos investidores. Daí a razão destas empresas buscarem se infiltrar em clubes, associações, corporações e especialmente igrejas, a fim de se valerem do espírito fraterno e de confiança que une seus membros. A Universal não compactua com nenhuma atividade ilícita, por mais ganhos que possa gerar. Ofertas que procedam de engano, fraude e injustiça não têm valor algum para Deus.
Quanto a Glaidson Acácio dos Santos, informamos que ele ingressou no treinamento pastoral da Universal em 2003 e foi desligado pouco depois por não atender aos padrões do ministério. Há alguns meses, a Igreja recebeu informações de que ele estaria assediando e recrutando fiéis e integrantes do corpo eclesiástico para participar de sua empresa, que demonstrava sinais que caracterizavam algum envolvimento com pirâmide financeira.
Para combater isso, além dos constantes alertas dados publicamente em seus cultos e programações de TV e rádio, a Universal tem feito rigorosas averiguações internas para assegurar que seus oficiais não promovam e muito menos se envolvam com estas pirâmides. É por esse rigor que alguns já não fazem mais parte do quadro de pastores da Igreja.
Além disso, em maio deste ano, a Universal apresentou uma notícia-crime na Justiça contra os envolvidos. Mais recentemente, foi aberto um processo judicial cível solicitando que Glaidson confirme à Igreja que os dízimos e doações que ofereceu como frequentador, têm origem lícita. Ou seja, muito antes da operação policial da última semana que resultou na prisão de Glaidson, a Universal já vinha alertando e cooperando com as autoridades para as devidas investigações.
Aliás, esta ação movida pela Universal deveria correr em segredo de Justiça, mas, criminosamente, vazou para a Imprensa. A Igreja requer aos veículos de Comunicação Social que respeitem o sigilo legal e não divulguem o conteúdo, e se reserva o direito de tomar providências cabíveis contra a divulgação indevida deste processo.”