Uma proposta popular pode resultar em um momento histórico, com defensores do Bitcoin liderando uma iniciativa para pressionar o Banco Nacional Suíço (SNB) a incluir bitcoin em suas reservas.
A proposta, liderada por Yves Bennaïm, um defensor do Bitcoin na Suíça, tem como objetivo fortalecer a independência econômica e a neutralidade do país em um contexto global cada vez mais incerto.
O projeto é direto: alterar um artigo constitucional para que o banco central suíço deixe de manter apenas reservas em ouro e passe a ter também o Bitcoin. Bennaïm explica que essa medida é crucial para proteger a soberania suíça em face de turbulências econômicas e geopolíticas imprevisíveis.
“Estamos finalizando os preparativos organizacionais do comitê e elaborando os documentos necessários para iniciar o processo”, disse Bennaïm, que também é membro do conselho da Bitcoin Association Switzerland.
Corrida contra o tempo
Bennaïm conta com o apoio fervoroso de Luzius Meisser, presidente da Bitcoin Suisse, gestora de ativos especializada em criptomoedas. Meisser argumenta que o Bitcoin é uma reserva mais resiliente a longo prazo do que os tradicionais euros e dólares, sujeitos à inflação decorrente das montanhas de dívidas governamentais.
Meisser e seus aliados não são novatos no debate. Em uma assembleia geral anterior, propuseram que o SNB comprasse Bitcoin regularmente, alegando que isso poderia ter enriquecido a Suíça em cerca de 30 bilhões de francos suíços.
Ele defende que o Banco Central deve agir o mais rápido possível, evitando entrar no mercado quando o Bitcoin já estiver amplamente adotado por outros bancos centrais.
“Na virada do milénio, o SNB se desfez de uma grande parte das suas reservas de ouro no pior momento possível, depois de vários outros bancos centrais já o terem feito e o preço do ouro ter atingido o seu ponto mais baixo em décadas. Se comprarmos Bitcoin tarde demais e outros bancos centrais se adiantarem, corre o risco de “ter que entrar com preços significativamente mais altos do que todos os outros”, diz Meisser.
Além de ser apoiada pela comunidade de criptomoedas, a proposta também é defendida por parte da indústria financeira tradicional, com a recente aprovação de veículos de investimento em Bitcoin em jurisdições como os EUA e Hong Kong influenciando o debate.
Leon Curti, da Digital Asset Solutions, vê essa aprovação como uma legitimação do Bitcoin no sistema financeiro tradicional.
Alguns cientistas também veem mérito na proposta. Gunther Schnabl, do Instituto de Política Econômica da Universidade de Leipzig, acredita que o Bitcoin pode diversificar os riscos das reservas cambiais do SNB em um cenário de crescente dívida nacional global e instabilidade econômica.
Até o momento, o SNB não se pronunciou publicamente sobre a iniciativa, mas Bennaïm e seus apoiadores estão determinados a iniciar uma discussão profunda sobre o papel do Bitcoin nas reservas de um dos bancos centrais mais respeitados do mundo.
Bitcoin como reserva de bancos centrais
Hal Finney, conhecido como a primeira pessoas a receber uma transação de Bitcoin e desenvolvedor fundamental no início da história da moeda digital, tinha uma visão abrangente sobre o potencial do Bitcoin como uma reserva de valor e sua implicação para o sistema bancário.
Em uma postagem no fórum bitcointalk.org, onde discussões relacionadas ao bitcoin começaram, Hal Finney comenta sobre bancos lastreados em bitcoin.
“Eu acredito que este será o destino final do Bitcoin, ser o “dinheiro de alta potência” que serve como moeda de reserva para os bancos que emitem seu próprio dinheiro digital. A maioria das transações de bitcoin ocorrerá entre bancos. As transações de Bitcoin por pessoas serão tão raras quanto … bem, como são hoje.”, disse Hal Finney
A Suíça, conhecida por sua neutralidade e estabilidade econômica, poderia estar na vanguarda dessa mudança prevista pelo pioneiro do Bitcoin. A adoção da moeda digital como parte das reservas do SNB poderia diversificar o portfólio de ativos e fortalecer a posição da Suíça como um líder em inovação financeira.
Apesar disso, a medida proposta na Suíça também enfrenta oposição, com críticos levantando preocupações sobre a volatilidade do Bitcoin e sua regulação incerta. No entanto, seus defensores argumentam que a inclusão do Bitcoin nas reservas cambiais suíças seria um passo audacioso em direção à modernização do sistema financeiro e à adaptação aos novos paradigmas econômicos.
Com o debate previsto para ocorrer ao longo da próxima semana, a Suíça poderia estar à beira de uma decisão histórica, assim como aconteceu com El Salvador tornando o Bitcoin uma moeda de curso legal.
A adição do Bitcoin às reservas do Banco Nacional Suíço, portanto, refletiria as mudanças no cenário financeiro global e poderia abrir caminho para uma nova era de adoção institucional do Bitcoin, o que potencialemte causaria uma explosão de preço da moeda digital.
Na semana passada, vale lembrar, os brasileiros Banco do Brasil e BTG Pactual apareceram entre os 30 maiores detentores do ETF de Bitcoin da BlackRock. Já o Landesbank Baden-Württemberg (LBBW), maior banco estatal da Alemanha, começará a oferecer serviços de compra e custódia de Bitcoin.
Resta agora saber quando — não se — os bancos centrais começarão a comprar Bitcoin e qual será o primeiro.