Após começar a atrasar saques de clientes, o CEO da Alphabets em Cabo Frio, Rogério Cruz, anunciou o fim da empresa e a suspensão dos pagamentos por 30 dias.
Atuando no setor de apostas esportivas, a Alphabets prometia aos seus clientes ganhos acima do mercado. Além disso, quem levasse mais pessoas para investir ganharia bônus, prática chamada marketing multinível.
Com essas características, a Alphabets logo chamou a atenção em Cabo Frio, visto que para iniciar na empresa o pacote mais básico era de apenas R$ 100,00. Contudo, quando os rendimentos começavam a aparecer, muitos clientes se empolgavam e acabam aportando mais dinheiro no que pode ser mais golpe na cidade apelidada de “Novo Egito”.
Recentemente, Cabo Frio ganhou repercussão nacional pela grande quantidade de golpes atuando na Região dos Lagos. No final de agosto, por exemplo, a Operação Kryptos deflagrada pela PF prendeu o líder da Gas Consultoria, a maior empresa da região.
Como funcionava o possível esquema da Alphabets?
Diferente da Gas Consultoria, que prometia rendimentos com trade de criptomoedas, a Alphabets tinha suas operações ligadas ao setor de apostas esportivas, sendo os seus negociantes responsáveis por captar os investimentos e obter lucros no mercado.
Assim, eram prometidos o recebimento de rendimentos diários, que poderiam ser sacados por clientes, pelo menos era assim até o último mês de agosto, quando os saques começaram a atrasar. Em alguns períodos, o esquema prometeu até 50% ao mês.
Em publicações, o CEO Rogério Cruz começou a falar sobre os atrasos, indicando para os clientes que “manutenções estavam sendo feitas no sistema”, que estava registrando erros. Chamou atenção dos investidores um vídeo do líder agradecendo os repasses de dinheiro, gravado no interior de um carro de luxo.
“Eu agradeço o dinheiro de vocês”.
https://www.instagram.com/tv/CTlJeyCDWHu/
Os principais líderes ao lado de Rogério eram Vinícius Zoccoli e Daniel Porto, este último que até aparece em um vídeo comprando veículos de luxo ao lado do CEO da Alphabets e ironizando que a “empresa pagava”, mostrando claramente que o dinheiro dos investidores eram convertidos em pagamentos de despesas pessoais.
No vídeo, ele informa que comprou mais de R$ 1 milhão em veículos e tinha intenção de chegar em R$ 2 milhões em bens.
Enfermeira perdeu dinheiro guardado em toda a vida no possível esquema de pirâmide financeira
Uma enfermeira acabou divulgando um relato sobre o caso da Alphabets, após perceber o fim da empresa que investiu R$ 10 mil.
Segundo ela, que não teve seu nome revelado, essa quantia foi o dinheiro reunido em toda a sua vida profissional, adquirido em plantões de até 24 horas seguidas, mas que acabou perdido na empresa.
Ela teria começado a investir na Alphabets em agosto de 2021, quando os problemas de saques começaram. Quando pediu seu primeiro saque no dia 1 de setembro, ela não recebeu nem contato do suporte.
O que disse o CEO da Alphabets ao anunciar o fim da empresa?
Na noite da última quarta-feira (8), o CEO da Alphabets Rogério Cruz publicou em um perfil no Instagram que a empresa havia chegado ao fim.
Em sua declaração pública, ele falou que não teve como dar manutenção nos sistemas da empresa e que por isso era necessário encerrar as atividades. Vale notar que ele até pede um prazo de 30 dias para que os clientes aguardem para receber seus saques.
Em redes sociais e grupos da Alphabets, clientes que viram a nota de fim das atividades ficaram revoltados com o encerramento da empresa sem possibilitar os saques.
“Criptomoeda própria” iria valorizar muito no mercado, mas não saiu do papel
A empresa prometia que iria até criar uma criptomoeda própria (K-Sports Coin) e investir em criptomoedas, mas isso nunca chegou a acontecer.
Mas em uma live no final de agosto, Rogério Cruz disse que a criptomoeda iria valorizar muito e levar mais dinheiro para os investidores. Ele até falou que a moeda iria ser lançada no mercado, mas não deu muito tempo.
O Livecoins procurou Rogério Cruz para comentar sobre as acusações de golpe financeiro, mas não recebeu retorno até o fechamento e o espaço permanece em aberto.
Escritório fechado e Rogério a caminho de Dubai
Em redes sociais, os clientes foram até o escritório da Alphabets para cobrar os líderes sobre o dinheiro aportado no negócio. Contudo, ao chegar no local eles se depararam com o local abandonado, sem ninguém para responder aos questionamentos.
https://www.instagram.com/tv/CTlHw4ij-9n
Vale notar que Rogério Cruz, apesar de prometer para os clientes que irá pagar os valores em 30 dias, tem outros planos para o mesmo período.
Segundo uma publicação no grupo da Alphabets em redes sociais, ele declarou que estará em Dubai daqui um mês e disse “até a próxima galera“, ou seja, não está claro o que ele planeja sobre o fim de sua empresa. Seus perfis em redes sociais foram apagados após as publicações e repercussões do caso.
Vários clientes divulgaram informações de que ele já estaria a caminho de Dubai, visto que o anúncio do fim da Alphabets foi na última quinta.
No Reclame Aqui da “Poupeinveste Investimentos EIRELI”, nome da empresa de registro, clientes seguem reclamando da impossibilidade de sacar seus investimentos.
Força-tarefa investiga 30 empresas em Cabo Frio e região
Uma força-tarefa de delegacias da várias cidades agora investiga esses esquemas de investimentos, da região que está sendo chamada de “Novo Egito”.
De acordo com o jornalista Lauro Jardim, são 30 empresas na Região dos Lagos sob a mira das autoridades.
Não está claro se uma dessas empresas é a Alphabets e, por isso, o CEO Rogério Cruz resolveu encerrar suas atividades. Mesmo assim, está claro que a Região dos Lagos acabou vendo grandes empresas causarem prejuízos milionários em famílias.
Só a Alphabets mesmo é estimado que 50 mil pessoas tenham sido atraídas para o negócio, podendo essa empresa ter registrado um prejuízo milionário na região.
Advogado especialista em casos envolvendo criptomoedas acredita que caso é similar a tantos outros de pirâmides
Em conversa com o advogado Artêmio Picanço, especialista em crimes de pirâmides financeiras e que cuida de casos contra Atlas Quantum e outras empresas que aplicaram golpes no Brasil, ele disse ao Livecoins que o caso da Alphabets que chegou ao fim é similar ao de tantos outros crimes contra a economia popular.
“O caso da Alphabets é similar a tantos outros que envolvem crime contra a economia popular. Em síntese, existe uma fase em que é imputado a terceiros a culpa do negócio, seja por hackeamento ou por problemas com autoridades governamentais, nunca neste momento é admitido o erro próprio ou, até mesmo, o dolo ao reter indevidamente o dinheiro dos investidores. Em tempo, o roteiro de atrasos nos saques segue o mesmo caminho dos demais, se solicitando aos clientes um prazo maior para o pagamento para reestruturação da empresa, quando, em casos análogos, após a interrupção dos saques não se tem notícia de qualquer empresa que tenha voltado a funcionar normalmente. Tal prática é vedada no ordenamento jurídico, sendo considerada abusiva a luz do art. 39 da lei n. 8.078/90”.