Vaga inusitada para Desenvolvedor Fullstack agita as redes sociais

Nada de piscina de bolinhas e perfil descolado para essa vaga que foi parar no perfil ‘Vagas Arrombadas’.

Uma vaga de emprego relacionada ao mercado de criptomoedas está fazendo sucesso na web. A publicação traz um perfil inusitado, que deverá ser preenchido por um desenvolvedor fullstack. O anúncio no Facebook já rendeu mais de sete mil curtidas e milhares de compartilhamentos.

Segundo Márcio Gandra, mais de 500 currículos foram enviados por candidatos em busca de preencher a vaga. O texto revela um perfil de profissional pouco explorado no mercado. O responsável pelo anúncio fez uma comparação entre perfis de profissionais distintos, e que são procurados para ocupar postos de trabalho na área de tecnologia.

Modelo de empresa Vale do Silício está defasado

Grande parte das vagas de empresas de tecnologia acompanham o modelo de ambiente de trabalho do Vale do Silício. Piscina de bolinha, café expresso e ‘mimos’ não podem faltar em ambientes de empreendedorismo tecnológico. Essa é a grande aposta de empresas como Google, Facebook, Amazon. Mas, nem sempre esse perfil pode ser o tão desejado pela empresa.

A geração millennial vive um momento de reestruturação da estrutura laboral. Grandes empresas abandonam roupas sociais e o funcionário pode trabalhar até de pijama. Existem outros negócios que permitem até a presença dos pets no ambiente de trabalho. Vale tudo quando o assunto é criar um ambiente perfeito para o desenvolvimento dos funcionários.

Para Márcio Gandra, esse perfil pode ser considerado defasado. Pelo menos esse é o entendimento para a vaga que o empresário e desenvolvedor do mercado de criptomoedas ofereceu nas redes sociais. Em uma comparação com o ‘jovem dinâmico, Gandra perfilou como seria um candidato ideal para a vaga de desenvolvedor Fullstack oferecida por ele.

“Se você é um coder sênior, sombrio, introspectivo, anarcocapitalista, ganancioso, egoísta, que causa medo em si próprio quando pensa. Nos procure, a vaga é sua”.

Vaga de emprego foi parar no Vagas Arrombadas

A vaga oferecida por Gandra foi motivo de grande repercussão nas redes sociais. O texto foi compartilhado pelo perfil Vagas Arrombadas. Contudo, o teor da mensagem voltava-se para a ironia do perfil buscado pelo empresário.

A publicação no perfil com 371 mil curtidas rendeu uma enorme divulgação para a vaga. Somente na publicação do perfil Vagas Arrombadas, foram 550 compartilhamentos, 7,2 mil curtidas e 1,7 mil comentários sobre a vaga. Um perfil comentou que a vaga oferecida deveria ser considerada a “mais engraçada dos últimos tempos”.

https://www.facebook.com/vagasVTNC/photos/a.484277248573331/934219450245773/?type=3&theater

O efeito colateral do perfil ‘jovem dinâmico’

Empresas de tecnologia apostam em criar um novo ambiente de trabalho. Com atrativos como jogos, comidas e espaço para diversão, empresas tentam proporcionar maior conforto aos seus funcionários. Mas por trás de toda essa oferta existem outros interesses.

Primeiramente, os ambientes atuais de trabalho tentam recriar um espaço familiar. Essa proposta proporciona mais segurança para o trabalhador, considerado ‘jovem dinâmico’. Gandra avalia essa proposta como um rompimento com os padrões que até então prevaleciam no ambiente de trabalho.

“Muitas aceleradoras de startups e empresas se reestruturaram e investiram milhões para manter os funcionários jovens no emprego e atender as necessidades do conhecido “jovem dinâmico”, adotaram o padrão google de diversão no ambiente de trabalho, quebraram alguns paradigmas em relação ao vestuário e   hábitos permitindo que o jovem trouxesse seu quarto e seu arcabouço ideológico para dentro da empresa.”

Essa reprodução de um ambiente seguro e familiar pode dificultar o amadurecimento. Além disso, muitas empresas que oferecem ‘mimos’ escondem uma rotina exaustiva e de dedicação total ao negócio. Após receber centenas de currículos, Márcio Gandra explicou que muitos profissionais enviaram mensagens dizendo que se sentiram representados com o anúncio da vaga. 

“Ficamos muito satisfeitos com o resultado e a qualidade técnica dos currículos enviados. Os que enviaram currículos parabenizaram pela sinceridade e se sentiram representados de alguma forma, em algo que eles sabiam que precisava mudar, mas que não tinham aquilo tão bem compilado.”

Márcio Gandra empresário e desenvolvedor do setor de criptomoedas e blockchain, responsável pela postagem nos conta as razões que levaram a romper o padrão “linkedin” de vaga para o “jovem dinâmico” e partir para um anúncio nada convencional.

1) Como surgiu a idéia de postar uma vaga nesse sentido ?

Já faz algum tempo que convivo nos ambientes de startups, aceleradoras e incubadoras e uma coisa sempre me chamou a atenção. Aquilo parecia tudo, menos uma empresa – paredes hiper coloridadas, piscina de bolinhas, um Yoda ou uma “girafa da amazônia” ao lado mouse, fliperamas, redes de descanso, video games, post it com frases motivacionais, quadros negros na parede e até mesmo grafitagem … e eu pensava “quando essa gente tem tempo para trabalhar” ? “com quantos anos hoje uma pessoa é considerada adulta ?” “o que fizemos de errado para essa geração ter vindo assim?”

Muito disso veio dos ecos da cultura Google aproximadamente uma ou duas décadas atrás, mas há um porém nisso muito grave, a cultura norte americana é uma cultura extremamente focada em resultados e no trabalho, todo aquele mimo é uma forma de amenizar a carga e pressão, mas aqui no Brasil onde a cultura da preguiça, procrastinação e malandragem imperam, importar um modelo só pela casca tem sérios problemas. Me assustava também a constatação de que o adolescência de outrora encerrava entre os 14-16 anos, hoje chega a passar dos 30, totalmente dependentes dos pais, infantilizados e extremamente sensíveis. São pessoas fracas de firmeza e auto confiança, incompatíveis com a selva do mercado.

2) Como era o perfil que destoa do jovem atual ?

Meu primeiro emprego na área de TI foi há 25 anos atrás, “nerd” naquela época significava uma pessoa introspectiva, silenciosa, extremamente culta, inteligente e hiper focado na programação. Participavam de grupos fechados em bbs´s e pouco se importavam com os chats e redes sociais mainstream que surgiam. Atualmente o nerd é simplesmente um jovem comum, de baixo intelecto, militante, cheio de manias e restrições, viciados em jogos, HQs, cultura pop e séries de televisão. Pude viver muito bem ao longo da minha carreira profissional o que era trabalhar numa empresa séria, num ambiente sério e com pessoas sérias versus o que é a maquiagem e “gliter” dos ambientes e profissionais de hoje em dia.

Após a adoção em massa do conceito do “Lean” nas empresas, as paredes que separavam os setores e davam privacidade e foco aos profissionais de cada área foram substituídas por “baias” e “cochos” onde em nome da economia porca aglomeram todos os funcionários e diretoria no mesmo local o transformando num inferno da “diversidade”. A verdade é que o programador experiente, exímio no que faz, como chamado na vaga “coder senior”, precisa de foco e sossego. Todos os bons que conheci tinham essa característica, um “Q” anti social e egoísmo que o permitia dedicar com afinco àquilo e se tornar um excelente profissional com excelentes resultados à empresa.

3) A vaga toca em temas polêmicos como tatuagens, piercing, ter ou não ter filhos … isso realmente conta ?

Obviamente que não e faz parte da composição irônica de um estereótipo comum nas empresas que absorvem esse tipo de perfil. É como se você visse ali uma produção em série de uma linha de montagem onde todos aqueles elementos da primeira parte da vaga coexistissem. O mais engraçado disso é que querem romper com um sistema e não se dão conta de que criaram um outro sistema, com códigos, condutas, formas de vestir, cor do cabelo, bagagem ideológica totalmente uniformizados. E eu mesmo tenho tatuagem, diga-se de passagem.

Já a ironia com o fato de criar gatos e suculentas, ao invés de filhos, é um retrato da irresponsabilidade e incapacidade desses jovens em sustentarem até seres que não precisam de tantos cuidados, como os 2 citados. Eu mesmo já passei por situações em que a pessoa largou o job no meio do serviço para mochilar pedindo esmola na Europa e até mesmo um desses que no meio de uma arbitragem para remitência internacional, surtou e disse que estava largando tudo pois precisava “fumar um”. É no mínimo lastimável.

4) E sobre a condição Anarcocapitalista ?

No caso em questão, o profissional vai trabalhar na área de criptomoedas e blockchain, uma tecnologia altamente disruptiva do Estado. Atuará também com investimentos, operações de mercado e com a ganância dos clientes onde a alta rentabilidade é um diferencial. Pensa a dor que deve ser prum socialista/comunista trabalhar num banco captalista por exemplo… queremos pessoas felizes com o que fazem e ideologicamente aptas a serem felizes com o que fazem. Além também de buscarmos pessoas maduras que não buscam soluções para seus problemas na dependência mamãe-estado para protegê-los e nutrir de um amor que os pais da geração do divórcio não deram.

5) Como foi a reação das pessoas à vaga ?

Os comentários em geral foram os mais engraçados possíveis, nisso a criatividade brasileira da um show e me diverti bastante lendo e respondendo a todos. Óbvio que aqueles que se sentiram atacados, ou como dizem: “ofendidos”, não gostaram e argumentaram no post de forma bem reativa. Mas é normal, a histeria é uma marca da atualidade e até mesmo uma brincadeira e ironia podem trazer consequências maiores no ambiente virtual. Mas ficamos muito satisfeitos com o resultado e a qualidade técnica dos currículos enviados. Os que enviaram currículos parabenizaram pela sinceridade e se sentiram representados de alguma forma em algo que eles sabiam que precisava mudar mas que não tinham aquilo tão bem compilado. Quanto ao site “Vagas Arrombadas” que divulgou o print no intuíto de denegrir, nós só temos a agradecer, nem se tivessemos contratado todos os recruiters da Catho, do Linkedin e emitido sinais de rádio pro espaço, a vaga teria saído tão barata para nós e tido o alcance que teve.

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Paulo Carvalho
Paulo Carvalho
Jornalista em trânsito, escritor por acidente e apaixonado por criptomoedas. Entusiasta do mercado, ouviu falar em Bitcoin em 2013, mas era que nem caviar, "nunca vi, nem comi, só ouço falar".

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