Comerciantes da Bolívia estão precificando produtos na criptomoeda Tether (USDT), uma stablecoin atrelada ao dólar americano. O país sul-americano passa por uma crise econômica crescente nos últimos anos.
A insegurança econômica começou ainda em 2019 após a renúncia do então presidente Evo Morales por suspeita de fraudes nas eleições e piorou nos anos seguintes devido à pandemia.
Eleito em 2020, o novo presidente Luis Arce não soube contornar a situação e, para piorar, as reservas internacionais da Bolívia caíram drasticamente durante seu mandato.
Um exemplo disso é que o próprio governo passou a usar criptomoedas em março desse ano para importar combustível por estar sem dólares. Já os cidadãos enfrentavam grandes filas para tentar abastecer seus veículos.
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Crise econômica se estende na Bolívia e dólar paralelo está custando o dobro do estipulado pelo Banco Central
A moeda oficial da Bolívia é o boliviano (BOB), no entanto, o dólar aparece como uma moeda secundária, principalmente em reservas pessoais e compra/venda de imóveis. Embora o Banco Central da Bolívia tenha um câmbio fixo, o preço do dólar paralelo disparou no país.
Um relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional), publicado na última segunda-feira (2) destaca os problemas econômicos da Bolívia.
“A Bolívia enfrenta vulnerabilidades macroeconômicas agudas causadas por desequilíbrios de políticas de longa data, que foram agravados por uma série de choques negativos.”
Dentre os motivos está a queda na produção de gás natural, gastos públicos que excedem o caixa disponível, regime cambial incompatível com a realidade, tensões políticas e protestos, desastres naturais e, obviamente, inflação.
Para mostrar a diferença de preço do dólar, o FMI usou dados da corretora Binance. Como pode ser visto no gráfico abaixo, a realidade é que o dólar está duas vezes mais caro do que o governo tenta impor.
Muito completo, o relatório de 86 páginas também apresenta diversos outros gráficos para entender o presente e os possíveis futuros do país. O mais fácil de ser compreendido é este abaixo que mostra a inflação, chegando a 25% para alimentos.
Produtos começam a ser precificados em USDT na Bolívia
Embora os cidadãos já estivessem usando criptomoedas para fugir dessa crise econômica, a situação chegou a outro nível recentemente. Isso porque comerciantes começaram a precificar produtos na criptomoeda USDT.
O registro foi compartilhado por Paolo Ardoino, CEO da Tether, nas redes sociais.
“Na Bolívia, os preços reais nas lojas são exibidos em USDT. Uma mudança silenciosamente revolucionária: dólares digitais estão impulsionando a vida cotidiana, o comércio e a estabilidade econômica.”
Nos comentários do tuíte, alguns também se assustaram com os preços. Isso porque um pacote da bolacha Oreo está saindo por 22 USDT (R$ 122).
As fotos parecem ter sido tiradas em um duty free de aeroporto, o que explica o preço elevado, bem como o pioneirismo no abandono da moeda local. A tática visa usar o câmbio real do dólar, e não aquele fixado pelo Banco Central.
“COMUNICADO. PREÇOS FIXADOS EM USDT (TETHER).”
“Prezados clientes, nossos produtos estão precificados em USDT (Tether), uma stablecoin com preço referencial informado diariamente pelo Banco Central da Bolívia, baseado na cotação da Binance (plataforma de compra e venda de criptomoedas).”
Apesar da cotação ser em USDT, tanto o boliviano (BOB) quanto o dólar (USD) são aceitos no comércio.