Um novo relatório da Outset PR revelou uma queda brusca na audiência de portais dedicados às criptomoedas na Europa Ocidental no primeiro trimestre de 2025.
Segundo os dados, 82% das mídias cripto nativas da região perderam tráfego durante os primeiros meses da era MiCA – o novo marco regulatório da União Europeia para ativos digitais.
Em contrapartida, sites de notícias generalistas e portais financeiros tradicionais mostraram resiliência e até crescimento em muitos casos.
Adoção de cripto cresce, mas visibilidade despenca
Paradoxalmente, enquanto o interesse por criptoativos continua a crescer entre os europeus – com destaque para Itália (37% de interesse populacional), França (33% dos adultos pretendem investir em 2025) e Reino Unido – o ecossistema de mídia cripto regional entrou em uma espécie de correção.
O estudo da Outset, que analisou 133 veículos de mídia (sendo 87 cripto-nativos e 46 generalistas com seções dedicadas a cripto), observou um declínio generalizado no tráfego, influenciado por algoritmos, geopolítica e, principalmente, pelas mudanças trazidas pelo MiCA.
MiCA: impacto direto e indireto
Embora o MiCA (Markets in Crypto-Assets) não regule diretamente os veículos de mídia, seus efeitos se estenderam para os portais que promovem ou hospedam conteúdo patrocinado sobre criptoativos.
O regulador alemão BaFin, por exemplo, já havia alertado contra “promoções com aparência de investimento” sem licença. Ao mesmo tempo, o Google passou a penalizar conteúdos considerados “não licenciados” ou de baixa qualidade editorial, especialmente após a atualização do algoritmo em março de 2025.
Com isso, portais com conteúdos superficiais, automáticos ou excessivamente promocionais viram suas audiências despencarem.
Alemanha: epicentro da correção
Dos 87 sites cripto nativos avaliados, 34 publicavam em alemão. A Alemanha mostrou-se particularmente severa no enforcement do MiCA, com 61,74% dos veículos alemães sofrendo queda de tráfego já em fevereiro. Entre os mais afetados estão Coin-Update (-51,47%), Krypto News (-47,98%) e Krypto Magazin (-45,40%).
No entanto, algumas plataformas como Crypto Valley Journal (+60,45%) e CoinJournal DE (+32,99%) conseguiram se recuperar, em parte por estarem integradas a grupos de mídia com boa estrutura regulatória e SEO.
Mesmo assim, apenas 26,47% dos sites alemães registraram crescimento no trimestre.
França: transparência algorítmica exigida
Na França, 72% dos sites de cripto perderam visibilidade. O regulador AMF enfatizou a necessidade de transparência e disclaimers nos conteúdos, o que afetou fortemente veículos como The Blog (-71,86%) e Coinhouse (-42,78%).
No entanto, plataformas como Blockchain France (+72,64%) e InvestX (+60,71%) conseguiram virar o jogo ao adotar práticas editoriais alinhadas ao MiCA, como conteúdos multilíngues e disclaimers visíveis.
Países Baixos: queda mesmo sem regulação local
Mesmo sem ações regulatórias locais agressivas, 76,19% dos sites cripto em holandês viram queda de tráfego, sinalizando que a queda foi puxada principalmente por ajustes nos algoritmos do Google.
Portais populares como Bitcoin Magazine NL e Crypto Insiders também foram afetados, embora tenham mostrado sinais de recuperação em março.
Somente dois sites holandeses – Beste Bank e Coinmarketcap.nl – registraram crescimento no trimestre.
Espanha e Itália: restrições à publicidade derrubam audiência
Na Espanha, medidas de restrição à publicidade cripto implementadas pela CNMV no final de 2024 afetaram diretamente sete de dez sites no início de 2025. O único site espanhol que cresceu foi o Bit2Me News, com impressionantes +149,40%.
Já na Itália, onde o órgão regulador CONSOB emitiu avisos contra promoções não licenciadas, o impacto foi ainda mais severo. Quase todos os portais sofreram perdas em março. O único site a crescer no trimestre foi o Borsainside.
Reino Unido: fora do MiCA, mas não ileso
Mesmo fora da União Europeia, o Reino Unido viu uma queda generalizada no tráfego de sites cripto, impulsionada pela entrada em vigor da regulação local da FCA sobre promoções financeiras em janeiro de 2025. O impacto foi similar ao sentido na Europa continental.
Concentrado nas mãos de poucos
O estudo mostra que apenas 13 portais responderam por 78% de todo o tráfego cripto da Europa Ocidental no trimestre. Sete deles – BTC Echo, Crypto Insiders, Bitcoin Magazine, Cointribune, Cointelegraph ES, Newsbit NL e Newsbit DE – concentraram 60,26% das visitas.
Já 58 sites de baixo alcance somaram apenas 6,24% do tráfego total, indicando forte centralização e dificuldade de crescimento para veículos menores ou independentes.
Sites generalistas seguem firmes
Ao contrário dos sites cripto-nativos, os portais generalistas – como Investing.com, Finanzen.net e FXStreet – não só resistiram à queda, como registraram crescimento em mais da metade dos casos (54,35%). Esses sites, segundo o relatório, são favorecidos por:
- Maior autoridade de domínio
- Conteúdo mais diversificado
- Menor dependência de ciclos de hype cripto
- Maior alinhamento com narrativas institucionais
Enquanto os 87 sites cripto-nativos somaram 22 milhões de visitas em março, os 46 portais generalistas analisados somaram 106 milhões, mais de quatro vezes esse volume.
Google Discover: um jogo de poucos
Apenas 30% dos sites cripto analisados aparecem com frequência no Google Discover, uma importante fonte de tráfego orgânico.
O Discover mostrou-se mais sensível a fatores como geopolítica e qualidade do conteúdo do que necessariamente à regulação, embora o MiCA tenha contribuído indiretamente com a queda da maioria.
Estratégia híbrida: caminho para sobrevivência
O relatório recomenda que equipes de comunicação adotem uma estratégia híbrida de mídia na Europa Ocidental. Isso inclui:
- Sites de finanças para escala e credibilidade
- Portais generalistas para cobertura de tendências regulatórias
- Sites cripto-nativos para alcance da comunidade e SEO segmentado
Além disso, destaca-se a importância de compreender os hábitos de consumo de conteúdo por idioma, e não apenas por país. Bélgica, por exemplo, é um mercado bilíngue, enquanto Portugal, curiosamente, não tem nenhum site cripto-nativo com destaque no levantamento, com os usuários recorrendo a conteúdo do Brasil ou dos EUA.
O relatório completo pode ser visto neste link.