É novo no mercado ou tem curiosidade sobre a área de artes digitais em Blockchain? Nos acompanhe neste artigo. Vamos conversar sobre a formação de valor em alguns ativos de arte criados em Blockchain. Os famosos “NFTs”.
Ao esbarrar pela primeira vez no ecossistema de Blockchain, nos apresentam termos estranhos como “mineradores”, “proof-of-work”, “proof-of-stake” e “tokens-não-fungíveis”. Neste texto vamos conversar sobre o conceito de token-não-fungível (NFT).
Caso você seja novo por aqui, vamos explicar primeiro do que se trata um token em uma Blockchain. Depois explicaremos algumas propriedades específicas de tokens, que os fazem NFTs.
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O que é um Token?
Em Blockchain, um token pode ser entendido como a representação de algo dentro de uma rede. Geralmente um bem ou serviço. Esta representação costuma derivar certas propriedades de um bem, como direitos de propriedade e transação. Este token pode se referir a um bem tangível: como um imóvel cuja propriedade foi fracionada em vários tokens, representando partes de seu direito de propriedade (“condomínio”).
Mas também pode se referir a um bem intangível ou serviço, como o poder de voto em uma assembleia: frações desse poder de voto podem ser distribuídas a pessoas que vão exercer o direito de votar nesta assembleia.
Um token também pode ser usado para representar uma obra de arte única, arquivo de mídia ou certificado digital. É sobre esta finalidade que iremos nos aprofundar nesta conversa.
O que é um NFT?
NFT é um Token não-fungível. É uma tecnologia usada para conferir propriedades únicas para ativos digitais dentro de uma rede de Blockchain.
Para entendermos o que é um NFT (Token não-fungível), primeiro devemos entender melhor o conceito de fungibilidade. Um bem é considerado fungível quando apresenta um par que em mesma medida pode substituí-lo perfeitamente. Exemplo: podemos facilmente trocar uma nota de R$ 50,00 por outra nota de R$ 50,00 sem que isso mude o valor intrínseco inicial que possuíamos. Se você trocar uma nota de R$ 50,00 pela outra, deve continuar com R$ 50,00. Desta forma, podemos dizer que elas são bens fungíveis.
Tokens não-fungíveis, por sua vez, carregam um valor único, exclusivo e insubstituível. Em Blockchain isto se manifesta como uma espécie de certificado digital único e escasso que torna os tokens exclusivos. Estes tokens são associados a um arquivo digital como uma imagem, um vídeo, etc.
No mundo tradicional isto pode ser facilmente entendido com uma comparação a obras de arte únicas, assinadas por um grande autor, como o quadro da Monalisa. Também encontramos essas características em coleções físicas com licenças de reprodução exclusiva.
Valor de um NFT
Algumas notícias a respeito de NFTs tiveram grande repercussão em 2020 e 2021, quando esta tecnologia teve um crescimento vertiginoso. Em março de 2021, a casa de leilões Christie’s estabeleceu um recorde mundial com a venda de um NFT por $ 69.346.250 (Beeple’s EVERDAYS: THE FIRST 5000 DAYS, 2021). Algumas coleções como CryptoPunks já movimentaram cerca de 3 bilhões de dólares considerando a cotação atual do Ether (criptomoeda da rede Ethereum).
Já parou para se perguntar de onde vem o valor de um NFT? Uma série de propriedades contribuem para a criação de valor em um NFT. Em primeiro lugar, um NFT é uma peça única e exclusiva certificada por uma Blockchain altamente resiliente e potencialmente imutável.
As redes de Blockchain dominantes hoje são praticamente inalteráveis depois de algumas horas. Transações recentes também são praticamente irreversíveis depois de um número determinado de confirmações por validadores das redes. Estas propriedades ajudam na geração de valor de um NFT. Tecnicamente, este NFT pode ser um contrato inteligente (Ethereum) ou um token nativo (ASA/Algorand e Cardano) de uma rede.
Outra parte do valor de NFTs parece vir de interações sociais. Também da formação prévia de capital social e material de sua comunidade de interessados. Membros bem capitalizados ou conectados a influenciadores-chave. Algumas ações offline também podem contribuir para o valor de coleções: exposições em galerias físicas, etc.
A superalocação de NFTs por membros re uma rede também pode afetar o valuation dos projetos. Grandes carteiras contendo muitos NFTs criam auto incentivos para que donos promovam determinados projetos, por terem a pele em jogo (skin in the game). Isto pode aumentar os efeitos de rede. Observe a concentração de NFTs em carteiras na venda de tokens do projeto Bored Ape Yacht Club (BAYC). Apenas um carteira terminou contendo mais de 2 mil NFTs.
Em suma, não é muito simples mapear todos os vetores que formam o valor de um NFT e eles parecem variar de projeto para projeto. Fatores como poder aquisitivo de interessados, memetização, contribuição de influencers, estruturas de consumo de conteúdo, moodboard do projeto, subscrição a correntes filosóficas também podem afetar. Este movimento ocorre dentro de redes sociais. Como se sabe, estas redes também estão sujeitas a dinâmicas conhecidas como “efeitos de rede“. É o que vamos conversar a seguir
Redes de influência
Vivemos em uma era de democratização do acesso à informação e dos meios para criação de conteúdo. Mas essa mesma época criou uma polarização extrema em nossas formas de interagir em comunidade. Algoritmos são programados para promover atividades nas redes sociais baseados em fatores como pontos de influência e outros atributos de promoção.
Uma forma de entender este viés é por meio de um fenômeno chamado preferential attachment. Membros com muitas conexões nas redes sociais tendem a acumular ainda mais conexões. Aproximando a rede a uma configuração onde grandes nós recebem e enviam a maioria absoluta das interações de impacto.
Este comportamento pode explicar em parte a formação de capital social em comunidades de NFTs. O certificado dos NFTs existe dentro de uma Blockchain, mas sua promoção e a interação social de seus donos ainda funciona em redes da web 2.0. Redes como Reddit, Twitter, etc.
Intermediador ou criador de conteúdo?
Segundo uma pesquisa do MIT Media Lab, dois tipos de comportamento em rede podem atuar na formação de capital social em comunidades de conteúdo digital (arte digital inclusive). Um deles é o comportamento de “Rockstar“. Neste comportamento, um membro desta rede conseguiria vender seu conteúdo para outros membros diretamente. Outro comportamento é o de “Agente“. Neste comportamento um membro da rede, que tenha muitas conexões, poderia filtrar o conteúdo de outro membro repassando apenas uma parte. Em outras palavras, o intermediador se comportaria como um editor do criador de conteúdo.
O trabalho apresenta essa análise baseada em dois tipos de redes: topocrática e meritocratica. Conexões diretas entre o vendedor de conteúdo (comportamento “Rockstar”) e seus potenciais compradores tornariam a rede mais “meritocrática”. O contrário de uma rede meritocrática seria uma rede “topocrática”, em formato de estrela, onde o acesso direto entre compradores e criadores seria difícil.
Em redes totalmente topocráticas um membro concentraria todas as interações da rede, impedindo os criadores de conteúdo de acessarem seus compradores diretamente. Ou seja, um influencer teria grande poder para performar o papel de intermediador (comoportamento de “Agente”) contra todos os criadores de conteúdo.
Abaixo uma explicação mais direta sobre como esse fenômeno aconteceria na prática. Na parte de cima da imagem (A), casos intermediários, onde observamos comunidades mistas. Comunidades onde criadores de conteúdo conseguem vender seu conteúdo diretamente (“Rockstar”) para parte da rede. Outra parte da rede só é acessada por meio de influenciadores (“Agentes”).
Na parte de baixo da imagem (B), observamos redes extremas. Uma rede superconectada, onde os criadores de conteúdo conseguiriam acessar seus clientes sem precisar de intermediários. Outra rede, totalmente centralizada, onde todos os criadores de conteúdo dependeriam de apenas um influenciador para vender seus conteúdos.
Conclusão de pesquisa para um país do tamanho dos EUA: para uma rede ser meritocrática nos EUA, cada cidadão estadunidense deveria conhecer em média cerca de 70 mil pessoas (contatos diretos). Isto seria impossível. Então a conclusão pra uma grande amostra, como a população consumidora de conteúdo nos EUA, o mercado de conteúdo nos EUA seria considerado topocrático. O resultado pode ser observado em comportamentos polarizados, próximo a eleições.
Mapa de influenciadores NFT
Segundo reportagem, grande parte das redes de influência de NFTs se concentram no Twitter. O microblog já é uma plataforma tradicional quando o assunto é criptomoedas. Muitos colecionadores de NFTs são ativos em redes sociais. Alguns manifestam seu apoio a projetos trocando sua foto do perfil para o seu NFT preferido.
Redes de influência não funcionam mecanicamente e podem falhar. Então sempre analise seus projetos de NFT e faça uma diligência antes de qualquer tipo de alocação.
Twitter: 6 tipos de polarização
Uma análise de interações no Twitter também constatou que grande parte das interações acaba se encaixando em um dentre seis padrões de polarização em rede.
- Multidões polarizadas que freqüentemente se formam em torno de tópicos políticos e se comunicam muito pouco com aqueles que sustentam pontos de vista opostos;
- Multidões estreitas que compartilham espaços de aprendizado e paixão;
- Grupos de marcas que se formam em torno de produtos e celebridades;
- Community Clusters criados em torno de notícias globais, com tópicos populares desenvolvendo vários grupos menores;
- Estruturas de rede de transmissão criadas por pessoas retuitando comentários de especialistas e notícias de última hora;
- Suporte a conversas de rede / atendimento ao cliente que giram em torno de uma fonte única.
Comunidades de NFTs se formam em torno de um produto intangível e de uma rede alternativa de “celebridades” e influenciadores. Isto poderia encaixar este usuários no terceiro padrão de rede levantado pela pesquisa.
Modularização e PLD/FT
Um assunto recorrente quando ouvimos sobre NFTs são as suspeitas de que grandes transações de NFTs são levadas a cabo por criminosos em busca de uma forma de lavar dinheiro. Esta é uma suspeita que consideramos mal dimensionada e difundida de maneira enganosa. Grande parte dos crimes financeiros acontece com dinheiro tradicional e não precisa de criptomoedas para acontecer. Mas ainda sim, instituições tradicionais antifraude acompanham o setor de ativos digitais e pesquisando algumas soluções. Em Março de 2021 o Grupo de Ação Financeira Internacional (GAFI) divulgou uma consulta pública para “Consulta pública sobre o esboço de orientação do GAFI sobre uma abordagem baseada em risco para ativos virtuais e provedores de serviços de ativos virtuais”.
Um ponto a ser considerado é que Blockchains públicas têm registros públicos de transações. Estes registros estão sujeitos a análises on-chain e off-chain. Não sendo a melhor forma de ocultação patrimonial em caso de atividade ilícitas.
Outro ponto é a possibilidade de modularização de Blockchains. Blockchains podem criar módulos com requerimento de identificação e compliance a políticas de prevenção à lavagem de dinheiro e financiamento ao terroismo. Possibilitando assim o uso dessa tecnologia por agentes institucionais.
Exemplo:
Quando e se a Disney lançar uma eventual coleção de NFTs, poderá fazer isso utilizando um módulo de uma Blockchain que requeira cadastro e verificação. Ou até mesmo uma identidade digital em Blockchain. Aproximando o processo ao utilizado por um banco digital comum.
Uma opção para este empreendimento hoje seria por meio de uma parceria com o projeto de Blockchain Unibright. Unibright é um projeto e framework que oferece soluções empresariais em Blockchain envolvendo tokens.
Unibright ofereceria uma estrutura unificada com o objetivo de trazer a tecnologia e contratos blockchain para os usuários convencionais nas empresas.
O projeto hoje oferece soluções de blockchain de nível empresarial, plataformas de integração e um ecossistema centrado em ativos tokenizados. Sua rede predominante é a mainnet Ethereum.
NFTs podem ser “carbono-neutros”?
O gasto energético é uma crítica recorrente quando conversamos sobre Blockchain. As críticas geralmente se direcionam aos mecanismos de consenso que exigem cálculos computacionais para validar transações. Como, por exemplo, o proof-of-work. Existem boas discussões sobre se estas críticas estão bem ponderadas ou não comparando sistemas tradicionais substitutos em relação ao consumo de recursos.
O que ocorre é que NFTs podem ser criados em redes de Blockchain que utilizam um consenso chamado proof-of-stake, que costuma ser exponencialmente menos intensivo em energia. Algumas redes conhecidas nesta área de NFTs carbono-neutros: Cardano, Solana e Polkadot.
É interessante observar que a rede de Blockchain dominante na área de smartcontracts (Ethereum) está preparando uma transição de sua rede intensiva em energia para uma rede carbono-neutra. É o Ethereum 2.0.
Cuidado! Risco de perdas massivas
Algumas pessoas consideram NFTs como uma oportunidade de investimento com ganhos “fáceis” de curto prazo. Se você é uma dessas pessoas, multiplique seu gerenciamento de riscos por 100! A realidade é que a maioria dos projetos apresentam perdas de valor massivas no mesmo dia em que são lançados. Outros não conseguem sustentar um bom valuation com o passar do tempo.
Obrigado por nos acompanhar até aqui!
Encaminhando nossa conversa para uma conclusão, diríamos que NFT é uma tecnologia incrível para empreender artes digitais na Blockchain. Mas que, provavelmente, o público do artista médio ainda não sabe consumir este tipo de criptoativo. O setor tem muitas oportunidades, mas ao mesmo tempo muitas “barreiras à entrada” na área de divulgação. O marketing é uma parte chave do empreendimento e depende da formação de capital social e material: como grandes compradores interessados nas artes ou uma boa formação de redes de influência.