Plataforma brasileira que rastreia Bitcoin ganha destaque do Serviço Secreto dos EUA

Policial destacou que, embora crimes com criptomoedas tenham aumentado, a culpa não é da tecnologia.

Uma plataforma para rastreio de Bitcoin idealizada por um delegado da polícia civil de Goiás foi reconhecida em El Salvador durante um curso ministrado pelo Serviço Secreto dos Estados Unidos.

No evento, até agentes da polícia federal brasileira foram enviados para o primeiro país a legalizar o Bitcoin como moeda de curso legal. A iniciativa foi conduzida em janeiro de 2022, mostrando uma força tarefa de vários países para compreender melhor o tema.

No Brasil, o Vytautas Zumas conversou com o Livecoins sobre o reconhecimento de sua ferramenta no exterior, principalmente pelo Serviço Secreto dos EUA.

Delegado Vytautas Zumas, da Polícia Civil de Goiás em palestra contra crime cibernético
Delegado Vytautas Zumas, da Polícia Civil de Goiás em palestra contra crime cibernético /PCGO

“Reconhecimento do BlockSherlock em El Salvador foi muito importante”

O delegado da polícia civil Vytautas Zumas foi reconhecido pelo Serviço Secreto dos Estados Unidos, com a sua plataforma BlockSherlock, que reúne várias ferramentas para rastreio de criptomoedas.

Questionado sobre como enxerga o reconhecimento internacional, o delegado declarou que é muito importante ser reconhecido por seu trabalho, que começou como um projeto pessoal e feito em horas vagas de sua jornada na PCGO.

“O reconhecimento que o BlockSherlock teve em El Salvador, no curso ministrado pelo Serviço Secreto dos EUA é muito importante. Quando eu criei a plataforma, eu já imaginava haver uma demanda estancada na polícia do Brasil, e eu tive a ideia de criar”.

A plataforma em questão reúne várias ferramentas para rastreio e acompanhamento de criptomoedas, organizada para facilitar a atividade investigativa. Zumas declarou que quando criou o site, tudo era experimental e tinha apenas a intenção de facilitar seu trabalho com um glossário eficiente.

Quando iniciou plataforma, Vytautas ainda estava no Ministério da Justiça, onde participou da criação do Núcleo de Operações com Criptoativos. Esse núcleo ajudava policias de todo país a investigar crimes com criptomoedas.

Crimes com criptomoedas

Vytautas Zumas declarou que os crimes com criptomoedas ainda são um desafio para investigadores de todo país. Assim, ele acredita que os crimes com criptomoedas ainda são retidos em demanda carente de capacitação.

“Os crimes envolvendo criptoativos eram, e ainda são, infelizmente, retidos em demanda carente de capacitação. Quando o dinheiro chega no Bitcoin, muitos policiais não têm a expertise. Então a ferramenta surgiu para melhorar isso e eu comecei a me apaixonar”.

Vytautas conta que após iniciar a jornada recebeu apoio da Ana Paula Bez Batti (PGFN) e Leonardo Gomes dos Santos, este último que participou do curso em El Salvador com o Serviço Secreto dos EUA.

Para o delegado, após dois anos desde o início da criação, a plataforma foi reconhecida em El Salvador e isso mostra o quanto seu trabalho é importante para policiais de todo mundo. No futuro, ele disse que pretende colocar o site em mais idiomas, agregando mais ferramentas úteis ao rastreio de Bitcoin.

Além disso, ele espera ajudar em investigações criminais e administrativas, como da Receita Federal do Brasil, auxiliando autoridades sobre o assunto das criptomoedas.

“Pessoas de mais de 70 países já acessaram a ferramenta”

Como muitas pessoas não sabem como começar a rastrear o Bitcoin, Vytautas colocou no site da BlockSherlock um manual de explicação sobre como funciona o procedimento de rastreio.

Em conversa com o Livecoins, ele declarou que seu trabalho já repercutiu em acessos de mais de 70 países, número que ele nunca havia revelado antes.

O delegado conta que uma ferramenta primeiramente de cunho pessoal, que agora ajuda o mundo todo, está disponível para muitas pessoas.

“Reunir muitas ferramentas em um único local ajuda muito, pois, a investigação precisa de informações complementares. Se o investigador tivesse tudo em uma página, a maior parte das ferramentas necessárias para buscar as informações, ajudaria muito. Então é por isso que o portal foi colocado a público, para ajudar as investigações de todo país.”

Atualmente, Vytautas e Leonardo viajam algumas vezes ao mês a convite do Ministério Público, Polícia Federal, entre outros, para conversar sobre sua ferramenta e ensinar pessoas a usar sua plataforma.

Ele lembra que o BlockSherlock não é restrita a investigadores, mas para todos que querem conhecer o trabalho. Contudo, há uma área restrita que está disponível apenas para profissionais de investigação.

Crimes envolvendo criptomoedas estão aumentando

Vytautas Zumas declarou ser fundamental que gestores públicos de nível estadual e federal devem compreender os riscos dos crimes envolvendo criptomoedas, que estão aumentando.

O delegado lembra que em Goiás ele coordena um grupo de combate a Lavagem de Dinheiro, percebendo então que as criptomoedas ainda é são o “calcanhar de Aquiles” das investigações. Assim, lembra ser importante que a polícia brasileira deve tornar a investigação de criptomoedas institucional, e não apenas pessoal.

Desse modo, o delegado da PCGO cita que é necessário mais investimentos no setor, sendo a investigação de criptomoedas baseada em três pilares. Um deles é a capacitação do agente público, visto que a tecnologia não é simples e exige compromisso dos investigadores.

O segundo é a habilidade de trabalhar em fontes abertas, onde o BlockSherlock, sendo o terceiro o investimento em ferramentas comerciais que são caras, mas imprescindíveis para a repressão ao crime ser mais eficiente.

“Existem mais crimes com dinheiro nacional que com criptomoedas”

Com relação à criminalidade, Vytautas acredita que criminosos sempre vão tentar inovar em sua busca por obter vantagem sobre outras pessoas. Assim, mesmo que a criminalidade com criptomoedas esteja em alta, ela ainda é pequena em relação ao uso criminoso do Real, por exemplo.

“O criminoso aproveitará qualquer nova tecnologia para inovar. Se a gente pensasse que o criptoativo é ferramenta do mal, porque crimes são cometidos com a blockchain, teríamos que falar o mesmo dos aplicativos de mensageria. Mesma coisa do PIX, das redes sociais, que são com certeza mais utilizados pelo crime que o próprio criptoativo. Não tem uma delegacia que não recebeu uma ocorrência do Golpe do PIX, do perfil do WhatsApp, entre outros”.

O delegado também destacou que a engenharia social em crimes pela internet são velhos crimes em novas modalidades. As próprias pirâmides financeiras migraram suas narrativas, que antes eram de investimentos em bolsas estrangeiras, mas agora são em criptomoedas.

Ele destacou que com estudo, é possível entender as diferenças do uso criminoso da tecnologia daquilo que muda nossa vida para melhor, visto que a blockchain é disruptiva, segundo Vytautas.

“É impossível não se apaixonar pelo Bitcoin”

Questionado sobre como observa o uso das criptomoedas e Bitcoin como dinheiro, Vytautas Zumas disse que desde 2019 estuda apenas essa tecnologia. Atualmente ele faz um Mestrado em Blockchain e Digital Currency na Universidade de Nicósia, no Chipre.

Assim, disse que antes de julgar e investigar, ele buscou compreender a tecnologia e seus fundamentos. Disse também que tudo começou com o Bitcoin, e quando se estuda esse protocolo, “é impossível não se apaixonar“.

“Então não tem como depois que a gente estuda, a gente aprende sobre essa tecnologia, não há como negar que veio para ficar, ou melhor, já ficou. O céu é o limite, porque eu posso dizer com bastante segurança que as ideias já existiam e nunca haviam sido implementadas. A tecnologia blockchain permite a implementação de coisas que não existiam e isso é possível.”

Falando como servidor público, Vytautas acredita que é difícil para um governo dizer que o Bitcoin é uma moeda, um dinheiro. Ele lembra que em El Salvador o processo certamente foi mais fácil.

De qualquer forma, ele não sabe qual moeda digital substituirá o dinheiro, se é o Bitcoin, Ethereum ou Solana, mas a tecnologia blockchain deverá ser a base do dinheiro do futuro.

A tecnologia tem sido estudada até pelos bancos centrais, o que ele acredita ser uma tendência forte.

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Gustavo Bertolucci
Gustavo Bertoluccihttps://github.com/gusbertol
Graduado em Análise de Dados e BI, interessado em novas tecnologias, fintechs e criptomoedas. Autor no portal de notícias Livecoins desde 2018.

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