
Parlamentares escutam opinião de mais um operador em São Paulo (Reprodução)
A polêmica sobre o escaneamento de íris em São Paulo ganhou novos detalhes nesta terça-feira (4). Isso porque, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Íris, na Câmara Municipal, ouviu um representante de uma das empresas parceiras da Tools for Humanity (TFH), a gigante de tecnologia por trás do Projeto World ID e da Worldcoin.
O depoimento confirmou o modelo de negócios da TFH: o pagamento por serviços foi realizado na própria Worldcoin, a criptomoeda do projeto, e estava diretamente ligado à quantidade de pessoas escaneadas.
Jovaneis Oscalices Neto, representante da Ney Neto Produções Web3 e Eventos LTDA, compareceu à CPI e respondeu aos questionamentos dos vereadores. Ele confirmou que recebeu 268 mil Worldcoins em pagamentos pela montagem e administração de unidades de escaneamento na capital paulista.
“Eu tive uma boa compensação, infelizmente quando estamos expostos a criptoativos estamos sujeitos a volatilidade. Eu tive que liquidar uma boa parte em um momento em que não estava favorável, mas poderia ter tido um lucro maior“, disse Neto.
Considerando a cotação da Worldcoin (WLD) na quarta-feira (4), em R$ 3,74 por unidade, ele teria uma soma maior que R$ 1 milhão. Mas ao considerar que a criptomoeda ligada ao World ID perdeu cerca de 60% do seu valor no último ano, pode indicar que a empresa pagou milhões para operadores em São Paulo.
Jovaneis Neto detalhou o cronograma turbulento de suas operações. “A primeira loja que administrei foi inaugurada em novembro do ano passado, no Sacomã. Ela atuou até maio deste ano“, disse ele.
Em seguida, ele abriu uma unidade perto da estação do Jabaquara em fevereiro. No entanto, a operação enfrentou grandes obstáculos em sua visão. “Quase não funcionou porque logo no início das atividades começaram a surgir implicações da ANPD (Agência Nacional de Proteção de Dados).” O mesmo aconteceu com a unidade do Tatuapé, que “ficou aberta uns 3 meses e quase sem procura.”
O depoente explicou que a remuneração pela TFH era dupla. Uma parte cobria “despesas com equipe, aluguel do imóvel e reforma do espaço“. A parte mais relevante para a investigação era a remuneração dos operadores, visto que “os operadores recebiam uma quantia por pessoa verificada em cada uma das lojas. A soma delas é o que compunha o total a receber.”
Apesar dos problemas regulatórios, Jovaneis Neto defendeu a atuação da TFH, classificando-a como uma oportunidade de inclusão. Ele destacou que o treinamento dado aos operadores gera “uma nova profissão que surge a partir de novos problemas que a sociedade começa a enfrentar com as deep fakes e a internet que a gente vive hoje, na minha opinião insustentável e falida.”
Ele reforçou a necessidade de o poder público acompanhar a inovação. “No momento em que novas tecnologias são lançadas para combater problemas, passo a enxergar como oportunidade tanto de educação, quanto de inclusão produtiva e criação de políticas públicas para regular o trabalho. A regulação deveria andar ao passo que a tecnologia avança.”
Após o depoimento, a presidente da CPI da Íris, a vereadora Janaina Paschoal (PP), reforçou o entendimento sobre a atuação da empresa em São Paulo. “A testemunha de hoje confirmou o fato da empresa pagar para contratados com fulcro no número de pessoas que tiveram a íris escaneada,” declarou Paschoal.
A vereadora concluiu que o volume de escaneamentos faz a diferença para a TFH. “O que significa que essa amostragem, banco de dados, universo de pessoas escaneadas faz diferença para a Tools for Humanity. O produto fica mais valioso conforme a quantidade de pessoas que participaram do modelo e isso não foi aberto em momento algum para o público“.
Veja a sessão completa no YouTube da Câmara Municipal de São Paulo a seguir.
Comentários